O circo e as redes sociais

Minha reação ao receber um convite para ir ao circo foi pensar na existência do circo. Os outdoors na rua estavam lá indicando, na sequência, que o circo está na cidade, mas poucos veem porque, estando no carro, quem está dirigindo nem presta atenção direito e quem está de carona geralmente está com a cabeça para baixo vendo qualquer coisa no celular.

“Vamos, uai”, respondi.

À noite, o circo brilha, mostra suas luzes todas e ganha vida. Usa aquele espetáculo de cores como um alarme pedindo encarecidamente para que, de última hora, os vários alguéns se compadeçam e larguem aquele maldito aparelho que nos prende a um mundo digital por alguns minutos que sejam. Durante a semana, a missão falha miseravelmente: o circo está longe de lotar.

Até pode ser pelos preços, que, começando a cinquenta lulas por pessoa, mesmo sendo metade para crianças, pesa. Porque tem o algodão-doce, a pipoca, o refrigerante e o crepe que acabam entrando na balança e são salgados como um todo. Mas a disposição da plateia em torno do palco mostra que poucos se entregam com suas famílias nos setores mais caros, deixando à mostra as várias cadeiras simples e pouco confortáveis.

O espetáculo começa com sete meninas em uma coreografia que precisa de um ajuste final, depois traz o palhaço que tem a função de ser palhaço em vários momentos, chamando o público ao palco, pedindo palmas, pedindo mais palmas, pedindo muito mais palmas, aí, satisfeito com as palmas, joga água em alguns e pipoca na cara de outros, depois vem a moça fazendo malabarismos com o tecido, subindo nele como em um pole dance frenético, aí vem o casal que vai trocando de roupa e confundindo a cabeça sobre como aquilo é feito sem que ninguém perceba, o palhaço volta e bota medo no público que teme em não ser chamado para participar das palhaçadas, depois vem o ato da moça que é cortada ao meio e de repente aparece na ponta do palco, o locutor pede o intervalo, as pessoas buscam ali uma água ou vão ao banheiro que remete ao de um aeroporto, as pessoas voltam, o espetáculo é retomado lá em cima, com moças e rapazes se deslocando pelos trapézios, depois vem o globo da morte com quatro motos que, pelo momento da vida, me remeteu ao Rali Dakar, e o palhaço volta para fazer malabarismo com três chapéus, chamar seus demais colegas e dar adeus ao respeitável público.

Foram 80 minutos de nossas vidas entregues a um divertimento que está lá há 175 anos, e a mente vai longe, compondo a timeline deste tempo, pensando em um mundo lá do século XIX mais purista, avançando aos últimos anos, de pandemia aos momentos atuais, de pensar em como esta gente sobreviveu e que precisa mesmo, quase em tom de piedade e dor, que o povo assimile que o circo abre suas portas e emprega profissionais dedicados por horas àquilo, e por aí se entende por que, na entrada, a pessoa pergunta como se soube da existência do circo, e sorri quando vê que alguém viu aqueles outdoors, e indiretamente convida a sair do mundo nefasto em que nos acostumamos a viver em torno destas redes sociais que, sem nenhum pudor, abriram a caixa de pandora da discriminação e da mentira e nos desafiam a participar deste jogo ‘Round 6’ que vai nos matando aos poucos.

É estranho ver que o comportamento geral de adultos que lá estão é de se permitir ir, de peito aberto, para simplesmente gostar do circo. Como se a alegria da nossa vida estivesse concentrada nas nossas mãos através de um aparelho que a cada dois anos precisa ser trocado para nos dar mais alegria, sendo que os aplicativos que ali estão nos transmitem raiva, desgosto e desilusão. Há muitas coisas que o circo precisa melhorar para se adaptar a estes tempos, mas a função básica dele, a de entreter, está ali. O circo cumpre.

Pois eu agora convido: vá ao circo. Troquemos as redes sociais pelo circo. Encarecidamente. Não sejamos nós os palhaços neste globo da morte dos tempos atuais.

Crônica que abre a coluna 6ª Marcha, que será publicada às sextas-feiras

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O que rola por trás do caso dos pneus da Stock Car?

Foi em 22 de outubro que o caso de adulteração dos pneus da Hankook por um processo de ‘vulcanização’ veio à tona oficialmente pela CBA. Em comunicado assinado pelo presidente da entidade, Giovanni Guerra, e pelo presidente do CTDN, Fabio Greco, a confederação revelava “a retenção de alguns poucos pneus” de “alguns carros [que] poderiam ter utilizado pneus de chuva quimicamente retrabalhados com o objetivo de obter melhor performance”, sem contar quem cometeu o pecado “para preservar pilotos e equipes envolvidos, evitando exposição prematura”.

Já era de conhecimento público que as equipes Crown Racing e TMG alteraram a composição dos compostos para ganhar mais aderência, primeiro aquecendo e depois resfriando em água, fazendo com que os pilotos Felipe Baptista, Felipe Massa, Rafael Suzuki e Enzo Elias pudessem andar muito mais rápido que os rivais. A descoberta se deu na etapa do Velopark, no Rio Grande do Sul, a oitava do campeonato 2024.

Os pneus foram enviados à sede da fornecedora coreana em Seul para uma investigação. Um laudo sairia até o dia 31 daquele mês. Ainda no comunicado, a CBA prometeu tomar “as atitudes cabíveis, incluindo aplicação de eventuais penalidades, caso o laudo do fabricante venha a corroborar as suspeitas” e que “até lá [dia 31], nenhuma informação por parte da CBA será divulgada”.

Outubro acabou e novembro chegou em meio ao GP de São Paulo de Fórmula 1. O silêncio sobre o caso foi providencial, ainda mais quando o GRANDE PRÊMIO noticiou a negociação de Gabriel Bortoleto com a Sauber Audi. Bortoleto é filho de Lincoln Oliveira, presidente e CEO da Vicar, a organizadora da Stock Car.

Só em 5 de novembro soube-se da comprovação da adulteração dos pneus – não por parte nem de CBA nem de Vicar/Stock Car. O que seria um caso evidente para eliminação do campeonato virou apenas uma punição relativa à etapa, com os quatro pilotos sendo desclassificados. A classificação do campeonato mudaria sensivelmente, sendo que o então líder Massa e o terceiro colocado Baptista perderiam posições na tabela, que passou a ter Gabriel Casagrande como líder.

Apenas 12 dias depois, em 17 de novembro, a categoria promoveu a alteração na classificação, informando apenas pelas redes sociais.

A Stock Car avançou algumas semanas até chegar a Goiânia. Na quinta-feira anterior à corrida, o STJD (Supremo Tribunal de Justiça Desportiva) reverteu as desclassificações dos quatro pilotos e devolveu o resultado da etapa do Velopark, o que recolocava Massa em primeiro. O fato teria uma implicação direta na aplicação do infame lastro do sucesso, já que o líder da competição tem obrigatoriamente de levar 30 kg no carro. Só que a decisão do STJD não foi aplicada em pista, e quem correu com o peso foi Casagrande.

Após a etapa goiana, Casagrande ainda era o ponteiro. Na terça, sem aviso prévio, a Stock Car mudou a classificação de novo validando os resultados do Velopark. Agora, Baptista é quem surgia na frente.

Tem uma final chegando no próximo fim de semana. Eis que entre os dias 10 e 11 deste dezembro, o Pleno do STJD devolveu à primeira instância o caso, ou seja, os pilotos Crown e TMG estão novamente desclassificados. Como capítulo delicioso de Várzea sobre Rodas, o campeonato está sub judice.

Importante ressaltar estes pontos igualmente deliciosos: no site da Stock Car, não há qualquer registro na área de ‘novidades’ – excêntrico nome para as notícias – em nenhum momento; no site da CBA, não houve qualquer nota sobre o caso após o comunicado de 22 de outubro. Parece que uma está jogando para a outra a responsabilidade.

Mas, na verdade, parece conveniente às duas instituições, deliciosamente, que o caso seja abafado. Seguem três informações que apontam este caminho.

O CTDN até insistiu e lutou para dar a seriedade evidente à história, mas consta que, após uma deliciosa solicitação não muito polida, foi desencorajado a seguir em frente pela própria CBA. E as consequências podem ser vistas em breve, talvez daqui alguns meses, no comando do conselho.

Como pode ser visto em breve se a CBA vai fechar patrocínio com uma vibrante empresa que patrocina um dos quatro pilotos envolvidos no caso…  

Ali do outro lado, o de quem provocou isso tudo, há suspeitas de que uma das equipes envolvidas que tem ramificação em outras categorias chanceladas pela Vicar usa de práticas similares para ganhar vantagem em pista…

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Por que Julianelli vai sair da Stock Car

O anúncio da saída de Fernando Julianelli do cargo de diretor executivo da Stock Car veio no formato de comunicado de imprensa com a comum informação de que ambas as partes optaram pela descontinuidade. Com o adendo de que Lincoln Oliveira, o presidente da Vicar, será interino, fica difícil crer que o caso tenha sido normal ou que tenha sido pensado ou preparado há algum tempo.

O pai de Gabriel e Enzo Bortoleto vinha querendo implantar uma nova gestão de empresa que não era de agrado de Julianelli. A avaliação da cúpula é que falta velocidade na administração atual, que dura até o fim desta temporada.

Não caiu muito bem na direção da Vicar o fato de Julianelli não ter concretizado o projeto de quatro montadoras e a falta de um pacote agressivo de marketing que convencesse a adesão de uma outra marca no ano que vem. Além de Chevrolet e Toyota, a Stock Car vai ganhar no ano que vem a bolha SUV da Mitsubishi – onde Fernando trabalhou.

Há um descontentamento no tratamento que a nova Stock está recebendo por parte do ainda CEO. Internamente, estava sendo encarada apenas como troca de carro e não como uma espécie de “revolução”.

Fala-se aqui e ali que o carro novo está atrasado e pode estrear apenas em meados de 2025. Mas isso não é culpa de Julianelli, afinal a KTF, de Enzo, é quem tomou as rédeas da preparação dos modelos atualizados.

Aliás, a Stock Car anda tendo de resolver muitos problemas de bastidores. Há uma impressão geral de que algumas equipes (leia-se patrocinadores) têm sido beneficiadas. Curiosamente, a história de dois times que atuam juntos e que, diz-se, usaram de um estranho método para deixá-los mais macios e levar vantagem tanto em pista seca quanto molhada foi parar lá na sede da Hankook. Os pneus foram enviados à Coreia do Sul para análise. Um laudo é aguardado para confirmar se de fato houve adulteração. Tem líder do campeonato que pode ser diretamente afetado.

Todo mundo consultado – categoria, fornecedora e confederação – preferiu o silêncio. O chefe de equipe envolvido ignorou.

De qualquer forma, a saída de Julianelli não parece a única da Stock Car. Espera-se para os próximos dias a confirmação de outra – de quem está ali há mais de um par de décadas e vai provocar um abalo no grid.

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Ben Sulayem, o covarde

Já tem um tempo que queria colocar em palavras o que sinto a respeito de Mohammed ben Sulayem.

Não são necessárias muitas linhas para aquele que defino como o Rolando Lero do esporte: finge que entende do que está falando, mostra-se íntimo dos ‘mestres’ e, mesmo quando tentam lhe ajudar, solta uma patacoada.

Foi assim com o caso dos brincos e joias que tinha como objetivo claro atingir Lewis Hamilton, foi assim com a garantia absurda de manutenção daquele GP da Árabia Saudita em meio a bombas, foi assim quando a entidade soltou o calendário da Fórmula 1 à revelia da categoria e das equipes, também foi quando resolveu fazer troça de Christian Horner em plena premiação da FIA, a entidade que preside, e também foi assim quando resolveu dizer que o preço da Fórmula 1 é inflacionado, até se achar o rei demais e tentar implantar uma censura aos pilotos da F1.

Ben Sulayem é de um mundo nada afeito às bases democráticas. Seu modo de governar, pois, é ditatorial. Mas dentre a esfera de ditadores, Ben Sulayem é, por assim dizer, de uma ala bolsonarista, de inteligência mínima, bem xucra. Bem Sulayem é um xucro rico. Um xucro rico que achou legal e bacaninha, talvez para dizer aos amigos de carteado ou narguilé, o popular nargas, que seria legal brincar de guerra contra a Fórmula 1.

Pois neste 8 de fevereiro, depois de tudo isso, anunciou que não quer mais brincar na guerra que quis construir: não será mais o homem que vai lidar diretamente com a Fórmula 1, deixando no front Nikolas Tombazis.

Covardes agem dessa maneira: incitam e depois recuam. Depois vai alegar que jamais cometeu qualquer ato ilícito ou que prejudicasse a Fórmula 1, depois vai dizer que jamais quis impor uma mordaça, depois vai jogar a culpa na cúpula da Fórmula 1 – que tem, sim, suas mãos nisso tudo –, depois vai fazer de tudo para se manter no poder da FIA e ficar mais quatro anos na entidade. E o que fez Ben Sulayem como comandante da entidade máxima do automóvel e do automobilismo? Nada.

Entendem como funciona o negócio que a gente… bem entende?

Ben Sulayem é um covarde que, se não for rifado logo, vai procurar após o fim de seu mandato uma Flórida no Oriente Médio para se esconder.

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O futuro de Drugovich

Ganassi ofereceu algo a Felipe Drugovich? Seria impossível no momento

O jornalista sueco Jeroen Demmendaal soltou no Twitter uma informação de que Felipe Drugovich rejeitou uma proposta de vários anos para correr na Ganassi na Indy. Ele mesmo se pergunta no fim da mensagem: sendo verdade, por que faria isso se não for por já ter um acordo na Fórmula 1?

De fato, uma situação desta só leva a crer que Drugovich tem algo engatado para estar na F1, mesmo que seja como reserva. Não se diz não, em condições normais de sanidade, a uma proposta da Ganassi. A não ser que o rapaz não queira correr na Indy.

Mas é difícil, quase impossível, que a Ganassi tenha feito realmente uma proposta – considerando, claro, que seja para o lugar de Álex Palou no carro 10. Por contrato, a equipe não pode conversar com ninguém, do contrário o time jurídico do espanhol pode usar isso na pendenga processual que já corre nos EUA.

Considerando o desfecho favorável que teve na Fórmula 1, a McLaren deve saber o que está fazendo na Indy e reter os serviços de Palou para 2023. A Ganassi vai ter de procurar alguém. Se quer Drugovich mesmo, ou faz uma consulta informal ou torce para que o resultado da ação saia antes de o piloto fazer qualquer assinatura – diz o jornalista Joe Saward que deve ser na Aston Martin como reserva.

O que, sendo bem sincero, é meramente um papel decorativo.

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Mal Sulayen

Ben Sulayen é daquele time de que não se deve politizar o esporte, certamente repreendido por Ícaro Silva e Jorge Valdivia, que sempre estiveram certos. Um completo desperdício enquanto pessoa e mostra que compete no Mundial da Cretinice, um fenômeno totalmente globalizado e conectado

Disse o mais recém-empossado presidente da FIA, em entrevista ao GrandPrix.com:

“Niki Lauda e Alain Prost só se preocupavam em guiar. Agora, Vettel pedala numa bicicleta de arco-íris, Lewis é apaixonado pela questão dos direitos humanos e Norris fala de saúde mental. Todo mundo tem o direito de pensar. Para mim, é uma questão de se devemos impor o tempo todo nossas crenças em algo além do esporte”.

Primeiro, volto no tempo, mês atrás, para a questão da preocupação do sujeito com os adereços de Hamilton. O indivíduo aí falou do assunto em frase complementar à dita cima para falar de seus valores, por assim dizer.

“Mas eu imponho minhas crenças? Não. As regras existem e, ainda hoje, estão lá até para questão como, por exemplo, joias. Eu não escrevi nada disso.”

À época da questão, parecia a mim uma clara birra ao estilo de Hamilton; agora, tenho certeza: sim, o negócio das joias, regra estipulada há mais de 13 anos no regulamento esportivo e que nunca foi motivo de qualquer preocupação da entidade, é contra Hamilton. Porque o tal dirigente é preto no branco.

Ou só branco. Nenhuma outra cor. Se tiver sete cores, o consagrado passa longe. No arco-íris dele só importa chegar ao fim para encontrar pote com o que julga valer. É alguém com uma cabeça perturbada, nota-se, mas se alguém fala de cabeça perturbada, o espelho quebra.

O tal comandante da principal entidade do automóvel e do automobilismo é deste tipo de gente que reflete o retrato de muitos – aqui, seria eleito em outros tempos – e que, ainda bem, está do outro lado do meu muro. Vettel pedala numa bicicleta de arco-íris porque milhões de pessoas no mundo são atacadas por sua questão sexual, sobretudo na nação onde o tal lamentavelmente nasceu; Lewis é apaixonado pela questão dos direitos humanos, e novamente evoco os Emirados Árabes e seu potencial destrutivo com relação a mulheres, LGBTQIA+ e outras minorias; Norris fala de saúde mental porque é uma realidade com a qual bilhões convivem, as pressões, os medos, os anseios e as ansiedades, os distúrbios e as ameaças de acabar com tudo a qualquer momento, e os esportistas estão inseridos nisso.

Mohammed é o retrato do empreendedor obcecado e fechado em si mesmo e nos seus negócios, e quando fala em não expor suas crenças, acaba expondo… suas crenças. É daquele time de que não se deve politizar o esporte, apoiado por gentes certamente repreendidas por Ícaro Silva e Jorge Valdivia, que sempre estiveram certos. Ben Sulayen é um desperdício enquanto pessoa, e sua competição se concentra no Mundial da Cretinice, um fenômeno totalmente globalizado e conectado de várias etapas no ano.

O que Ben Sulayen não deve ter pensado é que, no momento em que ele largar o cargo da FIA, ele vai voltar a ser o que foi, um Al-Zé-Ninguém, enquanto Vettel, Hamilton, Norris e as questões apontadas por eles ali estarão presentes e cada vez mais importantes para nossa atenção e discussão.

Ben Sulayen é um completo mal.

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Pérez e Red Bull: o que significa a renovação

Pérez daria a vitória se Verstappen estivesse em segundo em Mônaco? Pérez vai se contentar em ser segundão sabendo que ninguém no grid faz o que ele faz na Red Bull? E Pierre Gasly?

Então a língua solta de Sergio Pérez depois da vitória em Mônaco realmente revelou a verdade: a renovação com a Red Bull.

São mais dois anos, pelo menos, do mexicano na equipe dos energéticos.

Provavelmente o acordo já estava assinado antes do triunfo em Monte Carlo, que trouxe o momento certo para o anúncio em si – além, claro, do que já parecia óbvio pelas palavras de Pérez.

Há alguns pontos importantes neste cenário: o teatro feito em Barcelona quando reclamou que teria de dar a primeira posição para Max Verstappen reforça seu papel na equipe, que é o de ajudar o companheiro a ser campeão. Antes do GP de Mônaco, Christian Horner já indicava que receberia algumas críticas após a corrida, provavelmente pensando que, sendo terceiro como foi no grid, Pérez abriria espaço para Verstappen chegar no pódio. Lamentavelmente não vimos esta situação com Pérez em primeiro e Verstappen logo atrás. Sergio realmente daria a vitória ao parceiro?

Porque, no fim das contas, Pérez não pode ser, neste momento, descartado da briga pelo título – ainda que seja difícil apostar que mantenha o ritmo de Verstappen e Leclerc. Mas se tivesse vencido na Espanha, por exemplo, Verstappen teria 118, Pérez iria a 117 e Leclerc manteria os 116. Sergio realmente vai aceitar o papel de segundão ou vai evocar seu espírito de anos e anos de conflitos dentro da equipe, vide McLaren e Force India/Racing Point?

Tem o seguinte: a Red Bull finalmente achou um segundo piloto que faça jus à qualidade de seus carros. Se Pérez bater o pé lá dentro, Christian Horner vai mandá-lo embora e pegar quem, considerando que só o mexicano se adaptou ao seu modus operandi? Pérez tem faca, queijo e tequila nas mãos.

Outra coisa óbvia: a não ser que queira sofrer mais na AlphaTauri, a renovação de Pérez decreta o fim da passagem de Pierre Gasly pela Red Bull. E isso abre o caminho para que negocie com a McLaren, que está sedenta para ter um segundo piloto de fato. Porque é inconcebível ver Daniel Ricciardo andando mais lento que as Williams em Mônaco…

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O que será da McLaren?

Então tem o seguinte: O’Ward como bola da vez lutando pelo título da Indy querendo a Fórmula 1. Herta como piloto afiliado para andar na Fórmula 1. Ricciardo em uma draga difícil de se recuperar na Fórmula 1. Rosenqvist sem evoluir na Indy. Rossi chegando no grupo

Maio vai chegando ao fim, e a McLaren é a bola da vez no automobilismo.

Porque há uma série de coisas que Zak Brown, CEO da equipe, já deve estar considerando ou até mesmo ter tomado uma decisão sobre o elenco que vai ter em suas várias ramificações no esporte.

O GP da Espanha provavelmente foi um alerta imenso para o dirigente. Porque Daniel Ricciardo simplesmente saiu da zona de pontos logo depois da largada, em nono, e jamais se mostrou apto a se recuperar na corrida, ao passo que o companheiro Lando Norris, com amidalite, sinusite, possivelmente frieira e afta, chegou na nona colocação. Não à toa, Brown mostrou profundo desgosto com o desempenho do australiano.

A bem da verdade, tirando a vitória naquele GP da Itália de 2021, Ricciardo mal lembra os tempos em que era bom piloto. O ponto aqui é que Daniel é caríssimo. E, suponho, no contrato que assinou, há cláusulas de desempenho que permitiriam a Brown chutar-lhe os sorridentes fundilhos sem grandes remorsos.

Lá do lado da América, Brown também sofreu para acalmar os ânimos de Pato O’Ward quando este soube que Colton Herta havia assinado para andar em alguns treinos com o carro da Fórmula 1. A reação do mexicano foi absolutamente natural para quem era a joia da equipe, havia andado no teste de Abu Dhabi no fim do ano passado e vinha demonstrando claramente que sua intenção era correr na principal categoria do mundo. Os resultados das primeiras provas na temporada da Indy refletiram o muxoxo do rapaz. Até que venceu o GP do Alabama: minutos depois, foi claro e explicitou que havia uma “guerra interna”.

O’Ward é a alma da McLaren na Indy. Herta, da Andretti, é tão bom ou até mais piloto que ele – vide o drift que fez na corrida que venceu no misto de Indianápolis. Um ou outro, Brown tem joias à disposição – em tempos em que a FIA tenta evitá-las…

O outro piloto da operação na Indy é Felix Rosenqvist. Tal qual Ricciardo, não vai. Não adianta. Se a McLaren quer ser grande no campeonato americano, sabe que precisa se reforçar tal qual a Ganassi tem Scott Dixon e Álex Palou e a Penske, Josef Newgarden, Scott McLaughlin e, tem-se de admitir, Will Power – que vem muito bem na temporada, sempre no top-5. Dias atrás, Alexander Rossi disse ter um contrato assinado para 2023, mas que não podia ainda revelar por questões contratuais. Ora, se fosse a permanência na Andretti, isso não seria um problema. Assim, é de se supor que Rossi seja o novo piloto da McLaren para o ano que vem, seja no lugar de Rosenqvist ou de um terceiro carro papaia.

Rossi é a melhor opção do mundo? Não. Sua carreira é curiosa: ele foi melhor logo de cara na Indy do que é hoje. Ganhou a Indy 500 de 2016 e, de lá pra cá, despencou. Não vence uma prova há três anos. Também não é lá o cara mais simpático do mundo, sendo, por assim dizer, o oposto de Ricciardo. Mas não é uma pleura. É melhor que Rosenqvist.

Juntando tudo isso, a McLaren há de assumir a operação da Mercedes na Fórmula E a partir da próxima temporada.

Então tem o seguinte: O’Ward como bola da vez lutando pelo título da Indy querendo a Fórmula 1. Herta como piloto afiliado para andar na Fórmula 1. Ricciardo em uma draga difícil de se recuperar na Fórmula 1. Rosenqvist sem evoluir na Indy. Rossi chegando no grupo.

Ricciardo vai ter de se coçar até um determinado momento. O número de contras é bem maior que o de prós. A insatisfação clara de Brown aponta que não fica. O’Ward tem mais algumas provas na temporada, incluindo a Indy 500 do domingo que vem, para dar o cartão de visitas: ou vence a corrida e/ou o campeonato. Hoje, Ricciardo ou O’Ward? Iria, sem dúvida, no segundo. Se der Herta na Indy 500 e/ou no campeonato? Herta, igualmente sem dúvida. Em qualquer cenário, Brown deveria considerar Ricciardo na Indy. Ou na Fórmula E. Mas duvido que Daniel tenha alguma vontade de pular para os carros elétricos, até mesmo pelas coisas que deve ter ouvido do amigo Felipe Massa sobre a categoria. Que Brown mande Rosenqvist de volta pra lá – se, claro, quiser manter o sueco sob seu guarda-chuva, o que não acho provável.

Não deve demorar muito para Brown ter isso às claras. A não ser que, olhando ali na Fórmula 1 em si, observe que há um pilotaço dando sopa, naturalmente frustrado e escanteado, consciente de que não vai subir de volta para a Red Bull e que na AlphaTauri a desgraça é forma de vida: Pierre Gasly.

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Vão-se os anéis

Enquanto a FIA de Mohammed bem Sulayem não apresentar um documento claro explicando os motivos da 'regra dos anéis', a briga parece banal e focada, como Sebastian Vettel disse, a atingir Lewis Hamilton

No Paddock GP desta semana, abri o programa com um editorial sobre a decisão da FIA em reforçar seus gloriosos padrões de segurança através de uma determinação que existe desde 2005 sobre o uso de anéis, relógios, alegorias e adereços. Não me parece que a douta entidade tenha qualquer preocupação com o assunto vide dois episódios recentes. Lembra muito um país fictício onde, sei lá, a fome volta a existir com força e o governo esteja, por exemplo, preocupação em transformar as palavras bíblicas em salmos pétreos.

Enquanto a federação agora presidida pelo tal Mohammed bem Sulayem não apresentar um documento claro explicando os motivos, a briga parece banal e focada, como Sebastian Vettel disse, a atingir Lewis Hamilton.

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O ódio a Hamilton

É curioso verificar como essa gente espera um momento em que o maior piloto da história da Fórmula 1 não vence ou não chega à frente do seu companheiro para destilar um ranço que precede um ódio travestido

O Paddock GP desta semana começou com um editorial meu a respeito das críticas que estão sendo feitas a Lewis Hamilton, seja de comentaristas-pilotos ou do público. É curioso verificar como essa gente espera um momento em que o maior piloto da história da Fórmula 1 não vence ou não chega à frente do seu companheiro para destilar um ranço que precede um ódio travestido sem uma análise sequer embasada.

Não chega a ser curioso, pois, entender os motivos das críticas.

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