Mal Sulayen

Ben Sulayen é daquele time de que não se deve politizar o esporte, certamente repreendido por Ícaro Silva e Jorge Valdivia, que sempre estiveram certos. Um completo desperdício enquanto pessoa e mostra que compete no Mundial da Cretinice, um fenômeno totalmente globalizado e conectado

Disse o mais recém-empossado presidente da FIA, em entrevista ao GrandPrix.com:

“Niki Lauda e Alain Prost só se preocupavam em guiar. Agora, Vettel pedala numa bicicleta de arco-íris, Lewis é apaixonado pela questão dos direitos humanos e Norris fala de saúde mental. Todo mundo tem o direito de pensar. Para mim, é uma questão de se devemos impor o tempo todo nossas crenças em algo além do esporte”.

Primeiro, volto no tempo, mês atrás, para a questão da preocupação do sujeito com os adereços de Hamilton. O indivíduo aí falou do assunto em frase complementar à dita cima para falar de seus valores, por assim dizer.

“Mas eu imponho minhas crenças? Não. As regras existem e, ainda hoje, estão lá até para questão como, por exemplo, joias. Eu não escrevi nada disso.”

À época da questão, parecia a mim uma clara birra ao estilo de Hamilton; agora, tenho certeza: sim, o negócio das joias, regra estipulada há mais de 13 anos no regulamento esportivo e que nunca foi motivo de qualquer preocupação da entidade, é contra Hamilton. Porque o tal dirigente é preto no branco.

Ou só branco. Nenhuma outra cor. Se tiver sete cores, o consagrado passa longe. No arco-íris dele só importa chegar ao fim para encontrar pote com o que julga valer. É alguém com uma cabeça perturbada, nota-se, mas se alguém fala de cabeça perturbada, o espelho quebra.

O tal comandante da principal entidade do automóvel e do automobilismo é deste tipo de gente que reflete o retrato de muitos – aqui, seria eleito em outros tempos – e que, ainda bem, está do outro lado do meu muro. Vettel pedala numa bicicleta de arco-íris porque milhões de pessoas no mundo são atacadas por sua questão sexual, sobretudo na nação onde o tal lamentavelmente nasceu; Lewis é apaixonado pela questão dos direitos humanos, e novamente evoco os Emirados Árabes e seu potencial destrutivo com relação a mulheres, LGBTQIA+ e outras minorias; Norris fala de saúde mental porque é uma realidade com a qual bilhões convivem, as pressões, os medos, os anseios e as ansiedades, os distúrbios e as ameaças de acabar com tudo a qualquer momento, e os esportistas estão inseridos nisso.

Mohammed é o retrato do empreendedor obcecado e fechado em si mesmo e nos seus negócios, e quando fala em não expor suas crenças, acaba expondo… suas crenças. É daquele time de que não se deve politizar o esporte, apoiado por gentes certamente repreendidas por Ícaro Silva e Jorge Valdivia, que sempre estiveram certos. Ben Sulayen é um desperdício enquanto pessoa, e sua competição se concentra no Mundial da Cretinice, um fenômeno totalmente globalizado e conectado de várias etapas no ano.

O que Ben Sulayen não deve ter pensado é que, no momento em que ele largar o cargo da FIA, ele vai voltar a ser o que foi, um Al-Zé-Ninguém, enquanto Vettel, Hamilton, Norris e as questões apontadas por eles ali estarão presentes e cada vez mais importantes para nossa atenção e discussão.

Ben Sulayen é um completo mal.

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