Magnussen entra, Fittipaldi fica sem nada

Haas escolhe Magnussen no lugar de Fittipaldi. E ficam as questões: o Brasil nunca mais vai ter um piloto na F1? O que Pietro ainda quer lá na categoria?

A escolha está feita: Kevin Magnussen é o substituto de Nikita Mazepin na Haas. O dinamarquês, aliás, volta à F1 no lugar que deixou. Nas últimas horas, correu por fora para ultrapassar Nico Hülkenberg e Antonio Giovinazzi.

Por Pietro Fittipaldi, Magnussen passou a galope.

Magnussen deixa seus compromissos com a Ganassi e a Peugeot no endurance para retornar à categoria que havia esnobado depois que saiu. Kevin disse que só voltaria se fosse uma equipe de ponta.

Dentre dos nomes que tinham, de fato, alguma chance, Magnussen é a escolha correta. Kevin conhece o modus operandi sobretudo de Guenther Steiner e pegou os bons e os maus (péssimos) momentos da Haas na F1. Não sei exatamente que dinheiro levaria Hülkenberg, mas, em termos de capacidade, seria o melhor dos três; Giovinazzi não mostrou a que veio na F1 e só teria, a seu favor, a barganha de ser piloto Ferrari e de fazer com que a escuderia não pagasse pelos motores.

É de se esperar que a opção por Magnussen tenha um viés financeiro: Jack & Jones e outras apoiadoras danesas devem pintar neste carro – aliás, se pintarem este carro com a bandeira dinamarquesa, digo desde já que sou haazeiro, com muito orgulho, com muito amor.

Mas analisando o caso sobre o prisma Haas-Fittipaldi, a questão é mais profunda.

Gene Haas foi claro ao dizer que “Pietro é nosso piloto reserva”. Aqui temos um ponto-chave: Fittipaldi sempre será reserva ou passará a ser considerado como titular se as cifras forem atraentes? Porque é um desgaste desnecessário: o piloto está ali, no banco, esperando uma oportunidade, a oportunidade aparece, o chefe da equipe até acena para ele e pede para aquecer, e ali no aquecimento, o dono da equipe faz sinal para o chefe pedindo para que o piloto volte ao banco.

E a partir daqui, há dois caminhos. O primeiro é sobre a presença de um brasileiro na F1. Se há esta dependência imensa de um país e suas empresas bancarem a farra de correr de carros, creio que o Brasil vai demorar um tempo até ver qualquer piloto na principal categoria do mundo. Na análise de qualquer companhia que recebe os Fittipaldi ou quem quer que seja, o dinheiro que se gasta em F1 é muito maior, por exemplo, que no futebol. Se o palmeirense Fittipaldi bate à porta da tia Leila Pereira pedindo que a Crefisa o patrocine, por exemplo, a resposta é essa. Com uma economia em frangalhos e um governo horroroso como este, é fácil perder para China (Ghanyu Zhou), Rússia (Nikita Mazepin) ou Dinamarca. Ainda há de perder para Israel (Roy Nissany) ou Indonésia (Sean Gelael).

O segundo é sobre Fittipaldi em si. O rapaz é simpático, teve oportunidades em várias categorias, aproveitou o que pôde dentro de sua perspectiva financeira, dividiu-se em várias frentes ao mesmo tempo – e creio que tenha se perdido um pouco nisso naquela época -, mas a partir do momento em que foi elevado à F1 pelas mãos da Haas, lá ficou e há de ficar claramente sem nada. Sua carreira acaba estacionada. Fica como um Roberto Moreno, um ‘Super Sub’, que só entra quando a porca da Haas espana. O sobrenome do avô não lhe ajuda, no fim das contas, porque até mesmo o avô não ajuda em si – tem outras prioridades familiares, por assim dizer. Só que momentos como este trazem uma angústia e uma expectativa que afetam demais o psicológico, ainda que não pareça, e trazem uma pressão da qual, no fim das contas, é vítima.

Seria bom que Pietro e sua família usassem a dor de passar mais uma vez por esta situação, sentissem profundamente outra chance se esvair e procurassem um outro rumo. O rapaz, ao fim e ao cabo, só vai ficar com meia tarde na pré-temporada no Bahrein. É só. Com a confirmação de tudo isso, é tomar aquele H2Odio com PuCl (Cloreto de Putássio), mandar Gene e Guenther caçar sapo cururu em Kannapolis e ver outras opções na carreira. Tem a própria vaga de Magnussen dando sopa. Liga para Chip Ganassi, desabafa, vê se rola e, se abrir a porta, vai. Só vai.

A Fórmula 1, hoje, é aos Fittipaldi que ali militam uma perda de tempo e um fardo que talvez não lhes caiba mais.

Comentários