Chocante!

Fórmula E deveria se assumir como um entretenimento e criar prova do pole, castigo do monstro e eliminação de piloto por etapa

A Fórmula E chegou em uma fase da vida em que precisou se reinventar. Apesar de contar com o interesse de grandes montadoras e a presença de patrocinadores mundialmente importantes, a categoria ainda patina para gerar interesse esportivo. Como na Fórmula 1, também um holandês foi campeão no ano passado, Nyck de Vries, mas mais se falou dele na tentativa de ir para a principal categoria do mundo, provavelmente para a Alfa Romeo, do que seu título em si.

Muito de a Fórmula E não ter a audiência que já gostaria se deve justamente pelo que acontece nas pistas. Primeiro, estas: não parecem aptas a receber corridas. Travados e estreitos, os circuitos acabaram gerando acidentes e situações que levam a uma série de punições depois das bandeiradas. Como na maior parte do tempo as corridas são só aos sábados, transformam o dia em um fardo eterno que parece nunca acabar. E tem muitas das vezes o dedo da direção de prova e do formato em si, 45 minutos mais uma volta. Às vezes, os carros não chegam até o fim por acabar a bateria. António Félix da Costa perdeu uma corrida assim no ano passado. Pega mal.

Para este ano, quiseram chacoalhar com o formato de classificação para deixar para trás o estranho formato da divisão de 4 grupos de 5 pilotos em que os melhores no campeonato começavam o treino justamente quando a pista não estava mais emborrachada, o que lhes dava em tese uma desvantagem. Assim, Alejandro Agag e seu time olharam para o futebol e importaram uma decisão em mata-mata: 2 grupos de 10 pilotos, 10 minutos para cada, número de voltas liberado. Os 4 primeiros passavam à próxima fase, formam a chave e fazem duelos: 1º enfrenta o 4º, 2º pega o 3º, os vencedores fazem a final da chave e o vencedor da chave 1 pega o da 2 para decidir quem é o pole.

A temporada começou neste fim de semana em Diriyah, na Arábia Saudita, com rodada dupla. Após acompanhar o esquema novo da classificação, dá para dizer ao menos que é interessante e melhor que o anterior. O que se faz necessário é um aprimoramento de transmissão, levemente perdido sobretudo quando os dois carros são colocados na tela para ver quem é o pole. Há uma diferença de ambos de 10 s entre os dois em pista, de modo que, ao pôr os dois lado a lado como se estivessem juntos na briga pela posição de honra, não se entende quem está melhor porque só um dos pilotos surge com o tempo real de volta.

Só que, se o formato é melhor, já está gerando um pós-classificação infernal para a atrapalhada FIA, que começou a fazer o que mais sabe: distribuir punições. O resultado que se viu em pista nunca é refletido no grid em si. Nisso tudo, aí surge Robin Frijns e diz que bateu de propósito em Oliver Rowland na corrida 1 do fim de semana.

Por isso tudo, dá a impressão que a Fórmula E e quem está envolvido nela veem a categoria como entretenimento, não como esporte. Se se assumir assim, uma mera brincadeira como já pareceu ser por inúmeras vezes, quem sabe o campeonato não deslancha de vez. Aí a organização pode pensar sem peso na consciência em provas do pole, castigo dos pilotos em vez de punições e eliminação de um piloto a cada etapa. Um esquema BBB que faça dela uma nave elétrica louca.

Comentários