Bar, hein – 2

A Ferrari ocupa o lugar da Mercedes, e vice-versa. A Haas ocupa o lugar da McLaren, e vice-versa. E Leclerc substitui bem Hamilton na briga com Verstappen com um adendo importante

Assim que o evento no Bahrein teve seu fim, tenho impressão que Stefano Domenicali, Ross Brawn e outras cabeças fortes da Fórmula 1 deram um largo sorriso e só não abriram uma ou duas champanhes porque o país não permite. Ainda que aqui e ali o cenário se pareça similar ao anterior, com a mudança de quem vem à frente, a nova configuração aerodinâmica se mostrou um acerto à medida em que vai mostrar, aos poucos, o avanço das equipes com estes carros e uma competição mais embaralhada.

A Ferrari ocupou o lugar da Mercedes, e vice-versa. A Haas se transformou na McLaren como a quarta força, e também vice-versa. Mas nestes dois casos, a Mercedes tem muito ainda o que evoluir assim que resolver os ‘cinco ou seis problemas’ do W13 e a McLaren, ao que parece, precisa rever, e tem como, o projeto para não ocupar a rabeira da F1, ao passo que a Haas pode não manter o ritmo por ausência de recursos financeiros.

A Alfa Romeo deu um belo salto de qualidade. A Alpine ainda precisa achar o melhor ritmo e a AlphaTauri tem algo a mais, mas ambos os carros parecem sensíveis demais às temperaturas, uma tendendo ao frio e a outra, ao calor. Aston Martin e Williams deixaram muito a desejar, mas, de novo: os carros não são uma tragédia. O ponto é que a primeira tem dinheiro, dentro do teto orçamentário, para se desenvolver e a segunda, nem tanto.

Posto isso, aos pilotos: na ausência de Lewis Hamilton, Charles Leclerc o substitui bem na briga com Max Verstappen. Aquela disputa por três voltas depois que ambos pararam para os boxes me resgatou àquele GP da Inglaterra de 2019 em que o piloto da Ferrari jamais se permitiria terminar atrás do da Red Bull. Em especial, o segundo troco: Leclerc passou por fora e jogou de leve o carro para ficar bem à frente do rival no contorno da curva 4 e impedir qualquer ação de Max. É um cartão de visitas bem dado. Porque justamente foi um dos pecados de Hamilton em 2021: às vezes, era superado facilmente por Verstappen, como em movimentos vistos no GP da Arábia Saudita e até mesmo aquele que deu ao holandês o título na volta final em Abu Dhabi. Sim, Lewis se defendeu mal em muitas das vezes e não tinha a mesma agressividade que Max.

Mas a Red Bull que, no ano passado, era inquebrável e assim parecia desde a pré-temporada pifou em dose dupla. Verstappen teve um problema na bomba de combustível nas voltas finais e abandonou. Sergio Pérez, terceiro até a última volta, rodou na curva 1; diz ter tido falha no motor. É começo de temporada, todos devem passar por isso, mas é uma dorzinha de cabeça que incomoda considerando que há uma corrida, novamente na Arábia Saudita, já na semana que vem.

Quer dizer, se não houver nenhuma surpresa de última hora, né, porque a Coalisão Árabe diz que interceptou e destruiu na noite deste domingo um “alvo hostil” lançado na direção de Jedá, segundo a TV estatal daquele país. A milícia Houthi lançou drones que atingiram uma planta de distribuição da Aramco, aquela que hoje é patrocinadora máster da Aston Martin e tem negócios com a F1.

Voltando à corrida, Carlos Sainz, terceiro o tempo todo, acabou herdando a segunda colocação, porém consciente de que o fim de semana não foi lá estas coisas. De fato, esperava-se mais do espanhol. Ao menos, foi sincero. Sainz será um player importante nesta briga, e se a Ferrari de agora é a Mercedes de antes, não se espera dele um papel daquele Valtteri Bottas de forma alguma.

Hamilton ficou com terceiro lugar que talvez nunca esperasse. A Mercedes vem em um projeto de contenção de danos até que extraia deste modelo único seu melhor. Assim, a alegria de Toto e Susie Wolff ali no paddock ao ver seu piloto no pódio era significativa. “Oh, querido esposo, é algo fabuloso”, disse ela, segundo vozes da minha mente. “Oh, querida esposa, é algo muito fabuloso”, ele retrucou.

Ainda que tivesse sido o que tem sido desde a pré-temporada, George Russell fez ali 12 pontos discretos com o quarto lugar que seria um sexto. Ainda não se sabe o que esperar do inglês para a temporada.

E Kevin Magnussen, hein? Ah, que delícia. P5 para o “fucking viking”, como celebrou Guenther Steiner após a prova. O dinamarquês cometeu dois erros no começo da prova na freada da curva 1, e foi por isso que perdeu as posições de Pérez e Russell que havia conquistado na largada. A Haas não tem ritmo para brigar com a Mercedes, mas não terminaria tão atrás se a prova não tivesse o safety-car acionado pelo fogo na AlphaTauri de Pierre Gasly. Ainda é um modelo com problemas de confiabilidade, mas a Haas é rápida. Dá para brincar aqui e acolá.

Bottas terminou em sexto depois de despencar para 14º na largada. A recuperação foi interessante, mas aquele Bottas 2.0, 3.0, qual seja a versão, ainda está ali. Tem nada de 5.0, não. Esteban Ocon foi o homem da Alpine na corrida, passando três vezes o companheiro Fernando Alonso, que não esteve bem. Aos dois, de qualquer forma, sobraram pontos pelo sétimo e nono lugares, respectivamente. As outras duas posições de premiação ficaram com Yuki Tsunoda, oitavo, em boa apresentação, e Guanyu Zhou, décimo, sólido e de certa forma impressionante.

De resto, não consigo encontrar palavras para o que vi da McLaren a não ser compará-la aos tempos de Éric Boullier. Que horror! E se na Indy poderia haver algum alento, o pole Felix Rosenqvist e Patricio O’Ward cometeram erros primários nos boxes no oval do Texas que os tiraram da disputa. Zak Brown deve estar pedindo doses de corote para conseguir sobreviver a este dia.

E tenho impressão que Laurence Stroll vai virar shots com o colega. Escondidos, claro.

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