O que fica da pré-temporada

Max Verstappen pinta como favorito, mas a Ferrari tem um carro muito bom em ritmo de corrida que pode dar jogo a Charles Leclerc e Carlos Sainz. A Mercedes tem questões, mas não dá pra descartar

A F1 fez dos testes do Bahrein sua apresentação oficial para a temporada 2022. O objetivo era mostrar tudo que era possível uma semana antes da abertura do campeonato no Bahrein. Mas se não pode dizer que as equipes escancararam o melhor que tinham – ou que está claro entender a ordem de forças e a capacidade de cada uma.

Dentro do cenário apresentado, é certo que a Red Bull vem com um RB18 muito bem acabado e pronto para dar a Max Verstappen a chance de brigar pelo bicampeonato. Na outra ponta, a Mercedes parece repetir os problemas da pré-temporada passada e tem um trabalho até ajustar seu ousadíssimo W13. Entre elas, surge uma Ferrari que vem como uma terceira via bastante confiável.

Fiquei particularmente curioso com a reação da Red Bull quando Verstappen marcou 1min31s720 neste sábado. A felicidade se fez plena nos boxes da escuderia. Até Helmut Marko teve de segurar seus cacarecos diante da graça do tempo. Ao que parece, a equipe estava esperando justamente por aquilo e ficou feliz de ver que, em um mínimo acerto para volta rápida, bateu a meta. Com um novo sidepod, mais bem trabalhado, a Red Bull pinta como favorita. Verstappen, se pudesse, comemoraria junto com os seus.

A Mercedes tem uma dificuldade a mais antes do começo da temporada. Porque se no ano passado teve duas semanas e meia para ajustar seu nervoso carro, desta vez são apenas quatro ou cinco dias para encontrar uma solução de uma obra de arte que encontra problemas no contorno das curvas e também no quique em alta velocidade nas retas. O risco de fazer um carro ‘slim’ traz estas coisas. Mas é impossível descartar o time de Lewis Hamilton: assim que estiver com o acerto ideal, vai para as cabeças. Outro ponto: a quase imperceptível participação de George Russell nos testes. Ficou lá na dele, apareceu pouco. Hum.

À Ferrari, aplausos. O desempenho na pré-temporada só não foi impecável porque ainda não solucionou a questão do ‘porpoising’ em um carro que insiste em galopar e chacoalhar as cabeças de Charles Leclerc e Carlos Sainz. Chamo a atenção para a declaração de Mattia Binotto, assim que acabaram os testes, para a Sky Sports Itália: “Vocês sempre me pediam que eu desse um carro bom a Charles. Vamos ver o que ele é capaz de fazer”. Binotto se vê correndo por fora. Não creio que seja apenas uma ‘outsider’: se não for a mais rápida em volta única, a Ferrari vai muito bem em ritmo de corrida.

Estou particularmente surpreso com este carro da Haas. Os tempos que fez nas ‘prorrogações’ de sexta e sábado, que puseram Kevin Magnussen em primeiro e Mick Schumacher em segundo, respectivamente, ao menos mostram que o VF-22 está longe de ser uma draga. Há problemas de confiabilidade a serem resolvidos, mas para um time que passou as últimas semanas envolto nas agruras da saída de patrocinador e piloto por conta da guerra Rússia-Ucrânia, há um certo alívio para Guenther Steiner.

De forma geral, também, não vejo carros ruins nas demais seis equipes, o que nos leva a crer que o pelotão intermediário terá uma rotação a cada etapa. A McLaren apagou a boa impressão de Barcelona com três dias ligeiramente terríveis, a começar pela ausência de Daniel Ricciardo, com covid-19, e por falhas nos freios. A Alpine é até rápida, mas quebra demais, tal qual a Alfa Romeo. A Williams tem algumas questões a resolver, mas uma equipe que serviu de inspiração para a Mercedes não pode ter feito um bólido errado. A Aston Martin ainda é uma incógnita, mas está no bolo, com um trabalho que nem ela mesma entendeu. Aquela que aparenta ter tido uma pré-temporada sem problemas é a AlphaTauri. Seria, na minha visão, a melhor do resto.

Se tivesse de fazer apostas, jogaria numa briga entre Verstappen, Sainz e Leclerc pela vitória no GP do Bahrein. Com aquele medo/respeito de me enganar completamente em não colocar Hamilton no balaio. Mas a expectativa é absurda diante das cartas que temos. O jogo há de ser bom e mais diverso em 2022.  

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