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SÃO PAULO | Se as rotativas se preparavam para escrever a linda história de Hamilton igualando o número de poles em Mônaco, elas pararam de funcionar assim que Vandoorne apareceu estalado na área além-Piscina de Mônaco. O primeiro a ser prejudicado, aliás, foi o próprio Lewis, que não tardou a lamentar a volta perdida que tentava lhe colocar entre os 10 primeiros e o prognóstico da catástrofe para o domingo.

Estivesse vendo em Indianápolis, Alonso deve ter dado aquela gargalhada com a qual voltou a se acostumar na vida, balançando efusivamente as partes íntimas e soltando palavras impronunciáveis, que não cabem aqui neste espaço de polidez. Mas é bem provável que ainda estivesse de pijama pensando nas horas que há de passar na Parada pré-500 Milhas em downtown dando tchauzinho para o povo, ao lado de Pippa Mann e Buddy Lazier.

Pelo que se viu na temporada e nos treinos livres, e depois sem Hamilton na disputa, seria molezinha apontar Vettel como pole. Então surgiu Räikkönen. Gosto da empolgação esfuziante de Kimi. “Você foi pole, cara”, falaram lá no rádio. Respondeu quase que com um “blz, fera”. Ele não tá nem aí pra vida. Nem parece que ficou 129 corridas e quase nove anos sem aquele momento.

Mas indo de trás para frente, a classificação foi assim:

Já se via que a McLaren não ocuparia as posições finais da classificação pelo desempenho que tiveram nos treinos livres — com um Button que voltou muito melhor do que se previa, incluso ele. A Sauber destoou do resto pela ruindade, então normal que pastassem andando na casa de 1min15s tanto com Wehrlein quanto com Ericsson, enquanto o pelotão estava no 1min13s. Ocon teve sua pior classificação no ano possivelmente em decorrência do acidente sofrido no Q3. E aí vieram os dois de sempre: Palmer e Stroll.

São vexames a cada fim de semana. Num Q1 em que os 15 primeiros ficaram dentro do mesmo segundo, o primeiro tomou 0s8 de Hülkenberg e o segundo, 0s9 de Massa. Os companheiros são os piores parâmetros possíveis de quanto eles são os piores pilotos do grid. A Williams tem de ficar quieta porque o Stroll-pai paga promessas e peças quebradas em dia; a Renault fica naquela de dar um apoio desvelado, usando suas redes sociais engraçadinhas, mas a verdade é que o pé já está mirando a bunda do rapaz. E o chute pode ser antes mesmo das férias em julho.

O Q2 já dava sinais de que a Ferrari estava um pasito, pasito, suave, suavecito, à frente da Red Bull e de Bottas. Porque Hamilton não se achou mais. E meio perdido sem entender as razões de uma Mercedes lenta, perdeu totalmente a chance de conseguir um lugar na fase final com o acidente de um Vandoorne que até então fazia sua melhor aparição na F1. O 14º lugar no grid se transformou em 13º com a punição que Button, ora, ora, herdou de Alonso. Mas sobre ela falo um pouco mais abaixo. Segue. Massa também rodou, mas não só pelo acidente. É porque a Williams é um horror em Monte-Carlo. Pensar em pontos é quase impossível. Hülkenberg, Magnussen e Kvyat também ficaram pelo caminho — alguéns teriam de ficar, não havia como, mas o ritmo era similar de quem havia passado.

Na superpole, Kimi conseguiu aquele pentelhésimo necessário para largar à frente de Vettel, que sai como grande vencedor da classificação. Nem triste ele pode ficar diante do que aconteceu com Hamilton. Que seja um segundo lugar na corrida, digamos: 18 pontinhos a mais no campeonato e a possibilidade de livrar até uns 24 pontos de frente para o rival da Mercedes. Uma vitória, então, dá uma vantagem inesperada e importante. Mas, sinceramente, ainda não creio que a Ferrari vá agir para que haja uma inversão com Räikkönen como a Mercedes fez com Bottas no Bahrein.

Vi que Ricciardo ficou enervadíssimo — usaria outro termo não fosse este um espaço de polidez — com um erro estúpido que a Red Bull cometeu: o de levá-lo à pista no meio do tráfego. A Red Bull e ele eram melhores que o quinto no grid, mas parece que os dois não combinam com bom resultado nesta pista. Verstappen está ali em quarto, Sainz apareceu num ótimo sexto lugar, Pérez vem de novo para os pontos e Grosjean, o inconstante, completa o grupo.

Por fim, Hamilton. Na última quinta, perguntaram ao douto piloto o que ele achava sobre o desempenho de Alonso em Indianápolis. Em um tom de deboche artístico, talvez empolgado pelos novos amigos do show-biz que estavam ali perto do Principado no Festival de Cannes, o inglês desmereceu. Desmereceu dizendo que acompanhou de longe a classificação que deu o quinto lugar ao espanhol e desmereceu a Indy e seus pilotos. Porque na visão de Hamilton, o quinto lugar de Alonso diz muito sobre os pilotos da Indy. Hamilton não se interessa na Indy, em Indianápolis, não se interessa em Le Mans, não se interessa.

Bom, cada um tem a opinião — e é válido e bom que Hamilton a expresse — e o interesse que bem lhe convier na vida. Mas seria interessante se Hamilton conhecesse um pouco de história, se se aprofundasse em ser um piloto além do mundinho da F1 — um racer — ou, ao menos, considerasse que seus colegas lá da América não são menos pilotos que ele. Piloto ruim — como jornalista, médico, arquiteto ou vendedor — existe em qualquer lugar, e a F1 tem dois bons exemplos atuais que não nos deixa negar. Se a régua de Hamilton é o resultado de Alonso meramente naquela classificação, então ele é pior que Carpenter, Rossi e Sato, que largam à frente na Indy 500? Se a régua de Hamilton mede a qualidade do todo por um único resultado, então, que tal ele medir o que aconteceu neste sábado em Mônaco? Button, exatamente seis meses depois de sua última aparição com um carro de F1, em um carro de F1 que não era o mesmo do ano passado, em um carro de F1 que é uma McLaren pior que a McLaren do ano passado, sem treino prévio algum, conseguiu ir para o Q3 e, puxa vida, se classificar melhor do que Hamilton — e só não larga à frente por causa da tal punição. Isso diz muito sobre os pilotos da F1? Não, não diz nada sobre a F1. Isso diz muito sobre Hamilton? Sim, diz muito sobre Hamilton. Não o piloto, mas a pessoa e o que pensa. Ou o que pensa que pensa, se pensa.

Enquanto Alonso se prepara para alçar algo maior na carreira, Hamilton pena para saber o que acontece com seu carro e dá pena — não exatamente pelo resultado. Nada como dois dias após aquele outro. Diria minha avó que a língua é bacalhau do cu, mas eu não vou escrever isso aqui num lugar tão polido como este — e para que Hamilton a torça ainda mais, no lugar onde ídolo Senna reinou, é Vettel quem vai comemorar a vitória que as rotativas não mostraram.

Comentários

  • Lewis Hamilton não desmereceu a Fórmula Indy; outras pessoas além dele ficaram surpresas com o fato de um piloto que até o 7º GP não pontuou na F1, chegar em 5º lugar em Indianápolis, a corrida mais famosa da Indy.
    Tudo bem, não vamos comparar as pontuações de Hamilton com as de Alonso, até porque o nível de competitividade dos carros da Mercedes é muito maior que os da McLaren, porém, em 2007, o novato Lewis Hamilton foi vice-campeão mundial, enquanto o bicampeão do mundo Fernando Alonso ficou com a 3ª colocação, sendo que eles pilotavam o mesmo McLaren. E no ano seguinte, Lewis se consagrou o mais jovem campeão mundial de F1 (até Vettel vencer em 2010), enquanto Fernando teve de se contentar com o 5º lugar geral. E em 2014, quando Hamilton conquistou seu segundo título mundial, Alonso, que ainda corria pela Ferrari, ficou na 6ª colocação.
    E nunca se esqueçam que Lewis Hamilton é tricampeão do mundo, o segundo piloto com maior número de vitórias na F1 (56), o segundo com mais pole positions (65), o quarto com maior número de voltas mais rápidas (35), o segundo com mais poles convertidas em vitórias (35), o segundo com mais hat-tricks (13), o terceiro com maior número de grand-chelem (4), o segundo com mais pódios (109), o segundo com mais corridas como líder do mundial (61), além de ser o piloto que mais pontuou na história da F1 (2376), e ser o piloto ativo com maior número de recordes, e o segundo no geral, perdendo apenas para o Schumacher.
    Lewis Hamilton: brilhante, extraordinário, excepcional, humilde…um campeão de verdade!

  • Essa pessoa que desmerece todo um campeonato e vários pilotos é a mesma que respondeu há alguns anos atrás quando questionado sobre seus problemas: “maybe because i’m black”.