Blog do Victor Martins
F1

Por que a F1 teve corridas tão boas

[bannergoogle] SÃO PAULO | Há tempos que a F1 não tem uma sequência de três corridas tão intensas, que deixam os espectadores, em casa e no autódromo, satisfeitos e com o delicioso gosto de quero-mais. Há quem lembre que, mesmo em 2018, Áustria, Inglaterra e Alemanha também foram boas. OK, podem ter sido, mas nada […]

2019 German GP

[bannergoogle] SÃO PAULO | Há tempos que a F1 não tem uma sequência de três corridas tão intensas, que deixam os espectadores, em casa e no autódromo, satisfeitos e com o delicioso gosto de quero-mais. Há quem lembre que, mesmo em 2018, Áustria, Inglaterra e Alemanha também foram boas. OK, podem ter sido, mas nada se compara ao que aconteceu recentemente: a antítese da França.

E por que estes três últimos GPs foram assim? Levanto quatro pontos.

Pistas de verdade não têm áreas de escape convidativas, pintadas e indutivas ao erro (de pilotos e comissários). A trinca Red Bull Ring-Silverstone-Hockenheim têm seus pontos permissivos, mas penalizam o erro quando necessário. Em qualquer corrida de carros, o limite tem de ser encontrado, mas o além não pode ficar impune. Giovinazzi teve lá seu problema, ficou parado na brita; Vettel e Verstappen conseguiram escapar da prisão que as pedrinhas provocam, mas perderam tempo; com VHT ou não, aquela área de escape que leva à reta principal matou as corridas de Hülkenberg e Leclerc; o muro acabou com a de Bottas e, por muito pouco, com a de Hamilton. Além disso, são circuitos que permitem ultrapassagens – ainda que isso seja facilitado pelo tosco artifício do DRS.

O clima atuou decisivamente em duas das três provas, literalmente falando. O calor inesperado e excessivo na Áustria, batendo os 35ºC, sugou a força das Mercedes e permitiu que Ferrari e Red Bull se superassem. Culminou naquele fim de prova delicioso e a evidência da grandeza de Verstappen. Na Alemanha, o mesmo calor caminhava para acabar com a festa de 125 anos da Mercedes; daí a temperatura baixou no sábado, e lá estava Hamilton, doente, na pole; aí veio a chuva no domingo, e deu no que deu – a festa devidamente acabada da Mercedes. Naquela em que os termômetros estavam OK, a Mercedes venceu com sobras, mas o clima quente entre Verstappen e o mordido Leclerc apimentou a corrida.

Pode negar à vontade, ressaltar que é a mesma do começo do ano, mas a FIA aprendeu muito bem com o GP do Canadá. Precisou que Vettel fosse um bode expiatório, só que as corridas ganharam outra forma justamente nestas três citadas corridas. Em qualquer outro momento, o ato de Verstappen era passível de punição na Áustria; as disputas entre o holandês e o monegasco na Inglaterra receberiam pelo menos uma bela de uma olhada dos comissários, e nada aconteceu – Max, inclusive, retomou a posição sobre Charles por fora da pista. A evidência máxima disso, entretanto, foi a largada na Alemanha. O mundo já estava preparado para a paumolice do começo atrás do safety-car. Três voltas depois, eis que os pilotos alinharam nos colchetes e partiram. Surpreendente. Leclerc, ao sair dos boxes e quase acertar Grosjean – sempre ele – não tomou a mesma punição que Verstappen em Mônaco; deram uma multa de 5 mil merkels à Ferrari; Hamilton tomou só 5s por ter cortado o caminho dos boxes – um drive-through não seria exagerado; nada se aplicou ao incidente entre Albon e Gasly no fim da prova. A entidade está realmente mais condescendente e deixando rolar. Todos estão bem assim.

Por fim, os atores. Pegando pelos seis primeiros: 1) Hamilton: mediano na Áustria, ótimo na Inglaterra, horrível na Alemanha; 2) Bottas: mediano na Áustria, bom na Inglaterra, horrível na Alemanha; 3) Verstappen: excepcional na Áustria, bom na Inglaterra; ótimo na Alemanha; 4) Vettel: ótimo na Áustria, horrível na Inglaterra, bom na Alemanha; 5) Leclerc: ótimo na Áustria, excepcional na Inglaterra, ruim na Alemanha; 5) Gasly: horrível na Áustria, bom na Inglaterra; ruim na Alemanha. Verstappen manteve um certo nível e, também por isso, merece ser considerado o piloto da temporada. Os demais oscilaram muito. Não estamos vendo, pois, os protagonistas da ‘F1 A’ fazendo o que podem de melhor, o que tira aquele fator de marasmo e imprevisibilidade.

A Hungria vem aí. A pista é tradicional, tem lá suas britas, mas não é muito boa para ultrapassagens; a previsão do tempo indica temperaturas bem amenas; dois dos seis protagonistas vão correr sob risco intenso: Bottas e Gasly. A tendência é de que haja uma quebra na sequência, com uma Mercedes dominante. Mas se do resto pra trás for bom — a ‘F1 B’ tem apresentado disputas igualmente interessantes —, já terá deixado por completo o gosto amargo que foi acompanhar algumas das provas mais enfadonhas de 2019.