Blog do Victor Martins
F1

S18E14 ITA1

SÃO PAULO | O inesperadamente ótimo GP da Itália produziu uma das maiores atuações da carreira de Hamilton. Quando alguém tiver de pegar um exemplo recente de como um piloto que não tem o melhor carro consegue vencer uma corrida, a performance vista neste domingo – com grande e valiosa ajuda da Mercedes – é […]

Acidente

SÃO PAULO | O inesperadamente ótimo GP da Itália produziu uma das maiores atuações da carreira de Hamilton. Quando alguém tiver de pegar um exemplo recente de como um piloto que não tem o melhor carro consegue vencer uma corrida, a performance vista neste domingo – com grande e valiosa ajuda da Mercedes – é ilustrativa. Da mesma forma, a Ferrari conseguiu a façanha de perder uma dobradinha por sua estratégia inexplicável desde a classificação e porque seu piloto principal sucumbe na hora devida.

Tudo começou verdadeiramente no sábado com a não pole de Vettel. Havia claramente jogos entre equipes – e Alonso × Magnussen – para uso livre de vácuo em busca do melhor tempo. E havia uma clara indicação da Mercedes de que usaria Bottas como segundão e escudeiro fiel a partir deste fim de semana – uma falácia para mimoso adormecer; o negócio já vinha acontecendo desde o GP da Alemanha. A Ferrari também nunca escondeu que Räikkönen tem a mesma função. Assim, olhando do ponto de vista da Scuderia, qual o sentido em privilegiar Räikkönen com o vácuo e não Vettel, que é quem disputa o título? Kimi fez uma lindíssima e merecida pole, mas, com base no campeonato, não fazia muito sentido.

A Ferrari também tinha de considerar um outro ponto: a provável saída de Räikkönen para a chegada de Leclerc. Deixar Kimi em evidência num momento desse só pesaria contra. Se em algum momento pensaram em fazer o anúncio durante o fim de semana, o ótimo desempenho do finlandês fez o time mudar todos os planos – entendem agora o abraço forte de Arrivabene em Minttu Räikkönen nos boxes? E, diante disso, é claro que Kimi jamais deixaria a porta aberta na largada para que Seb o ultrapassasse: ele partiria para a vitória, como o fez.

Pensando assim, Vettel tem alguma razão em ter reclamado no sábado. Aí é meramente uma questão de como gerenciar várias pontas, e a Ferrari não soube conduzir bem em absolutamente nada. Olhando de fora, é claro que fica a impressão de que o alemão não sabe perder e, na mesma ponta, só sabe resmungar.

Aí veio o domingo. Largada: Räikkönen, como esperado, endureceu e não deixou Vettel passar. Porque Kimi, enfim, quer vencer uma corrida, sabedor de que não segue na equipe. Vettel manteve Hamilton atrás. Todos passaram pela variante, Vettel chegou a pegar um vácuo, aproximou-se de Räikkönen, mas deu um inexplicável espaço à direita para Hamilton colocar seu carro. Os dois contornaram lado a lado a chicane, e o toque foi natural. Todos sabemos o que aconteceu e o que Vettel disse na sequência, de que Hamilton “não deu espaço”. É ainda mais claro que fica a impressão de que o alemão não sabe perder e, na mesma ponta, só sabe resmungar. Que, com um melhor carro, vai perder este campeonato porque não entrega os resultados esperados. Que, mesmo sendo um piloto de patamar similar a Hamilton, deixa este ser soberano. Vettel conquistou quatro ótimos títulos na Red Bull, mas age às vezes com cabeça de um novato que nunca venceu. Tentar resolver uma corrida na primeira volta é burrice e evidencia um despreparo psicológico para lidar com um monstro como Hamilton.

Neste sentido, ainda que a saída da Fórmula 1 tenha sido com contornos de arrego, Rosberg tem mais força que Vettel.

A corrida seguiu com Räikkönen se mantendo firme, mas, principalmente, Hamilton nunca deixando o rival escapar além de 1 segundo. Uma vez que acontecesse, Lewis não teria como usar a asa móvel e, com certo déficit no motor Mercedes, permitiria a fuga de Kimi. Então a Mercedes resolveu agir. E se em vários momentos do ano deveu na parte estratégica, foi brilhante ao começar a ameaçar uma parada induzindo a Ferrari ao pânico.

O que passa a impressão é que, não sendo com Vettel, a Ferrari simplesmente não sabe o que fazer em relação a Räikkönen. Toda vez, as táticas para o finlandês parecem realmente cagadas. Os pneus de Räikkönen funcionavam bem o bastante para que a parada atabalhoada viesse com apenas 20 voltas, o que faria Kimi andar num ritmo alucinante com Hamilton em seu encalço por outras 33. Sem Vettel na frente, a Ferrari agiu à Vettel: ingenuamente.

Então veio a segunda parte do plano da Mercedes: sabendo que Bo(s)ttas sequer conseguia se livrar de Verstappen, o jeito era apostar nele para que fizesse o que mais sabe: defender Hamilton. A equipe chamou Lewis 8 voltas depois de Kimi para a parada e deixou Valtteri na pista até seu compatriota alcançá-lo. Se havia uma diferença inicial de 5 segundos entre aqueles que disputavam a vitória, Bottas mandou-a para o espaço, e lá estava Hamilton colado atrás de Räikkönen. Este começou a desgastar os pneus. E tal qual uma narração do Discovery Channel, a presa indefesa virou alvo fácil do maior predador da F1.

Tudo isso ofuscou, por exemplo, a excelente corrida de Verstappen, que se manteve o tempo todo à frente de Bottas. Mas aí, em um vacilo, Max foi bruto demais para os padrões da F1 ao espremer Valtteri no contorno da primeira variante. A punição é compreensível, mas é dura quando se observa o que fez para conseguir semelhante proeza e por premiar um piloto frágil e sem personalidade como Bottas. Sabedor de que tomaria 5 segundos, mandou tudo à putamadrequepariu e acabou perdendo não só o pódio, como o quarto lugar para Vettel. Uma injustiça tremenda, no fim das contas, a quem soube ser forte na corrida italiana.

De resto, ficam também as ótimas performances de Ocon – que, no fim das contas, não vai ser piloto McLaren com a confirmação de Norris lá em 2019 e deve ir parar na única equipe que lhe restou, a Haas – e das Williams de Stroll e Sirotkin, ambos pontuantes – este último por conta da desclassificação de Grosjean.

Daqui duas semanas, tem Singapura, um circuito que teoricamente não deve favorecer a Mercedes. Não dá mais para Vettel errar tomando 30 pontos na lomba. Se de lá Hamilton sair com uma vantagem maior, o mundo já vai saber quem vai ser o mais novo penta do pedaço.