Blog do Victor Martins
F1

S18E11 Alemanha 2

SÃO PAULO | O GP da Alemanha marcou a clara e esperada ação de Ferrari e Mercedes sobre seus pilotos-marionetes. O que, por si só, é terrível para quem deseja corridas decididas na pista e no puro talento dos pilotos. E estas decisões orquestradas por Maurizio Arrivabene e Toto Wolff ficaram evidentes em dois momentos […]

HAM_BOT

SÃO PAULO | O GP da Alemanha marcou a clara e esperada ação de Ferrari e Mercedes sobre seus pilotos-marionetes. O que, por si só, é terrível para quem deseja corridas decididas na pista e no puro talento dos pilotos. E estas decisões orquestradas por Maurizio Arrivabene e Toto Wolff ficaram evidentes em dois momentos totalmente distintos no desenrolar da prova em consequência de estratégias que se desenhavam erradas.

A prova vinha enfadonha desde a largada, onde nada de mais aconteceu. Hamilton, como esperado, teve um tapete estendido por seus coleguinhas da classe B, a começar por Alonso. Lá na frente, Vettel abria distância para Bottas, que não era perseguido por Räikkönen. Verstappen também não acompanhava o pelotão. Levou 14 voltas para que Lewis chegasse à quinta posição, mas numa distância em que já seria possível Vettel parar e voltar à sua frente.

Mas então veio o primeiro movimento diferente: Räikkönen, que estava ali quieto e sem fazer nada, foi chamado aos boxes naquela que parecia ser uma tática de duas paradas. Vettel foi o próximo, mas muito depois, trocar os pneus. O desempenho de Kimi era tão melhor que Seb voltou atrás. Foi aí que surgiu o primeiro movimento de retomada de um ‘Fernando is faster than you’ adaptado.

Só que não foi rápido. A princípio, a Ferrari estava deixando o jogo rolar. Foi Vettel quem começou a reclamar e reclamar via rádio para que Räikkönen saísse da frente. E pra quem há duas corridas estava achando OK que não houvesse troca de posição, como aconteceu lindamente na Áustria, a queixa sem sequer ter se aproximado para disputar a posição com o companheiro soa como destempero. Em nenhum momento, por exemplo, Vettel esteve 1 segundo atrás para passar o parça na pista. Então, bonitão, se você quer jogo limpo, que não fale: pratique. Se os pneus estavam se desgastando atrás, acelere e tire deles o melhor para que fiquem devidamente conservados e à frente.

A chuva que rondava o autódromo veio era ameaçadora. A previsão indicava que era questão de minutos para cair. A Mercedes ainda mantinha Hamilton na pista com mais de 40 voltas. De repente, o time chamou seu piloto e botou pneus ultramacios. Duas voltas depois, as gotas vieram fortes. Naquele momento, pois, a tática da equipe mais uma vez se mostrava errada e descabida, como tem sido comum neste ano em que o mundo perfeito prateado virou coisa de terraplanista. Lewis voltava na quinta posição. Mas aí a Red Bull, sempre esperta nestas situações, trouxe Verstappen rapidinho achando que a tormenta se adensaria, colocando intermediários. No fim, deu três ou quatro voltas, e chamou de volta para os ultramacios – a Toro Rosso, coitada, foi pior: pôs os wets em Gasly.

Parte da pista estava seca, parte molhada, em situação similar à de Barrichello 18 anos atrás – não é estranho, pois, que o vencedor d’hoje tivesse saído de 14º. E foi no estádio que tudo mudou: Vettel levantou parte da torcida local com sua batida solitária. Os soquinhos seguidos no volante foram a confissão de que o erro havia sido seu. Diriam os mais vingativos que se tratava de um ‘bem feito’ diante de seu pedido de ordem de equipe. O safety-car surgiu, e com ele, o caso que se transformou na mais recente patética ação da F1/FIA.

Bottas apareceu do nada nos boxes, pegando a equipe desprevenida. Houve uma hesitação até para ver quais pneus deveriam ser colocados; no fim, foram de ultras. Hamilton estava para entrar, pegou o caminho e foi avisado em tom de ordem para que desviasse a rota. Assim o fez, jogando o carro para a esquerda e evitando os pits. Concomitantemente, a Ferrari chamou Räikkönen e perdeu tempo como Bottas. Assim, a ordem foi feita com os dois carros da Mercedes à frente e Räikkönen na sequência.

Hamilton, pois, tinha pneus usados; Bottas e Räikkönen, novos. A relargada aconteceu com um Valtteri disposto a brigar pela vitória. Chegou até a emparelhar na chegada do grampo e na saída dele. Repentinamente, o finlandês perdeu 0s9 no último setor da pista. A diferença foi aumentando. Então veio a confirmação: ‘Fernando is faster than you, mas fique aí onde está’. E com um Räikkönen naquela morte lenta de sempre, assim foi até o fim.

As declarações durante e depois da corrida. Räikkönen: “Se querem que o deixe passar, falem logo” e “Temos regras claras, mas a situação não era completamente clara naquele momento”. Bottas: “Como pilotos, vencer é o que estamos procurando. Quando Seb saiu, achei que havia uma boa chance. Mas como equipe, é uma corrida perfeita para nós”. É realmente penoso ver que dois pilotos que têm chances ainda de disputar o título aceitem tão docilmente as ordens que vêm via rádio. São dois bonecos que estão ali para ocupar um lugar de coadjuvante ideal, cujas personalidades são engolidas em um ambiente esportivo em que, sim, ordens como essa deveriam ser contestadas. Kimi não venceu e não vai vencer pela Ferrari – a não ser que queira ostentar seu emprego por mais uma temporada só para ter o carimbo de funcionário do ano. Mesmo que sua tática fosse de duas paradas, a corrida mudou com a chuva, e isso era previsto. Estaria na briga pela vitória se não houvesse a ordem. Bem feito, para ele e para a Ferrari, que, com o melhor carro, tenham amargado uma doída derrota. E quanto a Bottas, ele acabou de renovar o contrato e merece há algum tempo ganhar uma corrida, mas essa postura de falta de ambição, de se contentar com um segundo lugar porque a equipe está feliz assim, ó, que fofinho, é muito ruim para um cara que é relativamente jovem. Campeões são combativos, e nisso Verstappen tem de ser elogiado à enésima potência: por mais que tenha um conjunto cabeça/boca dos piores, o holandês não se curva facilmente a estes pedidos – e não parece que a Red Bull ouse lhe ameaçar com uma demissão se peitá-los.

Fico imaginando se Räikkönen e Bottas tivessem nascido bem ao sul da Finlândia num país que é isso aqui, ô, ô, o que diriam deles.

E sobre as decisões de Ferrari e Mercedes, nem quero dizer que podem ser compreensíveis e clássicas, mas novamente feias, pobres, detestáveis e tristes.

Verstappen não teve ritmo para acompanhar, e o fim de semana da Red Bull, com mais um problema na unidade de potência rasa de Ricciardo, denota o fim da busca pela briga por qualquer título que seja neste ano. Por mais que siga a tradição de evoluir bastante na segunda parte da temporada, a quantidade de pontos atrás e a distância que carregam para Ferrari e Mercedes é suficientemente grande. O negócio é deixar o motor Honda tinindo para o ano que vem transformando a Toro Rosso em boi-de-piranha.

Que grande prova fez Hülkenberg, quinto, mais uma vez o vencedor da F1 B. Deixou a dupla da Haas no chinelo. Magnussen até tinha desempenho melhor, mas a chuva o derrubou para fora da zona de pontos. Leclerc e Alonso também despencaram com a pista molhada, sendo que o primeiro deu uma rodada de 360º digna e bonita – mas que revelou algumas deficiências em sua condução nesta situação. Grosjean, que não vinha bem no início, apareceu em um bom sexto lugar. As Force India, apagadas, de repente surgiram em sétimo e oitavo com Pérez e Ocon. Até Ericsson tem o que comemorar, nono. E Hartley, décimo, não tem nem como entender bem.

Sobre o campeonato em si: pela quinta vez, o líder muda, e novamente numa situação inesperada. Se as condições normais apontariam uma diferença indo para 20 ou 23 pontos, agora é Hamilton quem comanda as ações com 17 de frente. A corrida de Hamilton foi naturalmente normal para o carro que tem até passar todo mundo e chegar ao quinto lugar. Foi quarto quando Verstappen foi para os boxes, depois terceiro com a batida de Vettel e recebeu a liderança de bandeja com a parada nos boxes do duo finlandês. Devidamente protegido, abriu distância em uma sequência de voltas mais rápidas – sobre as quais falarei no próximo post. A vitória até pode ter sido espetacular considerando que largou em 14º, mas dizer que foi um desempenho espetacular, não. Não, mesmo. O caminho se abriu para Hamilton na F1 A tal qual foi aberto por todos os demais na B. Sem contar no benefício que acabou sendo sua não-parada.

Hamilton mais lidera este campeonato pelos erros de Vettel que pelas performances deste ano. De todos estes anos em disputas de título, é sem dúvida aquele em que menos está devidamente concentrado — como vimos ontem dentro e fora da pista. E do outro lado, se Vettel diz que vai dormir tranquilo com o “pequeno erro” cometido hoje, pena que isso maquie a realidade. Porque, se não agora, há de ficar noites e noites sem dormir daqui quatro meses se se vir sem o título pensando como pôde perder tão bisonhamente esta vitória em Hockenheim e como curte fazer da Ferrari às vezes seu veículo para entregar a paçoca.

Já volto para falar da não punição a Hamilton e da fofura do comunicado da FIA.