Blog do Victor Martins
F1

S18E10 Inglaterra 2

SÃO PAULO | Temos algumas tantas coisas para falar deste GP da Inglaterra. E não são muito boas, não, apesar daquelas voltas finais que, sim, valeram a corrida toda. A F1 tem feito reuniões para saber o que quer de si para 2021. Deveria fazer algumas emergenciais para agora. Tanto em Paul Ricard quanto neste […]

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SÃO PAULO | Temos algumas tantas coisas para falar deste GP da Inglaterra. E não são muito boas, não, apesar daquelas voltas finais que, sim, valeram a corrida toda.

A F1 tem feito reuniões para saber o que quer de si para 2021. Deveria fazer algumas emergenciais para agora. Tanto em Paul Ricard quanto neste domingo em Silverstone está evidente que há duas categorias em uma. A F1 A tem seis carros que, qualquer coisa que aconteça na largada que leve a despencar o pelotão, vão se recuperar com extrema facilidade, de modo que o carro prejudicado vai ser no mínimo sexto. Assim foi com Vettel na semana passada e Hamilton agora. Com um asterisco: depois do incidente com Räikkönen, foram repetidas mensagens do piloto à equipe dizendo que o carro tinha um problema – enquanto jantava com fish & chips dois ou três colegas da F1 B – que tem 12 carros mais as Williams café-com-leite – por volta. O inglês levou miseráveis dez voltas para voltar ao seu grupo.

Beleza, parceiro, a F1 que você quer nunca houve, há de dizer, como já disse um, aqueles puristas que gostam de buscar lá atrás a resposta torta para o que vem pela frente. Meu amigo, não é porque sempre foi assim que a F1 tem de ser assim a vida toda. As coisas e as pessoas evoluem, ainda bem. O futebol não é o mesmo de 10 anos atrás, e nem preciso ir muito longe para explicar táticas ou avaliar tecnologias. Guardiola e VAR estão aí na ativa. Ver uma categoria de esporte a motor com apenas 20 carros em que só seis podem vencer, sendo que vez ou outra dois estão fora porque o motor não acompanha e um nem quase não faz mais questão de vencer, é ridículo, diminuto e patético. É quase uma aceitação do pedido de desculpas que a apresentadora faz antes de entregar seu programa dominical para esta F1. Olha, esse produto é ruim, porém maquiadinho, demora uma horinha e meia, mas logo a gente está de volta para falar do jatinho do coitadinho do herói que não dá a cara a bater porque ela está envolta numa bolha, e no fim parece que faz todo sentido. Porque dá metade da corrida, as câmeras se voltam para a briga de Hülkenberg em sétimo, Ocon em oitavo, Alonso em nono e Magnussen em décimo – isso porque Leclerc deveria estar lá não fosse a Sauber não saber apertar a porca do carro –, e seriam quatro ou cinco equipes brigando pela vitória da F1 B, e, uau, que legal, não é mesmo? É, como disse no Twitter o caro Marcos Martinho, quase um WEC: uma divisão de categorias dentro de um mesmo campeonato.

Mas aí vem um safety-car como paliativo, os ponteiros se juntam novamente, o final é eletrizante, excelente e tudo mais, e passa-se a impressão de que a corrida foi um primor do começo ao fim. Essa entrada do SC lembra o que foram as corridas iniciais do campeonato quando aquele fator extra mudou os rumos e deixou as provas com este mesmo gosto de agora. Foi o duplo problema dos carros da Haas nos boxes da Austrália, o mecânico que Räikkönen atropelou no Bahrein e impediu Vettel de parar nos boxes, o choque das Toro Rosso na China, o acidente das Red Bull no Azerbaijão – a única corrida que pode se gabar de ter sido boa de cabo a rabo no ano.

Um detalhe que ilustra esta situação: mesmo com os safety-cars que juntaram todo mundo no fim da corrida, o ‘vencedor’ da F1 B, Hülkenberg, terminou mais de 28 segundos atrás de Vettel.

Aí você procura entender outros detalhes de como a corrida se desenvolveu. Quando deu o primeiro SC pela pancada de Ericsson, a Ferrari e a Red Bull trataram de ser ágeis – algo que tem sido comum neste ano – e chamaram seus pilotos para trocar os pneus. Vettel, Räikkönen, Verstappen e Ricciardo puseram os pneus macios. A Mercedes não chamou seus pilotos. Haviam moscado de novo? Sim e não. A alegação oficial é de que a equipe não tinha mais pneus macios novos para pôr nos dois carros. Mas se tinha os médios, deveria tê-lo feito em vez de deixar Bottas e Hamilton na disputa capengas neste sentido. Vettel voltou atrás do finlandês e teve de suar muito para conseguir a ultrapassagem, num lindo bote. Bottas, então, começou a perder posições para o companheiro e depois para um animado Räikkönen. Teve de se segurar para não perder também o quarto lugar para Ricciardo. Verstappen, àquela altura, já tinha abandonado. Mas, independente disso, não é estranho que uma corrida tenha sido também afetada pela limitação de jogos de pneus e pelas escolhas que as equipes são obrigadas a fazer para selecionar quantos de cada um que têm de levar para a corrida? Não é estranho também que, em algum momento – não nesta prova em específico – os pilotos tenham de economizar combustível? O cara leigo em casa que não conhece essas tramoias não compreende a situação, embora ela tenha levado a este bom final.

O campeonato está legal entre Hamilton e Vettel, mas a gente sabe bem que só os dois vão brigar pelo título e que cada vez mais o combativo Bottas e o acomodado Räikkönen vão servi-los daqui um tempo – não, não creio de forma alguma que Bottas tenha feito jogo de equipe hoje e muito menos que Räikkönen tenha batido em Hamilton de propósito. Mas se o Liberty Media tirou a F1 das mãos de Ecclestone para ficar pensando em como fazer casinhas unificadas das equipes e tirar as estruturas dos motorhomes do paddock das corridas europeias, que pense, primeiramente, em ter gente em seu quadro minimamente entendida e preocupada com o esporte tem de ser, não como ele parece ou aparece.

Já volto para falar da corrida em si e deste Hamilton que se apequena.