Blog do Victor Martins
F1

O adeus (mesmo) de Massa

SÃO PAULO | Como não se é de duvidar de mais nada nesta vida louca, parece — veja bem, parece — que agora é de vez a aposentadoria de Massa da F1. O anúncio veio num sábado de feriado prolongado e um dia depois que surgiu o convite para uma coletiva de imprensa a ser […]

Felipe Massa



SÃO PAULO | Como não se é de duvidar de mais nada nesta vida louca, parece — veja bem, parece — que agora é de vez a aposentadoria de Massa da F1. O anúncio veio num sábado de feriado prolongado e um dia depois que surgiu o convite para uma coletiva de imprensa a ser realizada na próxima quarta-feira. Bem provável, pois, que a decisão de Felipe tenha sido tomada no começo da semana, para que desse tempo de organizar os próximos passos e avisar a quem de direito, da forma como se deve.

A decisão de Massa tardou. Tardou porque a Williams já dava clara demonstração de que não queria ficar com ele. A partir do momento em que colocou seu cockpit no patamar de uma rifa, o brasileiro tinha de entender que não precisava passar por uma situação embaraçosa e, sim, desrespeitosa, alimentando uma disputa da qual já não fazia parte. Chegar para Claire e Frank Williams, educadamente, e falar: ‘Já que vocês estão procurando alguém para minha vaga, eu vou caçar o que fazer. Muito obrigado por tudo, estou pegando meu boné da Martini, levo comigo, bonitas, estas três listras, caíram bem em mim, boa sorte para vocês’. E foi desrespeitosa porque a Williams só tinha Massa para contar com este 2017 claudicante, e ele não demorou mais do que alguns dias para arremessar a aposentadoria às favas, de modo que fazer testes com outros pilotos, Kubica, Di Resta, quem quer que seja, é humilhante para alguém que soube ser solução quando precisaram.

Mas a F1 e o mundo parecem — na verdade, são — assim: os jogos de interesses se sobrepõem às relações humanas. Vida que segue.

Vida que vai seguir para Massa. Sempre digo que Felipe é um dos caras mais decentes e corretos com quem lidei na profissão. A última vez que o vi foi no ‘Bola da Vez’. Assim que entrei no camarim da ESPN, ele e Titônio abriram um sorriso. Conversamos sobre várias coisas, o trabalho, a Williams, Botucatu, São Paulo, demos risada. Nunca foi diferente disso, por mais críticos que tivéssemos sido eu e os demais colegas de Grande Prêmio. Sou 20 dias mais novo que ele. A vida é longa. O automobilismo vai continuar fazendo parte dele. A Fórmula E, se não para 2018, está a seus pés. Ou o endurance. Ou, se achar legal, um posto de comentarista. Na Globo, na Sky Sports, na BBC, ou no Grande Prêmio, quem sabe — vai que… Um lugar, ele há de achar.

Ao menos, Massa sabe que terá uma nova despedida na semana que vem. Não deve ser muito próxima da que tivemos no ano passado, praticamente desenhada, com aquele final do acidente e subindo o retão de Interlagos com a bandeira brasileira e o cumprimento de todos nos boxes. Que seja nos pontos, com alguma alegria a dar a si e ao público, com menos amargor por tudo que foram estes últimos tempos. Para também tentar reverter no campeonato uma situação que soa incômoda: a de terminar atrás de Lance Stroll, um moleque que começou muito mal na F1 e que tem evoluído substancialmente.

Mas, no autódromo ou fora dele, que se respeite Felipe. Se ele não foi o piloto que todos esperavam, de títulos e vitórias, na régua que mede a capacidade e as conquistas alheias, ele foi digno nas pistas. Deixou uma história importante no automobilismo. E, por enquanto, fecha o capítulo da participação brasileira na F1. Quando virão outros? É uma resposta que o dinheiro vai dizer mais do que o talento.

Sobre o substituto, quem deveria ser? Estou entre a curiosidade de ter Kubica de volta e o desejo de ver Wehrlein numa equipe que não seja a última do grid. Votem aqui a opção de vocês.