Blog do Victor Martins
F1

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SÃO PAULO | Tem muita coisa a ser dita deste GP de Singapura. A primeira: Hamilton é o campeão de 2017. Questão simples: Vettel precisaria ver o rival abandonando uma corrida, zerando como lhe aconteceu hoje, nas próximas seis restantes do campeonato. Claro que pode acontecer: tem uma Malásia da vida onde o próprio Lewis […]

Acidente largada Singapura



SÃO PAULO | Tem muita coisa a ser dita deste GP de Singapura. A primeira: Hamilton é o campeão de 2017. Questão simples: Vettel precisaria ver o rival abandonando uma corrida, zerando como lhe aconteceu hoje, nas próximas seis restantes do campeonato. Claro que pode acontecer: tem uma Malásia da vida onde o próprio Lewis teve problema no ano passado, mas o equipamento da Mercedes é confiável demais; condições adversas, como chuva, são favoráveis ao inglês, então o alemão nem pode contar com isso eventualmente numa Sepang ou Interlagos da vida. Mas numa situação normal, 28 pontos representariam a necessidade de Vettel vencer 4 das 6 provas só para tirar a distância, sendo Hamilton segundo. Não vejo este cenário acontecendo.

À corrida em si: largada. Vettel não sai tão bem e se preocupa em fechar a porta para evitar que Verstappen contorne a curva à esquerda na frente. Melhor que os dois, Räikkönen põe o carro ali entre a mureta e Verstappen. Max e Kimi se chocam e sobra para Seb: nocaute. No momento da batida, o instinto é culpar KR e MV por serem atabalhoados – o primeiro nunca ajuda, e aí atrapalha; do segundo, se esperam coisas como estas. Num segundo momento, é perceptível que Verstappen, que vinha em linha reta, faz um movimento à esquerda primeiro para evitar o avanço de Räikkönen, mas também para evitar o choque com Vettel. Posteriormente, até se chega a pensar que Vettel provoca uma reação em cadeia, mas ele, como pole e à frente, tem direito de fazer este ato de proteção à posição.

A visão final: Vettel tenta proteger a posição de Verstappen e espera que ele vá também jogando o carro para dentro. O que o alemão não contava é que Räikkönen estaria ali como intruso, de modo que Max não tem o que fazer diante do sanduíche de Maranello. E Kimi estava na dele, também não tinha muito para onde ir. No fim das contas, é um incidente de corrida sem que se culpe qualquer um dos três. A questão é que, sei lá, se espera um incidente deles lá atrás na zona do rebolo, não entre os caras ali da frente.

E claro que isso tinha de dar um jeito de sobrar para Alonso. O cara fez uma largada maravilhosa, primorosa, retumbante, vigorosa, rotunda e catabloft!, é acertado por Räikkönen e Verstappen. Estaria facilmente em terceiro ali. Caiu para décimo. Para 12º. Para último. Traga o carro para os boxes. Fim de prova. É muita zica para um piloto só. Que, claro, é codividida com Hülkenberg.

Hülk não é piloto para ter um recorde tão negativo como este, o de ter o maior número de provas na F1 sem pódio. Nico, inclusive, foi beneficiado com o quiproquó e ficou com o terceiro posto durante a primeira parte da corrida. Aí Kvyat fez mais uma das suas e provocou a entrada do SC. A Renault se atrapalhou e não chamou Hülk de imediato para os pits. Com uma volta de retardo, o jogou para quinto. E depois, com um problema, despencou para décimo. Para 12º. Traga o carro para os boxes. Fim de prova. É muitíssima zica para um outro piloto só.

Hamilton não tinha nada que ver com isso. Com três culpas, viu o acidente, ‘Geez’, e já era líder. E naquelas condições de pista úmida, o cara destoa. Mesmo quando as coisas melhoraram do meio para o fim, com os slicks postos, Lewis não permitiu que Ricciardo sonhasse com qualquer coisa. Nem Lewis sonhava com muita coisa. Mas já que lhe deixaram, o triunfo cai no colo de quem colocava Singapura como um rito de passagem provavelmente sem pódio. As luzes da noite iluminaram o caminho de Hamilton na temporada.

Bottas foi terceiro com um desempenho pífio. Não se pode esquecer que ele foi ultrapassado por Palmer, o retumbante Palmer, na primeira volta e lá ficou, sexto, até o instante kvyatiano. A demora da Renault decidir pela troca de pneus tirou os dois pilotos da frente do finlandês. E também foi fácil passar Pérez na tática dos boxes. Só assim para que ele voltasse a uma posição minimamente digna. Bottas voltou muito insosso das férias. E é natural, então, que tenha a meta de ficar à frente de Vettel no campeonato. Não vai acontecer, mas ele tem de traçar um objetivo para não ser tão peso-morto quanto o compatriota Räikkönen é para Vettel/Ferrari.

A quarta posição de Sainz fez a Toro Rosso gritar encarecidamente para que ele fique na equipe até o fim do ano. Piloto da corrida, para mim, andou de forma sólida no começo da prova e fez por merecer o resultado. Quando anda decentemente, Carlitos é forte. É com quem a equipe pode contar, né, já que Kvyat é uma piada. É que hoje estou sob o efeito Palmer, mas Daniil é o piloto mais fraco da F1. Pode ser que amanhã mude de ideia? Pode. Mas o russo tem sido tosco. É um ex-piloto em atuação. Mas, enfim, Sainz deve já ocupar o lugar de Palmer a partir do GP da Malásia justamente quando Jolyon teve um desempenho elogiável e notável. Paga pelo conjunto da obra. Pode ser que amanhã passe o sentimento de comiseração? Sim, certeza.

Pérez acabou em quinto em um dia em que a Force India anunciou a renovação de seu contrato. E você vê o quanto o campeonato dele é bom – e o quanto o de Verstappen é pífio – quando olha para a classificação do campeonato: os dois estão empatados com 68 pontos. Para o lado de Sergio, é legal mais pela briga interna com Ocon – 13 pontos de diferença; para o lado de Max, é o quanto ele ainda precisa amadurecer na puta da vida e da carreira para ser um piloto de ponta de fato. Depois de tudo que aconteceu, Verstappen soltou que, “ao menos, ele não abandonou sozinho” e que “todos sofreram”, num tom mesquinho e bocó que lhe são característicos quando abre a bocarra.

Vandoorne foi bem e Stroll mostrou mais uma vez como evoluiu. E diante de um inexplicável Massa, já se pode dizer que está pelo menos no mesmo patamar do brasileiro, o que depõe contra as pretensões de Felipe ficar na F1. Inexplicável, principalmente, porque resolveu ficar numa pista claramente menos úmida com os pneus wet, o que lhe derrubou na classificação. Ainda, deu um toquinho mequetrefe em Vandoorne quando ambos emparelharam em determinado momento em que o belga vinha dos boxes – e tinha razão de manter a posição à frente. E numa pista sem muitas condições de ultrapassagem, mas com alto número de abandonou, terminou sem pontuar e apenas à frente de Wehrlein.

Que Massa entenda queassessorado por Rosberg – ex-piloto da Williams – demonstra total interesse em estar no grid da F1. Se a família Williams de fato assistiu à corrida de hoje, opta pelo polonês sem muito esforço.

De resto, apenas uma menção honrosa para Magnussen, que foi para cima quando pôde e foi corajoso o suficiente de ser o primeiro a botar slicks numa pista que não parecia tão apta a tal. Acabou abandonando, mas merecia uns pontinhos. Ah, claro, e Ericsson, que honrou sua posição no grupo do PEK.

Logo mais vem a Malásia. A Ferrari tem a obrigação de tentar uma dobradinha para, pelo menos, ganhar ânimo. Qualquer resultado diferente deste é a derrota sacramentada na temporada.