Blog do Victor Martins
F1

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SÃO PAULO | Toda vez que a gente vê uma corrida maluca, acha que é a mais maluca dos últimos tempos. Geralmente porque o resultado é fora dos padrões ou porque elementos inesperados surgem. Aquele GP da Alemanha de 2000 e o GP da Inglaterra do padre irlandês, ambos vencidos por Barrichello, ou aquele GP […]

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SÃO PAULO | Toda vez que a gente vê uma corrida maluca, acha que é a mais maluca dos últimos tempos. Geralmente porque o resultado é fora dos padrões ou porque elementos inesperados surgem. Aquele GP da Alemanha de 2000 e o GP da Inglaterra do padre irlandês, ambos vencidos por Barrichello, ou aquele GP do Canadá de 2012 que Button venceu na última volta depois de cair para último vêm à cabeça facilmente. Mas este do Azerbaijão, caras… esse do Azerbaijão vai ser difícil de esquecer. Eu queria viver eternamente neste GP do Azerbaijão. Queria que o GP durasse o domingo todo só para o Fantástico não ter que resumir o que aconteceu hoje a menos de 2 minutos. Queria encontrar o que é amar em Baku.

Quero aqui relembrar os cinco embates que o Azerbaijão vai marcar em definitivo daqui para frente, numa ordem quase cronológica dos eventos:

1) Sainz × Kvyat: o primeiro não quer mais ficar na Toro Rosso; o segundo só tem a Toro Rosso porque ninguém na F1 o quer. Aí eles promovem o pastelão: o afobado russo escapa na curva 1, volta para a pista e assusta o o assustado espanhol, que roda bisonhamente. Este passa a reclamar do outro.

2) Bottas × Räikkönen: os dois são finlandeses, vêm de um lugar que os torna frios ao mundo comum de beijos e abraços, falam a mesma língua e não se entendem. No caso de Kimi, é bem possível que ele sequer goste ou, ainda mais, saiba quem é Valtteri. Os dois não demonstram ter qualquer proximidade ou intenção de serem próximos. Uma frase de Räikkönen via rádio elenca bem: quando a zorra começou a ser formada nas amarelas, Kimi quis saber se “o mesmo idiota” tinha sido punido pelo incidente entre os dois na curva 2. De Valtteri, nada se ouviu. Ficou feliz demais com o segundo lugar conseguido na linha de chegada.

3) Ocon × Pérez: se o segundo não tivesse sido tão cabeça-dura em Montreal, não teria atiçado o primeiro a ponto de, na primeira oportunidade, considerá-lo como rival e não mais um companheiro. Esteban não hesitou em partir para cima quando Sergio perdeu posição após uma relargada. Ou um ou outro fatalmente venceriam a corrida, vide o que aconteceu com os dois primeiros colocados da prova até então. A Force India vai ter trabalho para domar estes dois.

4) Wehrlein × Ericsson: os dois de fato não gostam de seus companheiros – foi assim com Ocon e Nasr no ano passado, respectivamente. Normal, então, que já criassem um clima nada favorável na Sauber. Some-se a isso o climão da semana que culminou na saída de Monisha Kaltenborn e que demonstra que a nova gestão da escuderia quer privilegiar o piloto que menos tem talento. Ambos tiveram um choque em que os carros literalmente encaixaram.

5) Hamilton × Vettel: bom, uma hora o caldo iria entornar, conhecendo a personalidade dos dois. Hamilton nunca teve uma disputa de título simples e na pista, sem divergências e polêmicas. Vettel é um contumaz reclamão e hoje revelou uma faceta além: a do descontrole. Desta, falo mais abaixo.

O rebu da primeira volta entre os nórdicos promoveu a Vettel o segundo lugar – mas em nenhum momento propriamente houve briga com Hamilton enquanto os dois se mantiveram nestas posições –, alçou Pérez ao terceiro, Verstappen ao quarto e Ocon na sequência. Ricciardo estava atrás das Williams, Massa e Stroll, na ordem, apagado. As primeiras voltas foram em banho-maria, quase relembrando a prova macambúzia do ano passado. Aí o pessoal tomou um coquetel potente de drogas lícitas a partir do momento em que o SC foi acionado para remover o carro de Kvyat.

Já na primeira relargada, Hamilton estava hesitante. Perguntou via rádio quanto era o espaço máximo que deveria deixar para o SC para não ser punido. Ouviu que eram dez – saberia se lesse o regulamento. Por pouco, não passou o carro de Maylander que se dirigia aos pits. Veio uma nova amarela porque a pista ainda se fazia um latifúndio de detritos. E, então, a briga de trânsito com Vettel.

Mesmo com a telemetria desmentindo, uma imagem me parece clara no caso: a on-board de Pérez. Ali em terceiro e levemente distante de Vettel, aproximou-se rapidamente do alemão no contorno daquela curva. Ainda, naquele GC que a FOM transmite, chega a haver uma imagem que aponta o vermelho dos ‘brakes’ acionado. Proposital? Não parece ter sido. Desnecessário? Sim.

Aí Vettel se traveste de italiano e vai para cima num ato impensado. Para quem gosta de briga e começa o ‘iéééé’ no intervalo da escola, é um prato cheio. Tem ainda quem resgata os anos trololó para falar que isso é F1 e que o resto é mimimi. Cêis vão me desculpar, mas eu não posso aceitar uma postura dessa de um cara como Vettel nem se James Hunt baixar aqui numa mesa branca bem feita; se fosse de Palmer e do Stroll das últimas sete corridas, vai lá, mas o cara se mostrou um desequilibrado. Proposital? Muito. Desnecessário? Totalmente. É que por ser Vettel, a punição ficou em 10 segundos. Ficou barato. Feio e barato demais.

Enquanto a direção de prova decidia o que fazer na bandeira vermelha que surgiu, era Massa quem aparecia em terceiro numa prova irretocável, com várias ultrapassagens e livre dos problemas. Mas a zica que assola Verstappen também espirra em Felipe. A suspensão foi pro saco. O carro começou a vibrar. E o pódio que viraria vitória se foi. É um pecado. Seria espetacular ver Massa ganhando, provavelmente a última da carreira. Por tudo que fez na F1 e representa, pelo papel na Williams, pela história toda. Difícil que uma corrida desta se repita.

Foi aí que veio o pulo de Ricciardo. Jantou Stroll com farofa e o problemático Massa e foi rumo à vitória.

Hamilton seria o ganhador se houvessem prendido corretamente a proteção do cockpit que ele tentou levar por duas voltas segurando com a mão. Mas aí é uma questão de segurança, e o silver-tape entrou em cena. Vettel cumpriu a punição e voltou bem à frente.

Magnussen e Ocon chegaram a flertar com o pódio, mas não tinham carro o suficiente para superar o renascido Bottas, Vettel e Hamilton. No fim, Valtteri foi premiado com o segundo lugar ao passar um hesitante Stroll – ninguém me tira da cabeça que o moleque desacelerou em algum momento na chegada para comemorar com a equipe e perdeu a posição. A velocidade de Bottas, mesmo com asa aberta, não era tão maior que a do moleque assim para vir naquele embalo.

De qualquer forma, Stroll estreou neste fim de semana na F1. Classificou-se melhor que Massa e não cometeu erros cruciais. Também não acho, muito longe disso, de ter sido o melhor da prova. Mas sabemos todos que seu pódio se deu nas mais absurdas circunstâncias. Há uma evolução, OK, mas nada que permita dizer que a chave esteja totalmente virada.

Tudo posto, vieram as reações pós-corrida. Hamilton lançou um “se ele quiser ser macho, que mostre fora da pista” para Vettel. Que devolveu com um “a F1 é para adultos”. A 5ª série que há nas pessoas se manifestou com gosto. E apimenta uma relação que parecia amistosa, respeitosa e cordial. Na loucura de Baku, a faísca virou fogo.

E agora existe uma rusga que vai incendiar os boxes de Ferrari e Mercedes. Com colaboração dos coadjuvantes.