Blog do Victor Martins
F1

S17E07_CAN2

SÃO PAULO | Esperávamos todos uma disputa pela vitória, mas Verstappen — e aqui não cabe nenhuma inclinação de culpa — atrapalhou as intenções de Vettel. Montreal tem, junto com Mônaco, o pior espaço para largada na F1: ambos consideram uma curva acentuada, uma reta pequena e o contorno de uma curva fechada. Vettel larga na mesma balada de […]

20176101619563_063_694560856_DR

SÃO PAULO | Esperávamos todos uma disputa pela vitória, mas Verstappen — e aqui não cabe nenhuma inclinação de culpa — atrapalhou as intenções de Vettel. Montreal tem, junto com Mônaco, o pior espaço para largada na F1: ambos consideram uma curva acentuada, uma reta pequena e o contorno de uma curva fechada. Vettel larga na mesma balada de Hamilton. Räikkönen larga mal pra burro. Verstappen encontra uma fresta para passar o finlandês e tentar a linha de 3 — oi, Indy, minha boa amiga… — por fora. Max deu uma sorte danada de não furar aquele pneu traseiro esquerdo. E a asa putrefata de Vettel o jogou lá para o fundão.

Parando no início da corrida, Vettel só poderia pensar em uma estratégia de duas paradas que lhe fizesse escalar o pelotão; se ficasse com aquela, seus pneus chegariam em pandareco e é capaz que nem conseguissem passar Alonso ou Vandoorne no retão. Como Räikkönen também não fez porra nenhuma atrás de Ricciardo e Pérez, a Ferrari adotou a mesma tática para os dois.

O resultado mais plausível naquele cenário seria um sétimo lugar para Vettel. Se fosse naquela matemática que estudamos no ensino médio/fundamental, era a situação ideal para, no âmbito do campeonato todo, ‘anular’ as últimas duas corridas: corta a vitória de Vettel e o sétimo de Hamilton em Monte-Carlo, corta a vitória de Hamilton e o sétimo de Vettel em Montreal. Aí o alemão contou com um Kimi problemático e uma teimosia orquestrada por Pérez que entregou os dois postos da Force India. Uma voltinha mais, dava para Vettel pegar o pódio. Mas é sempre bom ter um pódio com Ricciardo. Professor Xavier que o diga.

Fato é que a Mercedes trabalhou muito bem pós-Mônaco. Era a resposta necessária a ser dada para a Ferrari. As duas equipes vão para todas as próximas provas jogando para a outra a responsabilidade da vitória, como já tem sido feito. E o campeonato caminha belamente com esta disputa que evidencia as qualidades absurdas de Hamilton e Vettel e com os dois coadjuvantes de luxo — o que fez Bottas no fim de semana todo a não ser figuração?

Sobre Ocon/Pérez: entendo perfeitamente quando a patuleia simplifica a questão com um “se está mais rápido, passa”. Mas também há de se entender, ainda mais nesta nova F1 de turbulências e dificuldades, que nem sempre quem está mais rápido consegue passar. E que a possibilidade de algo acontecer no índice VDM é alta. Como quase aconteceu quando Ocon partiu pra cima e tomou uma fechada. Se acontece um incidente qualquer entre os dois ali, capaz de Vijay Mallya cavar um túnel de qualquer lugar que esteja na Inglaterra e chegar escondido no Canadá para dar umas boas bifas nos dois. Ocon, novo, foi decente no pedido; Pérez, compreensivelmente duro, mas turrão e inconsciente. Ao não pensar no resultado que a equipe poderia ter, o mexicano se queima não internamente, mas numa F1 que pede por pilotos mais maduros e que pensem de forma holística. Se Pérez tinha lá seu nominho no topo da lista da Ferrari, certamente ganhou um asterisco para que Arrivabene & cia se lembrem bem deste episódio.

Quanto a Ocon, vai brilhar muito ainda.

Hülkenberg comeu pelas beiradas com o que lhe é possível e Stroll fez uma corrida decente, com alguns erros notórios quando tentava ser ultrapassado, mas que lhe dá pontos que ao menos tiram uma pressão do tamanho do mundo. Numa situação normal, com Massa, Sainz e Kvyat na pista, terminaria ali num décimo-qualquer coisa.

Sainz é outro que precisa se cuidar. Depois de um excelente sexto lugar em Mônaco, dá uma dessa em Montreal, acertando Grosjean sem piedade. Mais um azar de Massa nesta pista.

Por fim, Alonso. O caso de Alonso tem de ser estudado. O que ele virou em dois meses é algo magnífico. Como a Indy lhe fez bem. O camarada tava lá em Montreal, provavelmente já de saco cheio diante daquele carro-motor 1.0, e na noite de sábado resolve ligar para conversar com Paul Tracy durante o GP do Texas. Daí solta que já não descarta correr a temporada inteira da Indy. Daí faz uma corrida à Alonso, máxima aonde pode chegar, abandona a duas voltas do fim e vai pras arquibancadas ser idolatrado. O Alonso pré-Indy jamais faria isso. Jamais. É uma outra pessoa, que dificilmente continua na McLaren e vai ser feliz correndo de qualquer outra coisa, possivelmente esta mesma Indy, no ano que vem.

É bem legal ver quando alguém se acha de novo na vida.