Blog do Victor Martins
F1

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SÃO PAULO | No sábado, foi Alonso; no domingo, foram Vettel e Hamilton. As gentes vivem se digladiando para defender quem é o melhor dos três, mas seja qual for a opinião ou o argumento, a verdade é que é um privilégio imenso vê-los em ação. A ultrapassagem do alemão sobre Bottas é absolutamente do […]



SÃO PAULO | No sábado, foi Alonso; no domingo, foram Vettel e Hamilton. As gentes vivem se digladiando para defender quem é o melhor dos três, mas seja qual for a opinião ou o argumento, a verdade é que é um privilégio imenso vê-los em ação. A ultrapassagem do alemão sobre Bottas é absolutamente do caralho — com direito a roda na terra e um dibre digno de Messi —; a de Lewis sobre Sebastian foi incisiva e decisiva.

Hamilton venceu, mas Vettel também. E, de novo, se vê o respeito que ambos têm um pelo outro celebrado nas conversas, nos toques corporais e no tim-tim com as garrafas de champanhe no pódio. Não é só um privilegio vê-los em ação: também é pelo campeonato que vão entregar ao público, as disputas por pole e pelos triunfos, as ultrapassagens e as estratégias. Neste passo, 2017 vai ser o melhor dos últimos tempos.

Bem, cada equipe do trio-de-ferro sofreu um revés em Barcelona. Bottas ajudou Räikkönen e Verstappen a se matarem na primeira curva e depois sucumbiu diante de um motor velho e cansado da Mercedes. Todo mundo viu o que fizeram Hamilton e Vettel; ninguém viu mais do que 5s de Ricciardo. A Red Bull andou para trás na pista em que prometeu ir para a frente. Vai correr para ser quinta e sexta no resto do campeonato porque dificilmente há de levar qualquer atualização que encontre de vez o caminho das glórias. E não vai ter a companhia de nenhuma outra escuderia que hoje está atrás.

Mas mesmo que esteja bem abaixo, a Force India é digna de aplausos. Sem grana, faz um trabalho impecável em 2017 dentro de suas limitações com dois pilotos sem limites. Pérez há tempos vive uma fase áurea e mostra a cada corrida que merecia estar em um carro de ponta. Ocon chegou na F1 aos 30 do segundo tempo na temporada passada e parece que tem uma experiência longa. Já se classifica melhor que o companheiro e anda no ritmo dele nas corridas. E é tendo esta dupla excelente que os anglo-indianos são, de longe, a quarta força da F1 que não são. Quarto e quinto lugares em Barcelona é muito acima das expectativas, mas são uma recompensa pelo pacote. A Force India venceu e fez dobradinha.

A Renault tem tudo para assumir esse papel porque tem janela grande para desenvolvimento, incluindo orçamentária, mas peca por ser um time de um carro. Hülkenberg é ótimo, muito acima da média, e já conseguiu o melhor resultado da escuderia do losango na volta à F1. Palmer é abaixo de qualquer crítica: terminou a prova só à frente de Stroll, péssimos-quinto e péssimos-sexto. A Williams vive o mesmíssimo problema, e com a questão da grana curta. Só com Massa, vai amargar resultados ruins e situações perdidas. Perdeu um quarto lugar tranquilo com o incidente com Alonso na largada. Em Lance, só fica de olho e nada se espera.

Detalhe da história: depois da classificação, Massa minimizou o fato de largar atrás de Alonso e explicou que era pela eventual facilidade de superá-lo na reta. Realidade na corrida: Alonso passou Massa com aquele motor Honda na reta.

Wehrlein também venceu. O que esse moleque fez com a Sauber, andando em sétimo com certa imponência, e só perdendo a posição no ‘tapetão’ — não entendi muito bem esse negócio da punição na entrada nos boxes —, indica que ele evoluiu muito e superou o trauma das relegações que teve em menos de um ano — na Force India para Ocon e na Mercedes para Bottas. Aliás, nas três corridas que fez, andou bem demais. Quase pontuou no Bahrein e segurou, com um motor velho da Ferrari, Sainz e as Haas.

Mas o que fica é a cena do moleque Thomas. Thiago Arantes, lá em Barça, foi atrás dele e dos pais para ouvir a história. A Ferrari que o chamou depois de ver seu choro pelo abandono de Räikkönen. E o sorriso dele, então, quando estava ao lado do finlandês, que também estava super feliz. São momentos raros e únicos de um esporte que havia perdido por completo as emoções além da competição e transformado tudo em algoritmos, telemetria e tecnologia. Esta nova F1 de Chase Carey vai apagando os rastros meditabundos da de Bernie Ecclestone com louvor. Permitir esse papel social para engajar a molecada é o maior dos acertos. E nem digo que este vai ser o melhor momento da temporada 2017 porque eu espero mais e mais.

De qualquer forma, a F1 venceu. E muito.