Blog do Victor Martins
F1

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SÃO PAULO | O acidente de 5ª série entre Sainz — totalmente culpado — e Stroll definiu a prova em favor de Vettel. Não que o resultado fosse necessariamente outro caso o safety-car não tivesse entrado na pista, mas foi nele que Hamilton perdeu a corrida ao cometer uma infração tola. Há algumas questões que […]

SÃO PAULO | O acidente de 5ª série entre Sainz — totalmente culpado — e Stroll definiu a prova em favor de Vettel. Não que o resultado fosse necessariamente outro caso o safety-car não tivesse entrado na pista, mas foi nele que Hamilton perdeu a corrida ao cometer uma infração tola.

Há algumas questões que bastaria ao atleta dedicar um ou dois dias de sua atribulada vida para ler o regulamento de seu esporte — e isso não vale só a Hamilton, diga-se, então não há nenhuma queixa ou qualquer menção ao que faz fora das pistas. Ficou tão claro que ele prejudicou Ricciardo na entrada dos boxes que não havia como não puni-lo. Lewis nem precisava daquilo — tanto que sua tática não funcionou, o australiano voltou à frente e, na relargada, o inglês o jantou em menos tempo que a própria punição de 5 segundos.

Os 5 segundos fariam, ao menos, com que Hamilton chegasse em Vettel no fim da corrida para ao menos ameaçá-lo. Lewis disse brincando, no pódio, que estava ‘ficando velho’. Creio que foi justamente o contrário, no caso. Foi um erro juvenil. Um erro de 5ª série.

Ao vencedor, o não champanhe. Vettel partiu para a vitória na tática da Ferrari, que tem um carro ao nível da Mercedes em corrida e que precisava se livrar do meio-lento Bottas depois de uma dezena de voltas. Logo na sequência, veio o SC, mas o alemão já havia voltado à frente do finlandês. Some-se a punição de Hamilton, e aí Sebastian partiu para um triunfo contundente e firme. Como já analisou André Avelar, um cara que não é um piloto de um carro só, como os detratores teimam em tentar colar.

Quanto a Bottas… bem, antes do GP da China, ele já havia deixado claramente que, em nome da lealdade, abriria para Hamilton se lhe fosse pedido. Isso aconteceu, segundo o próprio, três vezes durante o GP do Bahrein. E nas duas vezes que Lewis se aproximou mesmo para efetuar a ultrapassagem, o tapete prateado lhe foi estendido. Apesar de já esperado, Valtteri, pole, ao menos poderia ter tido um tico de decência e personalidade para não cair na vala comum de quem já fez isso e nada ganhou na carreira a não ser desgosto e arrependimento. Que se dane se havia um problema de pressão: tá mais rápido e quer ser campeão, bonitão?, vem pra cima e briga decentemente. Vê se isso acontece na Red Bull entre Verstappen e Ricciardo — ainda que os dois não briguem pelo título. Mas na terceira prova, acontecer isso, só confirma a tecla que vem sendo insistemente batida: Bottas e Räikkönen tão ali para compor quadro de segundo piloto e funcionário do mês.

Räikkönen, então, se classificou atrás de uma Red Bull, largou até que bem, foi pra cima de Ricciardo na curva 3, perdeu ação e acabou ultrapassado por Massa. Demorou um bocado de tempo para superar o brasileiro. Veio o safety-car, Felipe apareceu em quarto, à frente dele de novo. Kimi levou outro bocado para superá-lo. São três provas horrorosas. É compreensível que o povo tenha boa vontade com uma personagem que é lacônica em entrevistas, tem relacionamentos frios com os demais colegas e solta frases de efeito e engraçadas. Mas o que faz em pista, e com o carro que tem nas mãos, não vale o preço.

Ricciardo foi quinto com o que a Red Bull pode lhe proporcionar e Massa teve um desempenho firme, bem diferente do da semana passada. Fez o que deu para se manter à frente de Räikkönen, chegou a incomodar Ricciardo, terminaria em sétimo se Verstappen estivesse na pista, ou seja, ficou no lucro de um lugar e fez o máximo que dava.

As duas Force India foram de novo aos pontos, com Pérez em mais uma atuação brilhante — que tal se a Ferrari lhe olhasse com melhores olhos? —, Hülkenberg fez o que dava com uma Renault que é rápida em classificação, mas perde desempenho em corrida, Palmer tentou um brilhareco, mas no fim terminou na posição que se espera dele, último, Wehrlein andou melhor que Ericsson e Alonso reclamou mais e mais.

Alonso está de saco cheio da Honda e da McLaren. Para falar que a Indy 500 vai refrescar a cabeça, é que começa a ficar também de saco cheio dessa F1 que não vai lhe dar mais do que os dois títulos.

E juntando tudo, nada mais claro que Vettel e Hamilton vão para a disputa de mais um título num campeonato que vai mesclar corridas interessantes como as da China e do Bahrein e outras insossas como a da Austrália.

Por fim, sobre Verstappen. Ontem veio a declaração que mexeu com a torcida brasileira, com muito orgulho e com muito amor, aquela de que não foi lá tirar a limpo com Massa porque “ele é brasileiro e nem adianta discutir”. Bem, não sabemos exatamente como foi dito, de que forma e tudo mais, mas a coisa mais compreensível para seu lado que se pode tirar da declaração é que brasileiro é teimoso e que dificilmente se tenta argumentar para convencer de que está errado — e digamos que isso não esteja tão distante da realidade. Mas a questão é: quantos 35 anos ele tem na vida e com quais outros brasileiros Verstappen conviveu para ter essa opinião tão embasada? Qual é a razão, seja brasileira ou qualquer outra nacionalidade, para que se aplique uma generalização tamanha? Da mesma forma, não seria nada legal se Massa respondesse a ele que não dá bola para um ‘maconheirinho’ só pelo fato de ser holandês, por exemplo. São definições que, acima de tudo, levam a correlações errôneas e, em tempo de ódio, mais ódio.

Verstappen é um piloto genial, o mais impressionante que vi na chegada à F1. Mas quando é confrontado, vomita o que há de pior. Ainda há tempo para aprender e ser alguém melhor. Se começar pela boca fechada quando não tiver o que falar, já será uma bela lição.

Adendo 1: Acabo de ler a reação de Massa em entrevista ao UOL Esporte. “Eu falei para ele hoje: ‘Tome cuidado com o que você fala porque você vai ter que ir para o Brasil correr lá. Cuidado com o que você fala'”. Os 35 anos que Massa tem na vida se reduziram aos 19 que Verstappen tem, completando este festival da infantilidade.