Blog do Victor Martins
F1

S17E01_AUS03

SÃO PAULO | É legal ver Vettel e/ou uma equipe que não a Mercedes ganhando? É. É legal também ver a forma com que ganhou, controlando a corrida, com um carro decente e não só meramente porque Hamilton ficou encaixotado atrás de Verstappen? Também é. Mas é só. Por mais que se controle a expectativa […]

SÃO PAULO | É legal ver Vettel e/ou uma equipe que não a Mercedes ganhando? É. É legal também ver a forma com que ganhou, controlando a corrida, com um carro decente e não só meramente porque Hamilton ficou encaixotado atrás de Verstappen? Também é.

Mas é só.

Por mais que se controle a expectativa e até mesmo se adote um pensamento pessimista para que a decepção não seja grande, a nova F1 é um horror, por enquanto. Em quase tudo. Tirando os carros bonitos e alguns triquetriques de novidades, não há muito o que se aproveitar. A corrida foi modorrenta e preocupante. OK, é a Austrália, a pista não é lá muito propícia e convidativa às ultrapassagens, mas não houve, em linhas gerais.

Quer um exemplo? A briga distante lá atrás Alonso – Hülkenberg. Na largada, o alemão da Renault tentou passar uma Toro Rosso, não conseguiu, com muita ação, lá pela curva 11, e acabou tomando a ultrapassagem do espanhol da parca McLaren-Honda, que estava em regime de contenção de gasolina e fazia o espanhol do chilique ser mais lento propositalmente — mal comparando, deixava o carro rolar assim como Dixon faz na Indy. Hülk não conseguiu superá-lo a corrida inteira. Só foi passar no fim, quando a McLaren pediu arrego.

Vettel tinha mais carro. Ficou nítido logo no começo da corrida. Andou colado por seis ou sete voltas, e quando percebeu que não teria qualquer chance de superar Hamilton, ficou ali cozinhando o galo, deixando a diferença não passar de 2s. Aí os pneus ultramacios de Lewis foram para o espaço, e na volta 18 ele entrou para os boxes. Como a Mercedes é uma equipe pequena, sabe?, não tem lá profissionais muito gabaritados, ainda há de ser grande, não teve ninguém a calcular que voltaria atrás de Verstappen. Voltou. Ficou preso. Vettel, com pneus mais desgastados, foi fazendo voltas mais rápidas, a Ferrari chamou, matou a questão, 25 pontos para o bolso.

E outro ponto que se tira: é Vettel × Hamilton, como se previa. Bottas até que não andou mal, mas em nenhum momento foi qualquer incômodo ou representou um plano B para a Mercedes ganhar a corrida. E Räikkönen? O que foi Räikkönen nesta prova? Se alguém tinha alguma esperança de que Kimi poderia ser um candidato ao título, o desempenho ‘padrão Red-Bull’ já dá o recado. Foi ficando para trás com constância, quase tomando 30s do vencedor em determinado momento da prova. Ficou na alça de mira de Verstappen, quinto colocado. Max, sim, merece um carro à altura de sua capacidade, não essa Red Bull capenga — e não parece somente uma questão de potência de motor, não. Tem coisas aerodinâmicas a serem melhoradas no RB13. Ricciardo, coitado, nem se conta. Nem tem como avaliar.

Massa ultrapassou Grosjean ali na largada e fez, desde então, uma corrida para o sexto lugar. Só isso. A Williams é uma quarta força muito da solitária neste início de ano. Massa é a Williams durante o ano. Com um piloto como Stroll no outro carro, não há o que se fazer.

A Haas tem um carro bom, mas é pouco confiável. Magnussen, que causou o toque com Ericsson depois da largada, precisa melhorar muito para chegar aos pés de Grosjean. A Toro Rosso, de fato, evoluiu; a Force India tá em um patamar mediano. As duas brigam entre si, e foram elas com todos os carros — Sainz e Kvyat, Pérez e Ocon — que completaram a zona de pontos. Alonso até sonhou com a laranja podre, mas não deu. A Renault vive com um piloto também, Hülk. Palmer é um fiasco. A Sauber não é das piores coisas do mundo.

Agora, o que foi esta transmissão? O que foi o problema contínuo nos três dias para informar ao telespectador coisas básicas como tempos, diferença, evolução numa volta ou até mesmo a cor correta dos carros ao lado dos números dos pilotos? Por que replays e recuperação de imagens em algum acontecimento interessante ou não entravam ou demoravam a ir ao ar? A única novidade revelante que foi apresentada foi a subdivisão dos três setores; de resto, um caos que mal explicou, também, o que aconteceu na investigação dos comissários naquele toque entre os pilotos nórdicos ou até mesmo por que a largada foi abortada. Insistiram ali em mostrar a imagem de Hülk como se ele tivesse errado a posição de largada, mas não havia onde ele errar — não tinha espaço no grid à frente dele.

Só depois de várias horas é que informaram que foi a luz do sinal ao lado de Kvyat que começou a piscar. Mas nem a luz de largada funciona na F1. E tampouco a informação correta em um tempo aceitável.

E outra, que é de deixar indignado: apareceu lá o ‘battle for 1st’. Todos os pilotos separados entre si entre 7 e 10s. Que batalha pelo primeiro lugar que o quinto colocado está a 30s do primeiro? Que porra é essa, gente?

Ou seja: são 10 dias até a casa ser arrumada certinho para um ‘relançamento’ da F1 na China — onde há um retão para mostrar o que é possível fazer em termos de ultrapassagem. Se for isso aí da Austrália, pode jogar essa ‘nova F1’ na lata do lixo, mesclar com a antiga ou preparar a toque de caixa uma nova. Ter um campeonato acirrado com péssimas corridas é tipo manter o frasco do perfume vazio de 500 conto em casa. Ninguém precisa disso. Essa F1 não vale a ida à perfumaria.