Blog do Victor Martins
F1

O que dizem os testes

SÃO PAULO | Foram longos oito dias de testes de uma pré-temporada bem mais interessante — e trabalhosa, em todos os sentidos — da do ano passado. Havia ali na pista uma dezena de carros e 2o pilotos titulares — além de um reserva e outro chamado em substituição — dispostos a entender esta nova F1 de carros e […]

SÃO PAULO | Foram longos oito dias de testes de uma pré-temporada bem mais interessante — e trabalhosa, em todos os sentidos — da do ano passado. Havia ali na pista uma dezena de carros e 2o pilotos titulares — além de um reserva e outro chamado em substituição — dispostos a entender esta nova F1 de carros e pneus mais largos, barbatanas e apêndices esquisitos. Junte-se a isso o fato de o GRANDE PRÊMIO ter estado em Barcelona com dois repórteres — Thiago Arantes nas duas semanas e Evelyn Guimarães em uma. E já dá para ter uma ideia do que ao menos vai ser o começo do campeonato.

É cedo? É. Pode ser precipitado? Pode. Mas tamo aí pra isso. A Ferrari passou a Mercedes. Isso é notável nos dias 7 e 8. Vettel foi o mais rápido ontem tirando o pé claramente no último trecho, setor 3 da pista, ali no trecho da chicane que leva à reta principal; Räikkönen tirou o recorde da mão do companheiro com pneus piores: o alemão girou com ultramacios e o finlandês, supermacios. Ficar em silêncio fez bem ao grupo de Maranello. Falaram pouco, trabalharam muito.

A Mercedes obviamente vai achar alguma solução no intervalo de duas semanas até o GP da Austrália. Mas se percebe que ela não está nadando de braçada quando se começa a testar uma série de elementos que até então lhe eram desnecessários. Exemplo é aquela asa dupla-T horrorosa, uma aberração que parece uma antena parabólica Santa Rita pendurada em um carro de F1. Lauda, que não costuma blefar, já fala em ano difícil. Hamilton já soltou que a Ferrari está pelo menos no mesmo nível. É outro que não costuma também camuflar a situação. Bottas parece ter se encaixado bem no time, mas também não vai sair cuspindo abelhas afro-descendentes. A Mercedes vai ter achar um meio segundo aí para brincar de igual para igual.

A Red Bull é a grande incógnita até agora. É natural dela fazer o papel de marketing para qualquer lado. Verstappen e Ricciardo andam à sombra, pouco falam, mas indicam que o RB13 até pode ter nascido bem, mas não está à altura dos dois primeiros. Ainda há o que se buscar do novo motor Renault que dá alguma dor de cabeça à equipe de fábrica e também à Toro Rosso. Neste caso, fica mais uma aposta do que propriamente uma certeza, quase que jogar no Barcelona depois de tomar 4 a 0 do PSG: na primeira parte da temporada: é a quarta força do momento. Atrás da Williams.

Quando a gente viu aquelas duas fotos simplórias do FW40, logo tratou de desdenhar e fazer muxoxo. Mesmo quando veio a apresentação ‘oficial’, a impressão que se tinha era de que a equipe faria um papel similar ao do ano passado, tentando ser a melhor do resto. Na pista, com um Massa muito mais relaxado e despojado, mostrou-se que pode ser, no mínimo, a pior das grandes. O carro, acima de tudo, é confiável: anda, anda, anda, e não se encontra um problema. Ao andar em ritmo rápido, teve tempos interessantes. O único pormenor é o segundo piloto. Stroll vai demorar para engatar. OK, começou agora, tá pegando mão da coisa, mas só entenda a comparação com dois nomes jovens e recentes: Verstappen e Ocon. Deve resumir bem ou fazer com que se pense a respeito.

Das seis equipes restantes, há algumas claríssimas certezas e outras dúvidas por um olhar nem tão atento assim.

Bom, a não ser que a Honda ache uma nova pólvora, Alonso e Vandoorne não completam o GP da Austrália e, talvez, os seguintes. É espantoso ver como uma montadora erra a mão duas vezes na fabricação de um produto que deveria ser sua prima donna. Do primeiro ao último dia, o mesmo contratempo crônico de vazamento de combustível. O espanhol já sabe que já era, e por isso que não se furta em atacar publicamente a fábrica japonesa. O belga arrisca a seguir o mesmo discurso, porém mais polidamente. A McLaren não conseguiu dar mais do que 11 voltas seguidas em oito dias. O motor beirou ser 30 km/h mais lento; quando a Honda liberou um pouco potência, foi 15 km/h. Fiasqueira total.

A Toro Rosso é belíssima. Dá gosto de olhar para o carro. Mas se não se achar com o Renault, há de dar as mãos com os laranjas. Ainda que em menor escala, não houve um dia em que Sainz e Kvyat puderam acelerar plenamente o que parece ser um modelo decente, que vem para incomodar o meio do pelotão. Talvez seja o máximo que dê para extrair neste momento.

Já se sabe que a Force India tem um problema de peso. Pedir para que seus pilotos, já magros, percam 2 kg até a Austrália me remetem ao MMA e a insana vida de quem tem de perder 10 desidratando e suando como um porco no rolete. Além de ser um carro esteticamente pavoroso, há alguns pontos a serem resolvidos. Pequenos, segundo o mexicano. No fim das contas, a Force India deve ser a quinta ou sexta força.

Tem ali a Renault. Há um paralelo com a Williams: a diferença entre os pilotos. Hülkenberg vai carregar a equipe no colo e nas costas, alternadamente, três séries de 12, 40 segundos de descanso. O carro novo resolveu alguns dos problemas do ano passado, mas não é rápido o suficiente para dar o salto pretendido. O que conta a favor é a grana que a montadora vai despejar. A possibilidade de evolução é enorme. O começo, então, se desenha claudicante para que o fim do ano mostre algo parecido com o quinto lugar no grid entre os times.

Quanto à Haas, há uma evolução evidente em relação a 2016. Os caras trabalharam neste carro há um ano, então não podia sair algo pelo menos confiável. Os tempos de Magnussen e Grosjean ficaram sempre no meio do pelotão, o que indica uma possibilidade alta de briga por pontos aqui e ali, dependendo da confiabilidade de quem vem na frente.

E tem a Sauber. Que vai ser a última colocada do ano caso McLaren e Toro Rosso melhorem. Com um piloto mediano (Ericsson) e outro zicado (Wehrlein), Monisha Kaltenborn tem de dar graças que a Manor não tá mais no grid.