Blog do Victor Martins
Automobilismo brasileiro

Em apuros, sim

SÃO PAULO | Xô contar umas coisinhas aqui procêis. Percebi que a F-Truck começava a cambalear de vez quando, em 16 de fevereiro do ano passado, postei uma mensagem questionando sobre seus apuros. Até então, não sabia a razão pela não renovação da Crystal, do Grupo Petrópolis — sempre parceiro da categoria —, e era […]

SÃO PAULO | Xô contar umas coisinhas aqui procêis.

Percebi que a F-Truck começava a cambalear de vez quando, em 16 de fevereiro do ano passado, postei uma mensagem questionando sobre seus apuros. Até então, não sabia a razão pela não renovação da Crystal, do Grupo Petrópolis — sempre parceiro da categoria —, e era desnecessário explicar a diminuição da verba aplicada pela Petrobras. E na mesma postagem, vinha a notícia de que a Bridgestone daria lugar à Pirelli.

Lembro que tive uma reunião naquele dia e só cheguei em casa por volta de umas 20 e tantas. Recebi três ligações; a primeira, não deu para atender; as outras duas, pediam de joelhos para que desmentisse a informação sobre a troca de pneus e até retirasse o post do ar. Ao acessar o e-mail, uma mensagem via assessoria da F-Truck nos mesmos moldes. Três semanas depois, o incansável e furante Américo Teixeira Jr. também confirmou a informação em seu ‘Diário Motorsport’. Em um determinado dia, Ameriquinho ligou para a assessoria de imprensa da fabricante, que negou; meia hora depois, nem isso talvez, chegava pelo e-mail um convite para o anúncio da info.

E, então, a temporada da Truck foi acontecendo. Equipe de transmissão foi trocada porque não pagaram os então titulares Celso Miranda e Eduardo Homem de Mello — e a outros que vieram depois, a cena se repetiu. Prova que não foi transmitida, a de Campo Grande, pela geradora oficial, Máster TV. Público minguando. Gente não correndo. Dívidas e queixas só crescendo. Nossa turma lá no Grande Premium começou a investigar. O negócio era profundo. Era tanta coisa que tivemos de dividir o material de ‘Um caminhão de problemas‘ em três partes; surgiu uma quarta como consequência.

Neste tempo todo, teve quem preferiu camuflar a situação — quem tinha negócios no meio, quem tem um perfil mais reservado ou até mesmo quem acha que a imprensa esportiva não tem função de investigar — e teve quem preferiu deixar às claras, sem tapar o sol da baixada santista com a peneira desgastada. Entre a penhora de caminhões e, até mesmo, a restrição de alimentação aos funcionários — que não recebiam salários —, a F-Truck achou que uma das soluções seria calar a reportagem. Entrou na Justiça pedindo a retirada do ar e a remoção de todo o conteúdo do que havia sido publicado. A juíza de direito Priscilla Bittar Neves Netto indeferiu o pedido entendendo que “não há prova de que tais reportagens estejam veiculando conteúdo inverídico ou ofensivo à imagem da autora, devendo prevalecer a liberdade de expressão e dos meios de comunicação”. Muitos ficaram tresloucadas.

Um daqueles que expôs os fatos foi o campeão Felipe Giaffone. Ao Grande Prêmio, em entrevista a Fernando Silva, contou que sofreu uma tentativa de ‘mordaça’ durante as corridas porque a presidente da categoria, Neusa Navarro Félix, tinha medo de que ele abrisse a boca. Avaliou que as últimas etapas estavam “piores que a de um regional” e que sua gestão era “ridícula”. E que não tem interesse em tocar um novo campeonato de caminhões, seja ele qual denominação tiver.

Porque tem essa, agora: Truck e CBA, que já não falavam mais a mesma língua, agora estão sem conversar. A primeira quitou suas dívidas com a entidade, mas não renovou o contrato depois de 31 de dezembro. O que significa que a categoria não quer que a confederação seja responsável por seu campeonato. Sendo assim, a CBA — longe de ser a santa correta — se viu no direito de achar uma nova promotora. Deu o prazo até o fim da semana agora. Quem é que, no Brasil de hoje, à míngua em tudo, vai querer pegar uma bucha dessa? Vicar, claro que não; as equipes ‘anti-Neusa’ não teriam força; e as montadoras não querem saber de mais nada.

Na F-Truck, com esta nomenclatura, há 13 caminhões disponíveis — até quando? — para quem quiser pagar e correr. Soltaram um calendário com 12 provas, sendo três delas fora do Brasil, para que houvesse uma denominação de campeonato sul-americano, em um indicativo de que correria sob filiação da Codasur. Não parece que haja dinheiro para se fazer esta competição, ainda mais fora das fronteiras. Também, não parece que as datas estipuladas para correr nos autódromos brasileiros sejam respeitadas pela CBA: se houver uma ‘Truck 2’, a entidade pode muito bem marcar as corridas nas mesmas datas porque não reconhece a ‘oficial’; se não houver, a CBA pode marcar qualquer evento nestas praças; comissários e funcionários, não vai disponibilizar. E digamos que haja problemas da Truck também com alguns autódromos. Aqui, ó, dá uma olhadinha por que não tem corrida em Santa Cruz do Sul.

Assim sendo, quase um ano depois daquele post, a interrogação não é mais necessária. A F-Truck está em apuros. Está além disso. E, ó, não é por causa da crise, não. Porque a crise, neste caso, tem sua prosopopeia certa e sabida. Tem nome e sobrenome.