Blog do Victor Martins
F1

Suzuka Kawasaka

SÃO PAULO | É a quarta corrida na sequência que pouquíssima coisa atrai numa corrida de F1 em termos de competição. Só para não passar em branco: a largada foi interessante: Rosberg até foi resistente ao se manter emparelhado com Hamilton por fora na curva 1, mas na seguinte, em vez de se manter firme, deixou […]

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SÃO PAULO | É a quarta corrida na sequência que pouquíssima coisa atrai numa corrida de F1 em termos de competição.

Só para não passar em branco: a largada foi interessante: Rosberg até foi resistente ao se manter emparelhado com Hamilton por fora na curva 1, mas na seguinte, em vez de se manter firme, deixou que o companheiro fizesse a tangência aberta, foi para fora da pista e caiu para quarto lugar. Ai, nenê, não tem o que fazer. E olha que Nico até foi peitudo em sua remontada, como se brigasse nesta corrida pela chance final de título, ao passar Bottas na chicane para ganhar o terceiro lugar. Acordou tarde, fio. Ainda terminou em segundo ganhando a posição de Vettel na tática de boxes, mas a face da derrota ficou expressa no pódio com aquela cara de quem curtiu show de Sam Smith.

O campeonato já é de Hamilton há algum tempo, mas a frase solta por Rosberg como que num desabafo despercebido, denotou que a toalha está jogada: “Eu tinha de ter vencido esta corrida”. Não só essa, na real, mas outras tantas em que não houve sequer empenho.

Outro caso da largada definiu as sortes de Massa, que largou muito mal, e Ricciardo, que vinha atrás na posição de fila e logo superaria o brasileiro se tivesse o espaço suficiente para que não houvesse o toque. Os dois perderam a oportunidade de conquistar “bons pontos”, como virou modinha dizer. Restou a Bottas e Räikkönen correrem sozinhos pelas migalhas do quarto e quinto lugares, pois. Hülkenberg também se deu bem no começo ganhando seis posições de cara e fez quase uma prova solo, pondo-se à frente das duas Lotus — Maldonado chegou ao fim, registre-se.

Ao resto, a coisa se resume em pontos que passam ao largo da prova em si.

Primeiro: o rádio de Alonso em que, de início, se mostrava “envergonhado” por tomar ultrapassagens a torto e a direito nas primeiras voltas; depois, que tinha um “motor de GP2” ao ser deixado para trás por Verstappen após certa resistência. Não parece haver muitas dúvidas de que a paciência do espanhol já foi pro saco e que seus atos são bastante semelhantes de quando estava de saída da Ferrari. Não se critica a Honda assim na casa da Honda. E não é voltando para os boxes e abraçando Éric Boullier que se ameniza o negócio. E então veio algo parecido com isto: “Está feliz, Fernando?”, “Sim, estou”. “Ah, mas você confia no projeto?”, “Claro, confio, é o único que pode bater a Mercedes”. “Ah, OK, uma última pergunta: você vai ficar na McLaren?”. “Hum, não sei”.

OK, acho que entendemos.

Segundo: Verstappen: repararam no tempo que foi dedicado ao moleque durante a transmissão? E, concomitantemente, repararam o quanto não foram mostrados devidamente os carros de Mercedes e Ferrari na prova? Sobre a questão inicial, claro que isso se deve aos feitos que Max têm demonstrado na F1 e o quanto ganhou com aquele “não” imponente de quem não deixaria o companheiro Sainz passar — e a quem superou na prova de hoje; com relação à outra, foi uma impressão geral, a de que parecia haver uma determinação para evitar mostrar sobretudo os modelos pratas. O que pingou de início na sala de imprensa é que seria uma represália arquitetada por Ecclestone por as duas equipes/montadoras estarem de mimimi para fornecer motores à Red Bull, que ameaça tirar seus quatro carros do grid e daria uma enxaqueca a Bernie daquelas.

Mensagens de rádio e declarações de um bicampeão descontente, foco em uma revelação promissora e ausência de foco da transmissão da TV em duas equipes: são estes os assuntos mais interessantes em Suzuka. Não é absurdo que uma corrida de F1 se resuma a estes tópicos? Que se chegue na décima volta e se questione a razão de estar acordado para vê-la? Ou que, se tem disputa, é lá no pelotão do vuco-vuco?

E aí se compreende quando este bicampeão descontente sai dizendo que pode ser campeão em outra categoria, sinal de que não aguenta mais andar lá trás, além de já ter expressado que preferiria os carros de outras épocas. E aí se entende também quando Button pensa em parar porque não faz sentido se esforçar para andar em décimo-qualquer-coisa. Porque é isso: se deixou de despertar no público, a F1 também já não desperta tesão nos pilotos pelo conglomerado de regras absurdas que limitam a engenharia e a capacidade dos partícipes protagonistas.

E aí a gente fica com cara de quem acabou de ouvir Sam Smith, meditabundo, entristecido, quase que sem rumo.