Blog do Victor Martins
F1

Vendo Monza 86 único dono

SÃO PAULO | Concordamos todos que a corrida na Itália foi uma porcaria inominável? OK, então passemos ao que deu alguma emoção e agito no domingo: o rádio da Mercedes a Hamilton pedindo que ele acelerasse no fim da corrida em ritmo de classificação sem que ele questionasse a razão. A Mercedes acabara de ser informada que […]

SÃO PAULO | Concordamos todos que a corrida na Itália foi uma porcaria inominável? OK, então passemos ao que deu alguma emoção e agito no domingo: o rádio da Mercedes a Hamilton pedindo que ele acelerasse no fim da corrida em ritmo de classificação sem que ele questionasse a razão.

A Mercedes acabara de ser informada que a FIA havia verificado de um dos pneus de seu carro, o esquerdo traseiro, tinha uma calibragem de pneu abaixo da permitida pelas indicações atualizadas pela Pirelli e pela entidade. Cônscia do erro, a equipe imaginava que, se houvesse uma punição, ela poderia ser de 25s — então a meta era abrir tal distância a Vettel. Conseguiu raspando, por 0s042. O mesmo problema foi averiguado no carro de Rosberg, que pouco importava até então por seu abandono a duas voltas do fim pelo estouro do motor.

Enquanto a Mercedes dava suas explicações aos comissários, levando a tiracolo seus pilotos, todos os engenheiros das demais equipes apontaram que se tratava de um caso não de apenas acréscimo de tempo de corrida, mas de exclusão da prova. A Pirelli e a FIA, segundo eles, haviam sido enfáticos em relação ao caso da baixa pressão dos pneus. Questionado, Paul Hembery, diretor da fabricante italiana, cutucou para então confirmar que, sim, havia ocorrido um ganho de performance.

Assim, não deixa de ser surpreendente que Hamilton tenha saído sem qualquer pena, mantendo sua vitória no GP da Itália.

Por quê? Nem precisa ir tão longe: classificação da GP2 na sexta-feira. Mitch Evans e Sergio Canamasas foram excluídos de suas posições no grid, respectivamente segundo e nono, porque seus pneus estavam com a pressão mais baixa do que o estabelecido. As determinações se deram a todas as categorias. E isso basta para a única e grande questão: por que outro peso para a mesma medida?

Não fez diferença alguma para Hamilton no passeio dominical em Monza? Provavelmente não. 25s em 53s voltas são quase meio segundo por volta. Não é o pneu mais frio ou com menor pressão que fez dele o vencedor — e, na verdade, o pneu averiguado foi o do primeiro stint, o que o livra teoricamente de qualquer irregularidade no segundo trecho de corrida. Mudar de vencedor assim, depois da corrida, sem que Vettel tivesse sequer liderado uma voltinha, é ruim e chato? Pra cacete. Mas regra é regra, filhão, ainda mais quando houve um precedente similar que resultou numa desclassificação.

Tem outra: o comunicado que os comissários soltaram acaba sendo um puxão de orelha à Pirelli porque indica “protocolos mais claros da medição” da pressão. Porra, precisa realmente de protocolo para medir a calibragem do pneu? A F1 está tão cretina assim que precisa estabelecer como se deve medir como foi calibrada uma borracha redonda? E mais: do que adianta reunir Pirelli, pilotos e equipes, estabelecer uma normativa e depois não segui-la? Também desmerece todo o trabalho e todas as recomendações feitas pela Pirelli. É uma perda de tempo e um desgaste que se cria com a fabricante. Se ela saiu por baixo desde os episódios dos estouros dos pneus em Spa, fica ainda mais para baixo do tapete, mas agora sem razão. Como e por que seguir uma sugestão da Pirelli se ela simplesmente pode não ser obedecida?

Na Bélgica, teve o caso de Bottas andando com três pneus de uma cor/especificação e um com outra. Que é um caso clássico também para desclassificação — e só deram um drive-through. Corrida a corrida, sempre há uma interferência ou decisão que mina o esporte. A FIA é uma grande CBA, no fim das contas. É uma várzea de rodas com caráter mundial.

E parabéns a Hamilton, que hoje garantiu de vez o título de 2015. Nunca que este Rosberg, sem ação, moribundo, que com pneu mais frio no começo da prova só ameaçou uma vez Bottas, vai reverter uma situação de 53 pontos num Mundial em que Lewis sobra.