Blog do Victor Martins
F1

A nova vida dos Bianchi

SÃO PAULO | Diz-se que não há dor no mundo maior que a perda de um filho. Pois a família de Bianchi a sentiu desde que ele se acidentou em Suzuka no ano passado e lá mesmo se desligou. Por mais que se tivesse esperança em um milagre, o histórico de quem havia tido aquela ruptura […]

SÃO PAULO | Diz-se que não há dor no mundo maior que a perda de um filho. Pois a família de Bianchi a sentiu desde que ele se acidentou em Suzuka no ano passado e lá mesmo se desligou. Por mais que se tivesse esperança em um milagre, o histórico de quem havia tido aquela ruptura cerebral não apontava para uma continuação normal. Os Bianchi viveram dois períodos de parto com Jules, o da vida e o da morte, e pelo que sempre expressava o pai nas entrevistas, era um desejo condoído que aquilo acabasse.

Bianchi era moleque do sorriso fácil, do trato tranquilo, um destes talentos exuberantes que a F1 ainda estava por ver em uma equipe grande — a Ferrari. Fez com a Marussia o que ninguém conseguiu até agora, pontuar, e é em certa medida o responsável pela sobrevida da equipe na categoria. Entra agora para o imaginário do que poderia ter alcançado e para as estatísticas como a primeira morte após as de Ratzenberger e Senna.

Aliás, triste sina, a da Marussia, de ver um segundo piloto seu morto. A primeira foi Maria de Villota, que perdeu um olho depois de um acidente com um caminhão da equipe em um teste privado e veio a falecer um ano depois de causas naturais, porém evidentemente decorrentes do golpe que levou na cabeça.

Jules deixa um novo legado sobre as questões de segurança na F1, novos procedimentos e reavaliações, apesar de ter sido uma fatalidade daquelas que raramente se poderia imaginar acontecer. E neste sentido, pesam muito mais as decisões que foram tomadas naquele fim de semana em que o GP não deveria ter acontecido, face as consequências do tufão que assolou o Japão, do que propriamente os materiais e as células que protegem os pilotos.

E Bianchi também nos faz pensar como está Schumacher e na correlação com o caso, ainda que seja estranha e tolamente abafado pela família, como se não fosse do interesse público seu estado de saúde e se não houvesse uma preocupação mundial com um ídolo do esporte.

Ainda que tenha pegado todos de surpresa pelo momento em si, a morte de Bianchi também é o fim de um sofrimento arrastado. Era uma morte necessária, mesmo que doa pensar de forma desapegada de emoção e sem vínculo sentimental. A morte de Bianchi é a nova vida que a família precisa ter.