Blog do Victor Martins
F1

Alicia Silverstone

SÃO PAULO | Demorou quatro meses para que a F1 tivesse uma corrida decente — agradecemos. E o grande pavio disso foi a largada que pôs de forma fantástica Massa na ponta e, posteriormente, a afobação de Hamilton em querer passar o brasileiro tão logo o safety-car entrou nos pits, que culminou na entrega da segunda […]

SÃO PAULO | Demorou quatro meses para que a F1 tivesse uma corrida decente — agradecemos. E o grande pavio disso foi a largada que pôs de forma fantástica Massa na ponta e, posteriormente, a afobação de Hamilton em querer passar o brasileiro tão logo o safety-car entrou nos pits, que culminou na entrega da segunda posição a Bottas.

Deixe-se de lado a de Hülkenberg, que pouca gente conseguiu ver, mas foi tida pelo próprio como a melhor que já teve na F1: a largada de Massa, ontem, é uma aula. Ainda que disponha de recursos eletrônicos, pular daquele jeito com uma reta relativamente curta e ter o domínio da curva mostra a qualidade tanto do piloto quanto do carro. Bottas emparelhou com Hamilton por algumas curvas e já tinha a segunda posição, mas ingenuamente foi tangenciar uma curva e permitiu que o inglês tomasse de volta o posto. Então, ali atrás, as duas McLaren e as duas Lotus se acharam, enquanto Verstappen acabava de forma bisonha um fim de semana que prometia.

Afoito, Hamilton tentou superar Massa na chicane que antecede a reta principal de Silverstone. Felipe soube espalhar o carro, deixando o rival fora da pista e vendo Bottas superá-lo. Aí, então, deu-se a grande discussão da corrida, com a Williams num primeiro momento pedindo que Bottas ‘no racing with your teammate’ e depois indicando que, se partisse para a ultrapassagem, o fizesse de maneira ‘clean’.

Por mais que Bottas tivesse se aproximado uma série de vezes na reta do Hangar, não parece claro que ele tinha melhores condições que Massa ou que, se tivesse uma troca de posições, o finlandês iria estilingar na frente. Se o brasileiro estivesse segurando o ritmo, Hamilton teria partido para cima de Bottas — algo que não aconteceu em nenhuma das 21 voltas — ou até mesmo Rosberg tentasse efetuar a manobra sobre seu companheiro — algo que obviamente deveria ter feito. Massa era o único que não tinha o benefício da asa móvel, e claro que perdia velocidade nas retas em que era permitido seu acionamento. Assim, se realmente Bottas estivesse mais rápido, que passasse. Não foi ali que a Williams perdeu a corrida.

A perda começou em si quando Hamilton foi para os boxes. O jogo do cerco era até natural: assim que a Mercedes chamasse seu piloto aos pits, deveria ou ficar atenta para trazer Massa na mesma volta — e até dava para fazer isso porque o rádio da FOM dedou na transmissão — ou que fizesse na volta seguinte, como aconteceu. Só que aí, numa F1 tão precisa num trabalho de pits, perder 1s4 numa parada, é pedir para não ganhar. Massa voltou consideravelmente atrás de Hamilton, mas a distância não aumentou como se esperava. Bottas quase ultrapassou após sua ida aos boxes, mas conseguiu se colocar à frente de Rosberg. A vida vinha assim até que a chuva se fez presente.

E toda santa vez que chove, a Williams se perde. É uma equipe Cascão, mostrando uma aversão inexplicável à água. O carro passa a ter um comportamento de Manor Marussia, popularmente chamada de Mamar. E as decisões demoram a ser tomadas. A volta a mais que ficou na pista, sem seguir a intuição de Hamilton, foi determinante para a perda do pódio — depois que os dois carros haviam sido superados na pista por Rosberg. E foi aí que permitiram a ascensão do até então apagado Vettel na corrida, que chegou a cair para nono na largada e foi premiado, com bela pilotagem e controle de uma Ferrari arrisca, com o pódio. Renan do Couto fez uma análise de como a Williams foi da luta pela vitória à perda do pódio.

Foi o feeling de Hamilton que lhe deu a vitória neste domingo. Porque era Rosberg quem vinha babando e tirando a diferença consideravelmente quando o alemão teve pista molhada livre. Estava em pouca coisa acima de 3 segundos quando Lewis percebeu que a chuva iria apertar. Nico achou que não e deu mais uma volta. Azar. E também cabe aqui novamente a ponderação: Rosberg esteve inerte durante 21 voltas atrás de Hamilton no primeiro trecho de corrida. Um cara que quer o título e não parte para o ataque em cima do rival não pode reclamar da sorte nem de qualquer outro fator.

Sem o GP da Alemanha, a F1 volta daqui três finais de semana. Até lá, Hamilton carrega uma confortável diferença de 17 pontos e a Williams, uma dor de cabeça pela ressaca de ter falhado miseravelmente. Apesar disso, a briga interna é interessante na pontuação, também envolvendo o decadente Räikkönen. Mas ao que parece, pelas declarações queixantes após a prova, que o cenário de 2016 foi definido: Bottas se livra da Williams nem que tenha que aceitar uma redução salarial decorrente da multa do contrato e vai para a Ferrari. E para o seu lugar provavelmente volta à equipe Hülk, este cara que tem guiado o fino e que merece um carro numa equipe de ponta. Ainda que esta equipe de ponta se comporte como pequena em algumas situações.