Blog do Victor Martins
F-E

Sobre a F-E e Piquet

[bannergoogle]SÃO PAULO | Chegou ao fim a primeira temporada da F-E neste domingo em Londres. E em grandíssimo estilo. Porque envolveu justamente a categoria que deu um novo ar para o automobilismo, com pilotos de boa qualidade e uma disputa que acabou com um Senna ajudando um Piquet e cortando o barato de um Prost. […]

[bannergoogle]SÃO PAULO | Chegou ao fim a primeira temporada da F-E neste domingo em Londres. E em grandíssimo estilo. Porque envolveu justamente a categoria que deu um novo ar para o automobilismo, com pilotos de boa qualidade e uma disputa que acabou com um Senna ajudando um Piquet e cortando o barato de um Prost.

Quando a ideia de um campeonato de carros elétricos nasceu e foi posta em prática, narizes se torceram porque a essência do esporte estava sendo modificada radicalmente, sem o ronco de motores alimentados por combustão — e tema de queixas dos fãs fervorosos da F1, aterrorizados com os V6 —, troca de carros no meio das corridas porque as baterias não dão conta e fim de semana com apenas um dia para que tudo seja feito. Ao mesmo tempo, a expectativa foi de tal forma criada a ponto de muitos se decepcionarem com a estreia em Pequim.

O bom é que Pequim representou a pior prova da temporada. Nas demais, disputas foram a tônica, com provas decididas na última volta e uma penca de vencedores diferentes. Geralmente se fala que é preciso dar um tempo até que tal coisa pegue no tranco ou evolua; a F-E não precisa mais disso. Só tende a evoluir neste caminho certeiro apresentado por Alejandro Agag, que já vê a entrada de Citroën e Renault como montadoras de desenvolvimento do trem de força. E outras mais hão de vir.

O cuidado maior, na verdade, é com a escolha das pistas. Algumas são estreitas demais e não permitem o desenrolar das corridas. Mas a opção de fazê-las em grandes centros urbanos foi um dos pontos mais bem elaborados, sobretudo o da decisão deste fim de semana em Londres.

Quanto aos pilotos, seria natural que a F-E abraçasse aqueles que não tiveram lá grandes êxitos na F-1 ou na Indy, mas que premiasse os que apostaram de vez na categoria. Que Di Grassi disputaria o título, isso ficou claro desde o começo, até por ser o piloto responsável pelo desenvolvimento do carro. Com o tempo, Bird, Prost, Buemi e Piquet foram se despontando como candidatos, restando aos dois últimos a primazia da briga. Que foi acirrada pela inimizade velada dos dois brasileiros e então exposta às claras nas ruas de Mônaco.

No fim das contas, Di Grassi perdeu o título com sua desclassificação em Berlim. E acabou vendo seu desafeto faturando a taça terminando a corrida 2 na capital inglesa fisicamente atrás de si e acompanhando de camarote o modo como Buemi também deixou de ganhá-lo. Senna, que fez um campeonato pra lá de apagado com uma Mahindra fraca, não vendeu sua posição por nada neste mundo depois que conseguiu superar o errático suíço.

Piquet, Piquet… há quase sete anos, manchava sua carreira e o nome da família ao entrar num plano de se auto-prejudicar para beneficiar Alonso em Cingapura. Só ele deve saber o quanto isso remoeu em sua cabeça tempos depois, até mesmo durante o momento em que o público não sabia da armação. Todos os dedos do mundo estavam em riste para julgá-lo; foi, de fato, uma mancha, moralmente desprezível, e que muitos vão tratar de torcê-la sem fim até espremer as gotas finais do pecado.

Mas a vida segue, teve de seguir, e Nelsinho foi pulando de galho em galho para ao menos tentar se divertir. Encontrou um refúgio na América ao tentar a vida nas categorias de base na Nascar. Vendo que pouca coisa sairia dali, foi se aventurar nos X-Games e nas competições de rali. Ganhou medalha e tudo. Aí apareceu a F-E no radar. E o título vem como uma espécie de redenção.

Quase sete anos depois, ainda tem aqueles que estão torcendo o pecado até tirar mais dele o que não tem. São aqueles que preferem que a página não vire como se Nelsinho tivesse que pagar o erro com o fim de sua carreira e na solitária. Aqueles que ainda teimam em remoer este episódio têm como geral lema de existência tratar o ódio como amor talvez sem perceberem viver numa prisão perpétua de paredes de vidro.

Piquet hoje comemora o título sem se importar com eles.