Blog do Victor Martins
F1

Legado errado

SÃO PAULO | Reproduzo trecho da fala de Rob Smedley, engenheiro-sênior da Williams, a respeito da tática da equipe para 2015 e além. Temos nos classificado sempre nas mesmas posições e somado os pontos correspondentes a elas, ao invés de perseguir coisas impossíveis ou fazer algo arriscado demais. Isso é um legado do passado. Estes são […]

SÃO PAULO | Reproduzo trecho da fala de Rob Smedley, engenheiro-sênior da Williams, a respeito da tática da equipe para 2015 e além.

Temos nos classificado sempre nas mesmas posições e somado os pontos correspondentes a elas, ao invés de perseguir coisas impossíveis ou fazer algo arriscado demais. Isso é um legado do passado. Estes são os pontos em que trabalhamos e é isso que vamos fazer. É a maior melhoria que vi até o momento. E é por isso que a Williams tende a fazer planos, corridas chatas.

A gloriosa Williams é a fixa terceira colocada da temporada 2015 quando não corre em Mônaco. Não vai ser ameaçada pela Red Bull porque Ricciardo e Kvyat hão de pagar todos os pecados pelas punições advindas do fraco e pouco confiável motor Renault. Também não se verão acossados pela Lotus, já que no máximo um só piloto, Grosjean, pontua. Precisaria que a Toro Rosso evoluísse muito para que os ótimos Sainz e Verstappen fizessem cócegas; no campeonato, impossível. As demais, nada mais. Assim sendo, a Williams tem 13 corridas pela frente para desfilar em quinto e sexto sabidamente. E qual é a estratégia? Permanecer em quinto e sexto.

Smedley fala em legado do passado ao apoiar uma vida sem riscos. Vivemos tempos em que se esquece até o que se comeu no jantar de ontem, dada a fartura de informações e coisas que se sucedem, mas não é tão difícil lembrar que o último campeonato ganho pela Williams foi em 1997. De lá para cá, a escuderia conseguiu 11 vitórias. É bem verdade que houve um período profundo de apequenamento e que a temporada passada consistiu num resgate. Mas a Williams parece satisfeita e fala em progresso andando desta forma.

Fosse eu Massa ou Bottas, ao ler isso, coçaria a cabeça e me perguntaria: “O que é que estou fazendo numa equipe que não assume riscos para conseguir algo maior?” A Williams se nega a sair desta zona terciária de conforto para ficar na torcida e na reza de, quem sabe, abocanhar um posto deixado por Mercedes e Ferrari. Que, em seis provas, ocuparam em todas os lugares do pódio sem ter nenhuma quebra.

Daí, meu filho, não adianta fazer pesquisa com o público, grupo de estratégia ou reunião para o chá das 5. Com tamanha falta de ambição, as corridas só podem ficar chatas e burocráticas porque quem as faz é chato e burocrático. O legado errado continua.