Blog do Victor Martins
F1

Monte Carlo Bronco

SÃO PAULO | A primeira coisa que vem à mente sobre o que a Mercedes fez com Hamilton em Mônaco, fora todas as associações com burrice, foi a corrida de 1992, quando Mansell voltou atrás de Senna e se deu aquela disputa inesquecível. Era possível imaginar que o inglês partiria para cima de Vettel, depois de […]

SÃO PAULO | A primeira coisa que vem à mente sobre o que a Mercedes fez com Hamilton em Mônaco, fora todas as associações com burrice, foi a corrida de 1992, quando Mansell voltou atrás de Senna e se deu aquela disputa inesquecível. Era possível imaginar que o inglês partiria para cima de Vettel, depois de tentar intimidá-lo, com tamanha volúpia que tudo que acontecera até então seria esquecido. Mas foram esboços de ataque, e o GP em Monte Carlo só serviu para acompanhar as reações de Hamilton e da Mercedes diante da pane.

Hamilton derrubou a placa que indicava sua terceira posição, andou lento até o pódio diferenciado, sentou-se nos degraus, ouviu educadamente o hino alemão, pegou a champanhe e saiu andando. Para quem tinha razões de ter um ataque de fúria, e que talvez em outros tempos até tivesse, foi bem comedido. Nas palavras após a corrida, evitou ataques diretos e indiretas, sem criar teorias conspiratórias.

O que se tira de Mônaco remete ao início do ano passado, quando tudo começou, a briga pelo campeonato polarizada entre dois companheiros de equipe de personalidades distintas, mas então igualmente bons. Antes, era a inteligência de Rosberg vs. o talento de Hamilton, sendo que este sucumbiria diante de um cenário que lhe afetasse psicologicamente. Pois não só Lewis se manteve firme diante das adversidades — aquela da classificação em Mônaco e depois o choque na Bélgica — como jogou para o outro lado a bomba que não é aguentar a pressão. Bomba, esta, que Nico segurou até a vitória 15 dias atrás na Espanha e que, de certa forma, ainda está ali guardadinha mesmo com a (pseudo)vitória nas ruas do Principado.

Pela postura que teve, Hamilton está livre da terapia. É, definitivamente, um piloto completo, e daqui um tempo, quando tiver de cabeça muito mais fria, há de notar como tratou tão bem este episódio. Alguém tem alguma dúvida do que ele vai fazer no Canadá, uma pista que adora e onde sempre se deu bem?

Sobre o resto, alguns pontos. Vettel é aquele peixe comensal que acompanha um animal marinho maior e se aproveita dos restos de comida que vai deixando ao largo. Se não se infiltrou entre as Mercedes na largada, manteve um ritmo inesperadamente forte atrás de Rosberg, visando roubar a segunda posição nos pits. Para isso, o time alemão foi esperto e, na volta seguinte à ida de Seb aos boxes, chamou seu piloto. Seria terceiro e tal, mas acabou agraciado. E com todas as limitações de seu equipamento, ainda assim se mantém relativamente perto na classificação do campeonato. Quanto a Rosberg, o desempenho que vinha tendo na parte ‘normal’ da prova denota que a prova em Barcelona foi a exceção do campeonato. Segue sem convencer ou permitir que se ache que haverá, de fato, uma briga pelo título com Hamilton.

Mas é inegável que a vitória de ontem o coloca num patamar especial ao menos em Mônaco.

O caso que mudou a corrida gera uma divisão de opiniões muito forte. No momento do acidente, a câmera on-board em Verstappen era a principal e pegou o violento choque. Na hora, sem nenhuma hesitação, entendi que Grosjean havia freado cedo demais; a visão aérea da cena só comprovava pelo ponto onde houve a batida. Não é ali que os pilotos costumam brecar para fazer o contorno da Sainte Dévote, mas um pouco mais à frente. Assim, a punição a Max com a perda de cinco lugares no grid do Canadá mais dois pontos na carteira me parece totalmente injusta.

Vi que Massa e alguns outros expressaram preocupação com o ‘perigoso’ Verstappinho. Sei lá, eu prefiro um piloto perigoso a um covarde. Prefiro ver que Verstappen, com 17 anos e sua intempestividade, foi um dos nomes do fim de semana — mais uma vez, digassidipassage —, andando em segundo lugar em seu primeiro treino livre em Mônaco e fazendo ultrapassagens na corrida a ter de ver alguém que não tenta e se acomoda. Esse moleque tem muito futuro. Muito.

Felipe teve sua prova arruinada logo na primeira volta. A TV não mostrou, não há registros de cena; uma lástima, essa TV Monte Carlo, que faz questão desde 1990 de exibir as corridas e não deixa a FOM fazer seu trabalho. A princípio, falaram em Maldonado; depois, o próprio Massa é quem explicou: foi Hülkenberg, e pediu punição. Mas como pedir a punição se não se tem a imagem? De qualquer forma, Massa só poderia sonhar ali com um sétimo ou oitavo lugar, o que para esta Williams já começa a ser vexaminoso.

Quanto a Nasr, foi inteligente. Com o segundo pior carro do grid, afastou-se dos problemas e foi se aproveitando com as quedas alheias. Primeiro foi Massa e Hülkenberg, depois Maldonado — aliás, e se não foi com Felipe seu problema, onde é que ele se iniciou? —, aí então o abandono de Alonso e o acidente que tirou Verstappen e Grosjean da frente. Largou em 15º, seis à frente tiveram problemas, ficou em nono. Matemática pura e simples. Aquela que a Mercedes não soube fazer.