Blog do Victor Martins
F1

Jackie Xangai

SÃO PAULO | Consideremos que este GP da China não merece nenhuma ponderação além da trivial: de que a Mercedes domina e tem um carro de classificação amplamente superior a qualquer outro, nível McLaren-1988, mas que em ritmo de corrida vai sofrer, sim, com a Ferrari, sobretudo com Vettel; que a Williams é terceira força […]

F1_GP_Auto_Racing__ultimosegundo@ig.com_1.jpg">Hamilton e Rosberg

SÃO PAULO | Consideremos que este GP da China não merece nenhuma ponderação além da trivial: de que a Mercedes domina e tem um carro de classificação amplamente superior a qualquer outro, nível McLaren-1988, mas que em ritmo de corrida vai sofrer, sim, com a Ferrari, sobretudo com Vettel; que a Williams é terceira força isolada, sem se comunicar com a segunda e a quarta, e que a tendência é ser quinta e sexta nas próximas provas; que a Sauber tem um carro honesto, mas que agora também tem de se preocupar com a Lotus além de Red Bull e Toro Rosso.

Bem, a coletiva de imprensa após a prova foi muito mais interessante. Rosberg saiu atirando para cima de Hamilton e acusou o companheiro de ter andado deliberadamente mais lento na sua frente, algo que lhe fazia destruir os pneus com mais rapidez e o deixava vulnerável a Vettel. Lewis fez uma cara de quem não estava sacando que diabos o outro tava falando e respondeu, de início, o óbvio: “Ué, se você estava mais rápido, que passasse”; “Uai, eu tenho de me preocupar com a minha corrida, que você se vire com a sua”. E Rosberg, imponente e lívido, seguiu em sua queixa e prometeu falar muito mais na reunião que já deve ter acontecido em Xangai.

Pois hoje, 12 de abril, Rosberg entregou o título a Hamilton, assumiu sua condição de Webber em seus tempos de Red Bull com Vettel e perdeu o pouco do respeito que lhe sobrava.

Nas três primeiras provas do ano, Rosberg não conseguiu andar no ritmo de Hamilton em nenhum momento. Mesmo hoje, quando esteve mais perto, não esteve nunca em condições de atacar o companheiro, aquele que estava mais lento. Na Malásia, prostrou-se na terceira colocação como se não houvesse amanhã. Nas classificações e treinos livres, nada. Se Rosberg queria mesmo uma revanche e vendetta pela derrota no ano passado, se estudou o parceiro e reaprendeu até a respirar, seu serviço foi muito mal feito e sua preparação, ineficiente e pobre. Nico é um arremedo de segundo piloto tal qual Webber: depois do primeiro ano em que fez frente na briga pelo título, passou a ser um passivo reclamão sem apresentar resultados. Até agora, é o parceiro; daqui para frente, há de ser a equipe. Só que Lauda e Wolff não têm nenhum jeito de apresentar a mesma paciência de Christian Horner.

Assim, este Rosberg sem respeito, chorão e causador de problemas já não tem a utilidade esperada por seus patrões. E já que é assim, com só três provas no ano e um título que recai facilmente no colo de Hamilton, que a Mercedes ouse, que aproveite o momento para olhar para si e para os recursos humanos – pilotos – de que tem à disposição. E não precisa olhar tão atentamente: tem ali um Wehrlein que já foi cotado para ser titular da Williams na ausência de Bottas, que guiou carro da Force India nos testes da pré-temporada, que tem vontade de aprender. Werhlein tem base e qualidade, mas precisa ser desenvolvido. Acima de tudo, não vai criar problema e, com o tempo, pode ser um problema na vida de Hamilton tal qual Ricciardo foi na de Vettel, para efeito de comparação. É o problema bom que qualquer grande quer ter, como foi no ano passado.

Este Rosberg já teve seu momento de piloto de ponta, pareceu ser combativo e adversário à altura, mas pecou justamente no fator em que deveria ser superior: o psicológico. Nego que reclama que o companheiro está mais lento à sua frente e sequer se aproxima para ultrapassar não tem a humildade para reconhecer suas limitações, mas tem a cara-de-pau suficiente para jogar seus erros na lomba dos outros. A F1 viu tantos outros assim, promessas que só caíram na vala comum. Se a Mercedes for minimamente atenta, se liga do que tem e se livra deste fardo.

E parabéns a Hamilton, este grande, contando as corridas para ser tricampeão da F1.