Blog do Victor Martins
F1

Se pá, Se pang

SÃO PAULO | Que Vettel venceria com a Ferrari, não havia dúvidas; que seria na segunda corrida, nem o próprio esperava. Mas é sempre bom, neste momento, para quem teima em desdenhar da capacidade deste jovem que está há algum tempo na história do automobilismo e que vai se perpetuar como um dos melhores de […]

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SÃO PAULO | Que Vettel venceria com a Ferrari, não havia dúvidas; que seria na segunda corrida, nem o próprio esperava. Mas é sempre bom, neste momento, para quem teima em desdenhar da capacidade deste jovem que está há algum tempo na história do automobilismo e que vai se perpetuar como um dos melhores de todos os tempos.

Vettel, agora com 40 triunfos, passa a pertencer a um seletíssimo grupo que agora passa a ter dez pilotos. Junto com Reutemann, Lauda, Scheckter, Berger, Piquet, Räikkönen, Button e Alonso, Sebastian agora tem vitórias por três equipes diferentes – Toro Rosso, Red Bull e Ferrari. Moss é o inatingível, com cinco.

É claro que ninguém vence com qualquer carro; a Ferrari melhorou à beça do ano passado para cá. A série de mudanças praticamente fez da Scuderia uma outra Scuderia, e é Vettel que é o líder de tudo isso, o maestro, o comandante que converge e concentra para que as coisas fluam. Piloto não é aquele que somente senta a bunda no cockpit, acelera, freia, vira para esquerda e direita e aperta botões. É também aquele que sente o que o carro lhe traz depois de três ou quatro voltas e traduz para que os mecânicos e engenheiros trabalhem em cima. É aquele que cumprimenta todos os membros do seu grupo e faz com que formem efetivamente um time. Vettel é isso tudo. É completo neste sentido, como poucos na F1.

Vettel desfez o dogma desta temporada não só nas quatro voltas que ficou atrás de Hamilton até a entrada do safety-car como em todas as demais. É claro que a parada de Ericsson na brita da curva 1 transformou a corrida porque fez a Mercedes se apavorar na estratégia e chamar seus dois pilotos sem se preocupar se a Ferrari faria o mesmo – talvez porque nunca imaginasse que Sebastian teria condições de enfrentá-la. Hamilton e Rosberg perderam muito tempo para passar o pelotão, e ali Vettel já tinha aberto uma diferença que levaria em média até o fim.

Da mesma forma que o carro da Williams não flui na chuva, este novo da Ferrari é uma beleza quando o calor vem pra fritar ovo. Gabriel Curty chegou a comentar que a equipe é totalmente favorável ao superaquecimento da Terra e do efeito estufa, e é verdade. Com James Alisson como seu genitor, a SF15-T trabalha excepcionalmente em altas temperaturas e tem um desgaste muito menor do que os demais – e isso não pôde ser visto na pré-temporada justamente porque ninguém foi ao Bahrein testar.

“Ain, mas isso significa que a disputa vai depender do frio e do calor, frio e calor, calor e frio, como faziam naquele programa do Miele, o Cocktail?” Pelo jeito, sim, o que significa dizer que, como a F1 não é disputa no deserto, a Mercedes segue soberana. Daqui 15 dias, na China, com temperaturas amenas e um retrospecto ótimo, a Mercedes tende a mandar ver como na Austrália; depois, no Bahrein, é provável que Vettel e Räikkönen – que fez excelente corrida de recuperação – voltem a atacar.

Então que ninguém se empolgue achando que ‘temos um djogo’. Hamilton continua tão favorito quanto antes, principalmente porque, nestas duas provas, Rosberg não ofereceu ameaça alguma. E não adianta Nico vir com sua sinceridade dizendo que não tem pilotado bem. Que pilote, pois. Senão Vettel vai ameaçar seu vice-campeonato, ainda que não signifique grande coisa.

O que se pode garantir é que a Ferrari já livrou frente para a Williams. Que queria tempo seco na corrida em Sepang, mas não teve ritmo algum nem para segurar Räikkönen babando lá atrás. Restou a Massa e Bottas brigarem novamente entre si, agora com vantagem para o finlandês. E OK, a Williams é a terceira força, bem à frente de Toro Rosso (sim!) e Red Bull.

Verstappen, que moleque. Mais jovem a pontuar, e, de acordo com as novas regras de restrição aos ‘di menor’, deve levar o recorde ad æternum. E vai conquistando seu espacinho, mostrando seu valor, ao lado de um Sainz que evoluiu muito na sua formação e lhe faz frente.

Force India e Lotus involuíram; McLaren evoluiu. A Sauber parecia no mesmo patamar, ao menos com Ericsson, mas Ericsson tem aquele patamar ali. Quanto a Nasr, não saiu do fim do pelotão com sua Sauber e o diferencial defeituoso. E a Manor Marussia terminou a prova, que coisa, coisa que a McLaren não conseguiu com nenhum de seus dois carros. Imagine como a vida de Alonso não está difícil hoje.

No geral, o GP da Malásia foi melhor que o da Austrália, até porque não tinha como ser pior. Ainda falta alguma coisa para que seja considerado bom, mas só o fato de ter tirado a Mercedes ali da zona de conforto tem de ganhar alguns créditos. Neste momento, a ressaca deve estar grande: a de Vettel, que se entregou à esbórnia da vitória e da emoção em formato etílico, e da Mercedes, que ainda procura as razões por ter perdido e se perdido.