Blog do Victor Martins
F1

Mel B

SÃO PAULO | Quando começaram os testes da F1 na Espanha, mais de mês atrás, parte das equipes não estava pronta. Os carros foram feitos às pressas, a Lotus se atrasou, a Force India se atrasou mais ainda, a Marussia não apareceu. A Red Bull novamente não fez uma pré-temporada das melhores, a McLaren penou muito […]

SÃO PAULO | Quando começaram os testes da F1 na Espanha, mais de mês atrás, parte das equipes não estava pronta. Os carros foram feitos às pressas, a Lotus se atrasou, a Force India se atrasou mais ainda, a Marussia não apareceu. A Red Bull novamente não fez uma pré-temporada das melhores, a McLaren penou muito mais do que esperava — com Honda e Alonso —, a Toro Rosso teve de rever seu carro todo e até a Mercedes, disparada a melhor e mais organizada, passou por problemas. Lotus, Ferrari e Sauber só podiam evoluir em relação ao ano passado. A Williams ficou na mesma.

Tudo isso pra dizer que a F1 como um todo não estava pronta para o GP da Austrália. Ainda que o primeiro treino livre passou despercebido para todos por conta daquele retumbante caso de Van der Garde, o respeitoso vendido, a impressão que deu era de que as equipes estavam iniciando a quarta semana de testes coletivos, agora em Melbourne e sob temperaturas mais propícias para uma avaliação mais completa, sobretudo dos pneus. A corrida em si sustenta esta sensação: foram três dias mais para a conta dos treinos, com o fato de que valeram pontos para o campeonato.

E como tal, o GP da Austrália/quarta semana de treinos coletivos só podia reverberar o que foi visto em fevereiro: a Mercedes longe da rapa, a Ferrari e a Williams em pé de igualdade, a Sauber muito evoluída, a McLaren registrando um fiasco histórico, a Force India lenta mas confiável, a Marussia fora e Maldonado batendo. De surpresa, mesmo, só a queda acentuada da Red Bull, que em algum momento do ano deve dar o pé nesta Renault que só lhe atravanca a vida.

15 carros num grid de largada da F1 também ajudam a explicar o caráter de grande teste desta corrida em Melbourne. Desculpa aí, mas a F1 não pode ter só 15 carros largando. Isso não é bateria de kart entre amigos na Granja Viana. E deram sorte, por assim dizer, que não confiscaram os carros da Sauber; já imaginou 13 ali alinhados?

Não fosse Nasr, a prova em si seria um Conto da Kripta depois daquele Corujão da F1/Balada Vip, com Galvão Matarazzo e seus Tony Karlakians.

A F1, pelo que demonstra, vai ter espasmos de boas corridas e disputas em 2015. Isso é resultado de um ciclo. As equipes têm cada vez menos tempo e dinheiro para preparar seus carros. A temporada tem terminado no fim de novembro, e só a partir daí que o grupo de trabalho tem seu focado totalmente voltado para o ano que vem. São dois meses de trabalho num período que contempla Natal e réveillon, além do fato de que o pessoal precisa de férias. O desenvolvimento do carro em si acaba sendo parco e, por consequência, se dá durante a competição. Os times acabam encontrando o melhor de seus carros só depois da segunda parte da temporada. Até lá, sabe-se se o modelo em si deu certo ou não.

Sempre quem teve mais dinheiro naturalmente dispõe dos melhores recursos e pode ter um grupo de trabalho maior que as outras. Mas uma temporada extensa de 19 ou 20 provas que vai do início de março ao fim de novembro acentua as diferenças justamente porque deixa quem tem orçamento limitado na dúvida: investir mais neste carro no fim da temporada ou partir para pensar no da seguinte; as grandes têm um tempo maior para solucionar essa dúvida até porque ainda têm interesses na disputa. Além do fato óbvio de que, quanto mais provas, mais gastos.

O espichamento do calendário, então, acaba refletindo a crise que a F1 tem passado: três equipes pobres, operando no limite e devendo para deus e o mundo e uma quarta que ainda tem de mostrar se vai mesmo sobreviver após uma ressurreição. A Sauber tem um patrocinador visível no carro, a Lotus perdeu um monte e a Force India até que atrai investidores, mas não sai da moita. A Marussia tem um carro limpo, pelo deu pra ver na carenagem, e assim será.

Se foi um treino de luxo, o GP da Austrália já deu as diretrizes claras: uma nova disputa entre Hamilton e Rosberg, com a tendência do primeiro engolir o segundo; Ferrari e Williams brigando pelo vice, sendo que a segunda tem de torcer para a pronta recuperação de Bottas; Red Bull achincalhando a Renault até lhe dar um motor minimamente confiável e potente e a McLaren nesta vida de Minardi e Marussia — McNardi ou McRussia, se preferir. Sauber, Lotus, Toro Rosso e Force India vão andar juntas no bolo. E é isso. E é chato saber tudo isso assim, justamente numa temporada tão longa que vai se tornar maçante. E é tudo culpa do sistema que a própria F1 criou, como se tem falado há um bocado de tempo, e a F1 não se toca porque tem alguém que gerencia parado no tempo, sendo que tempo para ele é Rolex.

A F1, agora, neste exato momento, está preocupada em quanto vai lucrar com o F1 Access em seu site e no seu aplicativo. Para ver o quanto FOM e Bernie conseguem levar adiante.

Ainda bem que no fim de semana teve a F-E para eu poder lembrar o que é uma corrida de carros. A F1, do jeito que tá, não interessa.