Blog do Victor Martins
F1

O vilão errado

SÃO PAULO | Cabaço, maldito, trouxa, otário, VDG é FDP, um monte, mas um monte de xingamentos das mais variadas estirpes surgiram para definir Van der Garde, que está melando a situação da Sauber e coloca em risco a estreia de Nasr no fim de semana — justamente porque a equipe ainda não sabe o […]




SÃO PAULO | Cabaço, maldito, trouxa, otário, VDG é FDP, um monte, mas um monte de xingamentos das mais variadas estirpes surgiram para definir Van der Garde, que está melando a situação da Sauber e coloca em risco a estreia de Nasr no fim de semana — justamente porque a equipe ainda não sabe o que fazer e quem deve limar, o brasileiro ou o sueco Ericsson. Os xingamentos são até compreensíveis para quem estava na expectativa de acompanhar a estreia do outro Felipe. Mas é necessário entender o fato. E Van der Garde só está lutando pelo que é seu — como qualquer um de nós faria numa situação trabalhista em que fôssemos passados para trás.

O último destes dias todos de julgamento na Corte de Victoria foi esclarecedor. Van der Garde não tem culpa, bem como Nasr nem Ericsson. O primeiro tinha um contrato de dois anos, temporadas 2014 e 2015, reserva e titular, respectivamente. Injetou 8 milhões de merkels na equipe. Monisha Kaltenborn e seu grupo simplesmente ignoraram o acordo e foram atrás de dois pilotos que podiam oferecer muito mais que o dobro achando que tinham algum respaldo jurídico legal — ambos, igualmente, estão levando 20 milhões de merkels. “Ain, quem é que tem prioridade?” Entendeu que os dois estão no mesmo patamar, amigo?

Em dezembro do ano passado, Van der Garde já havia ganhado um processo. A Sauber novamente deu de ombros e fez o anúncio de sua nova dupla. Tamanha foi a má-fé da equipe que disse à FIA, por meio de um órgão chamado Quadro de Reconhecimento de Contratos, que o acordo com o holandês havia sido quebrado em 6 de fevereiro — ou seja, dois meses depois que o Tribunal na Suíça validou a causa de Van der Garde.

E como se viu tanto na Justiça suíça quanto na sentença da Corte australiana, a defesa foi tão patética que os jurados chegaram a rir dos advogados da escuderia. Na segunda-feira agora, início do audiência em Melbourne, a Sauber usou os recursos mais escusos para tentar se livrar de Van der Garde: risco de morte ao entrar no carro porque não havia guiado o novo C34,  ausência de superlicença e até incapacidade de fornecer credencial e roupa ao piloto. Era óbvio que a linha pueril usada pela equipe não ia colar.

Sabendo com quem estava lidando, ainda em meio à comemoração da vitória no caso, Van der Garde entrou com uma nova ação para que não visse a Sauber lhe passar a perna novamente, uma ordem para fazer cumprir a determinação anterior, ‘contempt of court’, em inglês. É daí que surge até a possibilidade de confisco dos ativos da Sauber. Vai acontecer? É exagero? Nota-se que Van der Garde não está pra brincadeira, então não é impossível imaginar oficiais e autoridades entrarem no Albert Park e em plena sexta-feira de treinos comecem a levar os equipamentos. Em 2003 — não tem tanto tempo assim —, a BAR não treinou no primeiro dia em Magny-Cours porque uma patrocinadora canadense, a S.A.M., entrou com uma ação que levou cinco policiais ao circuito francês, apreendendo os carros de Villeneuve e Button.

OK, o cara faz o que quiser da vida e da carreira e toma as atitudes que julgar necessárias. É claro que este episódio é uma demonstração do que ele é capaz e nenhuma outra equipe vai se meter a fazer qualquer contrato com ele mesmo precisando de cada milhãozinho que pode trazer da McGregor ou qualquer outra empresa do sogro. Mas se há alguém com total culpa no cartório não é Van der Garde; é a Sauber, única e exclusivamente a Sauber, que foi igualmente sacana com seus dois novos pilotos ao não contar a eles a situação onde estavam se metendo.

Se você tiver de gastar seu arsenal de xingamentos e impropérios — achando que vai resolver algo —, ao menos o faça no alvo certo. Van der Garde, Nasr e Ericsson estão no mesmo balaio, e nenhum dos três têm culpa de terem entrado num imbróglio de uma escuderia outrora simpática e que, vista de fora, contava com o respeito de todos pelo trabalho árduo em mais de 20 anos e a batalha para se manter na feroz F1. Mas que, diante da falta de dinheiro, jogou sua história na lama achando que ninguém ia reivindicar o que era seu de direito.