Blog do Victor Martins
F1

Ação e traição

SÃO PAULO | Então foi isso: a Ferrari descobriu que Alonso quis pular o muro novamente e mandou o espanhol ir ciscar de vez na casa do vizinho, seja ele quem for. É o que revela a edição mais recente da revista Autosport. Logo às vésperas do fim de semana do GP da Itália, Alonso foi bater […]

SÃO PAULO | Então foi isso: a Ferrari descobriu que Alonso quis pular o muro novamente e mandou o espanhol ir ciscar de vez na casa do vizinho, seja ele quem for. É o que revela a edição mais recente da revista Autosport.

Logo às vésperas do fim de semana do GP da Itália, Alonso foi bater na porta da Mercedes para propor uma troca com Hamilton. Os alemães não aceitaram, e a história caiu na boca do pessoal em Maranello, que até então estava preocupado em demover Luca di Montezemolo da presidência. Aí, meu filho, já quiseram fazer a rapa de uma vez, sob a indicação do rumo da finestra feita pelo dueto Marchionne-Mattiacci.

Então, no fim das contas, só sobrou a McLaren para o espanhol, por quem não nutre o maior dos amores pelo ano terrível que passou em 2007. Ou a Lotus, se desse certo aquele plano mirabolante e salvador de venda para Lawrence Stroll, o bilionário lá do mundo da moda.

A pressa que se mescla com o desespero de Alonso em ganhar um título enquanto é tempo o deixa numa situação desconfortável na F1. Reconhecidamente um piloto de ponta, visto pelos seus pares como o melhor de todos, acaba carregando consigo o inerente carimbo da dúvida ética e moral — e dos bons costumes, segundo essa gente do bem aí. A ação de bastidores se converte numa traição e deteriora qualquer relacionamento. E isso acaba influindo nas pessoas que trabalham em prol do piloto. Se ele não está totalmente dedicado, por que é que mecânicos e engenheiros deveriam fazer o melhor?, hão de pensar, e com razão.

Alonso tem todo o direito de buscar o melhor pra si, evidentemente. Como Vettel o fez assim que a Ferrari o procurou. Só que o alemão pôs tudo às claras: chamou Christian Horner e Helmut Marko, chorou e agradeceu. O espanhol prefere a sombra e agir à espreita. E este modo de lidar — muito semelhante ao do ano passado, quando foi bater na porta da Red Bull para ficar com o lugar do amigo Webber — acaba resultando como parte da explicação da ausência de oito anos sem títulos. Mais pra frente, quando estiver maduro, fora do meio e resolver olhar pra trás, Alonso vai encontrar facilmente onde errou e por que não soube transformar todo seu talento em taças.