Blog do Victor Martins
F1

Vendo Monza 1987 único dono, 3

SÃO PAULO | Não tinha como Hamilton não vencer em Monza. E não, não tem qualquer traço de conspiração na frase anterior, como logo a turma que vê sempre algo estranho embutido sugeriu nas redes sociais. O inglês foi constantemente mais rápido que Rosberg durante todo o fim de semana na Itália, e em uma […]

SÃO PAULO | Não tinha como Hamilton não vencer em Monza. E não, não tem qualquer traço de conspiração na frase anterior, como logo a turma que vê sempre algo estranho embutido sugeriu nas redes sociais. O inglês foi constantemente mais rápido que Rosberg durante todo o fim de semana na Itália, e em uma pista em que defender a ultrapassagem com as artificialidades disponíveis dos carros é uma tarefa próxima do impossível. É que Hamilton não precisou ir pro pau propriamente depois que largou mal pra cacete e retomou o ataque após superar Magnussen e Massa.

É uma pena que Rosberg tenha soltado flatos sobre o farináceo quando a briga se anunciava. Hamilton ignorou qualquer conselho ou pedido de seu engenheiro de manter a diferença em 2s5 e fez uso de seus pneus novos para ir se aproximando até reduzi-la ao menos até a metade. Daí o alemão repetiu o erro de escapar ali na freada da curva 1, cujo desvio faz perder pelo menos 2s. O rádio também falou qualquer groselha, mas Rosberg sequer teve condição de acompanhar Lewis. São 7 pontos a menos na classificação, mas um surge asterisco interessante: o psicológico de Nico é falível.

Nada do que havia acontecido até então na temporada afetou Rosberg. Mas o incidente que provocou em Spa-Francorchamps, o pito e a multa, as buzinas e as vaias, o mundo contra, pesaram nas suas costas. Um exemplo nítido de como Rosberg ficou acuado deu-se ainda quando os dois não haviam parado. Seu engenheiro passava uma informação via rádio e logo foi interrompido: “Não me fale a diferença”. Nico nunca foi de cometer erros, tampouco repeti-los, e a tocada macia de cordeiro que se viu obrigado a levar o pôs sob uma pressão que, se Hamilton souber trabalhar, intensifica para as próximas etapas e usa para tentar virar o jogo. A F1 tem lá seus defeitos, mas este campeonato em si tem sido brilhante nesta rivalidade de nuances dentro e fora da pista.

E teve Massa no pódio. É bem legal, francamente falando. As pessoas gostam dele. É uma figura que tem seu carisma e seus princípios, é bem visto no paddock e, por mais que se saiba das limitações que tem encontrado na sua carreira depois do acidente, esforça-se para ser um piloto melhor. Na corrida em Monza, largou bem e seria segundo não fosse o lindo Magnussen. Ali na freada, aliás, o brasileiro até podia ter sido mais rude e evitar a ultrapassagem do danês, mas a prudência falou mais alto. Levou algumas voltas para superá-lo, trouxe Hamilton a tiracolo e tirou proveitoso da desastrosa largada de Bottas, que teve de se recuperar em dois altos e passar meio mundo para ser quarto colocado. Não foi à toa que o finlandês transformou-se no nome da prova, tendo no próprio Mag um adversário duríssimo de roer.

Mas aí a FIA me pune Magnussen numa suposta manobra para tentar jogar Bottas para fora do traçado. Nem o próprio Valtteri disse que se sentiu atrapalhado. Os comissários da FIA cagam a F1. É um horror, o tanto que agem em detrimento do espetáculo, da corrida em si, fazendo dos pilotos suas marionetes comportadas. Aí o pessoal chega e pergunta: ‘Ain, por que que a F1 tá chata, boba, cara de mamão e não atrai mais gente?”. Taí uma das respostas. Ela acovarda os pilotos com suas investigações e consequentes punições esdrúxulas. Ao menos, Magnussen se mostra um piloto jovem e casca dura, que tem seu futuro na categoria. Pena que vai ter de perder suas características para ser uma massinha de modelar na mão dessa gente.

A briga rápida entre Vettel e Ricciardo também ergueu alguns olhos. O alemão sofreu do mesmo mal do fim de semana da Bélgica: com suas paradas antecipadas, teve menos desempenho de pneu no fim da prova. Ricciardo, parando depois, foi jantando todo mundo: de décimo, saltou para quinto, ainda encontrando no tetracampeão alguma resistência que não tinha como durar muito. O que vale é a confirmação do João Sorrisão no mesmo patamar dos grandes – Alonso, Hamilton e o próprio Vettel.

Boa batalha também foi vista entre os ex-parceiros Pérez e Button, com vantagem para o mexicano da Force India. Que deu um banho no apagado Hülkenberg. Aliás, é bom verificar o que está acontecendo com o alemão, que vem de dois desempenhos muito fora de sua curva.

Räikkönen foi nono com a Ferrari que restou. Péssimo resultado em casa que volta a levantar dúvidas sobre a continuidade de Montezemolo na presidência da Ferrari. Por mais que ele tenha dado uma coletiva garantindo que fica, o capo da Fiat, Sergio Marchionne, declarou logo em seguida que precisa de um comandante que saiba fazer sucesso tanto na área automotiva quanto na esportiva. Na primeira, a Ferrari vem muito bem, obrigado; na segunda, o resultado é péssimo.

A próxima etapa acontece em Cingapura, um circuito de rua com muitas curvas que precisa de um carro muito bem acertado em aerodinâmica, o que coloca Mercedes e Red Bull em vantagem, nesta ordem. São quase duas horas na noite quente, e a atenção vai estar sobre Rosberg e o quanto ele não vai se afetar com o bafo de Hamilton.