Blog do Victor Martins
F1

Rivalidade em dúvida

SÃO PAULO | A Mercedes esperou cinco dias para que todos, de cabeça devidamente esfriada, sentassem à mesa e conversassem sobre o turbilhão que, num primeiro momento, foi provocado por seus pilotos — Rosberg, principalmente — e depois teve anuência completa da cúpula da equipe — também embalada por Hamilton. Da reunião em Brackley, saíram […]

SÃO PAULO | A Mercedes esperou cinco dias para que todos, de cabeça devidamente esfriada, sentassem à mesa e conversassem sobre o turbilhão que, num primeiro momento, foi provocado por seus pilotos — Rosberg, principalmente — e depois teve anuência completa da cúpula da equipe — também embalada por Hamilton. Da reunião em Brackley, saíram pedidos de desculpas, promessas e alertas.

Pegando pelo comunicado da equipe e pelas palavras que os dois pilotos publicaram nas redes sociais, Rosberg assumiu a responsabilidade, Hamilton tomou para si uma parcela da culpa, ambos alinharam o discurso de ajudar a equipe e terem uma briga limpa e os recados foram dados para que, em caso de novo incidente, a direção vai apresentar o cartão de Tolerância-Zero. No entanto, bateram no peito para dizer que ouviram as vozes do povo e que a briga tem de continuar.

Os atos não tiram algumas dúvidas que se formaram desde então, e também considerando uma enquete que a própria Mercedes resolveu fazer pelas redes sociais com seus seguidores se deveria colocar o cabresto ou liberar a porra toda:

1) As declarações de Hamilton na segunda-feira indicaram que a razão que Rosberg queria mostrar se tratava ainda do caso Hungria, em que o inglês desobedeceu ao pedido da equipe para deixá-lo passar. Levando em conta que houve férias e uma reunião até descontraída, segundo os dois, antes da corrida da Bélgica para sanar o problema, qual é a garantia que se tem que Rosberg não vai fazer beicinho de novo, ainda mais na reta final do campeonato?

2) A Mercedes vive mesmo a dicotomia entre não perder o controle sobre seus pilotos e apresentar o melhor espetáculo possível para a F1, isto é, a equipe realmente abraçou a causa de ser a salvação da categoria em termos de espetáculo e competitividade mesmo que isso signifique o caos em sua garagem?

3) Rosberg se desculpou de verdade ou foi forçado a se desculpar? Porque se o alemão teve de engolir seco para se curvar aos chefes, é uma situação pior que qualquer tentativa de Hamilton de desestabilizá-lo emocionalmente. A partir de agora, se tiver de seguir à risca a cartilha do bom comportamento, a tendência é que Nico tenha uma pilotagem mais cautelosa e frouxa, diferente do que vem se mostrando. E aí é ponto para Lewis.

4) E aí, foi proposital ou não, afinal das contas? Porque uma hora, o que Hamilton falou do acidente intencional foi corroborado; em outra, era besteira pensar nisso, optando pela expressão “não evitou o choque”. Se transformou tudo em um reality-show, seria bem necessário esclarecer de uma vez por todas quem é que está falando a verdade, até considerando que a Mercedes se tornou a paladina do show.

Ao espectador, é claro que, quanto mais beligerância saudável, melhor — o que não isenta de a Mercedes ter ficado sem rumo no último domingo, demonstrando um mau gerenciamento do negócio. Mas essa sensação de que tudo parece superficial, tem dois lados ou até mesmo seja algo fake, como uma asa móvel ou um ERS, pode provocar o efeito contrário. Telecatch divertia, mas a gente sabia com certeza seu teor.