Blog do Victor Martins
Automobilismo brasileiro

Quem tentou fazer algo

SÃO PAULO | A vitória da Alemanha e as derrotas em campo — e algumas fora dele — que o Brasil sofreu nesta Copa do Mundo levaram a algumas boas reflexões. Citado no post anterior, Zé Antônio Lima concluiu que o 7 a 1 não vai reformar o futebol destas terras. No Grande Prêmio, o Pedro Henrique Marum […]

SÃO PAULO | A vitória da Alemanha e as derrotas em campo — e algumas fora dele — que o Brasil sofreu nesta Copa do Mundo levaram a algumas boas reflexões. Citado no post anterior, Zé Antônio Lima concluiu que o 7 a 1 não vai reformar o futebol destas terras. No Grande Prêmio, o Pedro Henrique Marum fez uma análise da filosofia alemã que se reflete no esporte e na sociedade. E nas redes sociais, foi Felipe Massa quem postou um texto apócrifo falando do que fizeram os tedescos por aqui, só comentando até então um “impressionante” a respeito.

Pois teve lá quem foi encher o saco de Massa, que rebateu com o seguinte, aí entrando em sua safra, o automobilismo:

Enquanto o automobilismo daqui apostava que os pilotos se dariam bem por suas próprias vias e talentos, afinal todos teriam de seguir a genética campeã de Fittipaldi, Piquet e Senna, a DMSB deu cabo a um trabalho de lapidação de talentos com um incentivo à base e outros atos — quanto a isso, aguardem uma reportagem bem mais extensa em breve. A federação local, com a consciência que é peculiar ao povo, sabia que Schumacher teria de ser o precursor e o modelo daqueles moleques que, apoiados por suas montadoras, seriam devidamente educados e acompanhados.

A Alemanha é a maior fornecedora de pilotos de alto gabarito do mundo. Vejam se os americanos, com o mundo de competições que têm, apresentam tantos competidores de igual calibre. Num espaço de 20 anos, foram 11 títulos na F1. Hoje, a Mercedes domina o campeonato, tem o melhor motor de longe e vê um piloto em condições de seguir a sequência de Vettel, Rosberg.

Enquanto isso, Massa tá lá. “Ain, mas ele nunca vai ser campeão, ele não tem condições, a mola, a vida”. Digamos que a gente ainda não veja de fato em Felipe um candidato ao título tal qual em 2008. A Williams precisaria dar grandes passos à frente e Massa, igualmente. Se ele se mantém na F1, é porque tem quem acredite em suas qualidades, dentre as quais ser rápido em ritmo de classificação e muito preciso em ajuste do carro — mais do que muitos aí que receberam esse predicado como rótulo de currículo. E foi Felipe o único de todos a tentar fazer algo para ajudar no desenvolvimento dos moleques.

A parceria que Massa e sua família firmaram por ocasião de seu vínculo com a Ferrari criou três categorias. A CBA tentou tirar sua evidente casquinha do negócio se dizendo parceira, que não foi. Já que foi, não moveu uma palha para evitar que as categorias morressem poucos anos depois. A CBA, como atuante no automobilismo brasileiro, é meramente uma entidade que sobrevive de homologação de categorias criadas por companhias particulares e emissão de carteirinhas. Quem é que vê algum moleque daqui com alguma esperança de chegar à F1? Felipe Fraga? Tá lá na Stock Car, andando bem, mas com 18 anos se vê obrigado a mudar o foco da carreira, depois de ter tentado algo lá fora, porque não há caminho que se pavimente aqui.

Se se discute agora que deveria haver uma democratização no futebol para desmantelar o poder nefasto da CBF, igualmente já deveria ter acontecido há muito tempo sobre uma confederação que falta com suas responsabilidades e se preocupa em manter federações estaduais completamente sem nenhuma ocupação — isto é, existem só para ter poder de voto e obter as contrapartidas. É inconcebível que 19 ou 20 negos decidam por aclamação pela continuidade de um trabalho que é totalmente ineficaz.

E se o pensamento dessa gente é apostar que surgirão mecenas que vão fazer por seu trabalho, seria válido entender que não há mais Massas para isso, nunca mais, porque não vai, não vinga e não sobrevive enquanto negócio e razão de ser. A F-Truck tá louquinha para ser norte-americana por não aguentar mais a realidade brasileira. A Stock Car penou para achar um patrocinador máster e agora é que tenta, por suas próprias pernas, reerguer-se e até se reinventar — e sem ter a melhor das relações com a CBA.

A federação não fez nada por Massa, Nasr, Ramos, Razia, Jimenez, Dirani, Fraga e trocentos garotos e garotas que sabem que suas carreiras hoje são natimortas às pretensões que os tempos de Fittipaldi, Piquet e Senna geravam. O saldo que Teixeiras, Pinteiros, Marins e Valdugas veem em suas contas é inversamente proporcional ao que deixam como resultados sem que paguem pelas catástrofes. E com toda a pressão que sofre há anos por não trazer os resultados em pista, é Massa quem paga na visão do populacho que só se preocupa com os fins.

Se você considera Massa um derrotado, um zé ninguém, um nada no esporte, porque você precisa torcer e encontrar um bom motivo para colocar sua bandeira pendurada no carro e na sacada de seu apartamento, porque você não se conforma que ele chegou em sexto ou em sétimo, porque você só está acostumado a se curvar a quem faz ouvir musiquinha da vitória ou Brasil-sil-sil, seria bem válido repensar bastante seus conceitos e, até mesmo, sua inteligência. É um bom período, esse, para reflexão, mas já que muito do que se faz por aqui é no embalo do outro, siga em frente, que o faça.

Vai aí uma ajuda: pois Massa é o único que recosta a cabeça à noite e dorme tranquilo consciente do seu papel — ou que deveria, afinal essa gente é de uma desfaçatez tamanha que é capaz de se orgulhar de seus (não) feitos. Felipe é o único dentre todos que não precisa colocar o travesseiro sobre o rosto para se esconder da vergonha. Isso, como diria o próprio, é impressionante.