Blog do Victor Martins
F1

Alicia Silverstone, 2

SÃO PAULO | E aquele que foi covarde ontem sai com uma força imensa hoje. Nothing like one day after another one, como diz o antigo ditado saxão. Hamilton sabe que errou, e muito ontem. Cometeu um deslize que jamais poderia demonstrar, com a experiência que já adquiriu, e que representaria a pá de cal […]

SÃO PAULO | E aquele que foi covarde ontem sai com uma força imensa hoje. Nothing like one day after another one, como diz o antigo ditado saxão. Hamilton sabe que errou, e muito ontem. Cometeu um deslize que jamais poderia demonstrar, com a experiência que já adquiriu, e que representaria a pá de cal no seu psicológico caso o normal acontecesse na corrida diante do seu público: Rosberg vencer. E Nico ia para a vitória não fosse o caráter destruídor de líderes e confiabilidades de Silverstone. No ano passado, foi lá que Vettel quebrou pela única vez na temporada quando liderava a prova. Curiosamente, Nico aproveitou para ganhar. E Vettel venceu o que podia neste domingo: o duelo de gala primoroso com Alonso.

Aliás, uma pena que o problema no câmbio de Rosberg tenha impedido o que seria uma disputa fascinante pela vitória, com os dois pilotos da Mercedes assumindo táticas diferentes. Hamilton, como largava lá atrás, optou por uma estratégia de parada única; Rosberg iria para a convencional de duas paradas. Naquele momento da prova, Lewis vinha pouca coisa acima de 4 segundos depois do parceiro já tendo feito sua visita aos pits. Claro que perderia rendimento com quase 30 voltas naquele jogo de pneus, o que faria Rosberg se aproximar naturalmente quando calçasse seus novos. Mas não deu, paciência, há de acontecer no restante do ano.

Agora, a diferença foi reduzida para parcos 4 pontos e, acima de tudo, ajeita a cabeça e os nervos de Hamilton. Com relação a Rosberg, pouca coisa deve lhe afetar o sono: uma hora tinha de lhe acontecer um infortúnio. Creio que não haja dúvidas ou desconfianças de que o alemão tenha bala para brigar com o parceiro até o fim do ano.

Na corrida do resto, Bottas mostrou que é um fenônemo. Independente do que aconteceu com Massa, é perceptível que sua qualidade durante as corridas é maior que a do experiente companheiro e salta aos olhos. De 17º, pulou para nono na primeira volta até acontecer o acidente que terminou com a corrida de Felipe, ligeiríssimo ao desviar do perdido Räikkönen. Depois, foi passando um a um sem se importar se o rival tinha o mesmo motor Mercedes que deslancha nas retas. Chegou ao segundo pódio seguido com uma autoridade de quem vem para brilhar na F1. Tem quem fale que a Mercedes o espera para 2016. Não é de se duvidar, não.

Ricciardo mostrou o sorrisão de novo, terminando à frente de Vettel novamente. A corrida de Daniel não foi lá das mais exuberantes, mas aproveitar-se dos momentos livres da pista o tirou de voltar atrás das McLaren e de Alonso nas paradas dos boxes, algo que aconteceu com o alemão. E ainda bem que Vettel encontrou Alonso pela frente. A batalha dos dois em Silverstone é daqueles instantes sublimes do esporte, extensão do que tem sido essa Copa linda. O passão de Alonso em Vettel aproveitando-se de seus pneus frios, por fora, foi uma aula de pilotagem. Bem como a resposta que Sebastian deu, no mesmo trecho da pista. Emparelhados e agressivos, a briga dos dois deu-se também via rádio. Meio chorosa e mimizenta, OK, mas partes do jogo de dois pilotos do mais alto nível e, com o perdão da educação pouco britânica, bolas imensas e pesadas.

E ainda bem que a direção de prova, chata e fresca, não interferiu nas várias vezes em que os dois saíram da pista para defender e atacar. Às vezes, é simples agradar e conquistar quem assiste e quem guia.

Button foi o quarto, antes dos gladiadores. Até que merecia o pódio, pelo conjunto da obra. A temporada de Jenson não tem sido fácil: o carro segue uma draga e o pai não está mais ao lado. Ainda é obrigado a aturar as alfinetadas de Ron Dennis, que não disse a que voltou, no fim das contas. Sei lá se Button tem mais saco, nessa altura da vida, de aguentar desaforo, classudo que é.

A Massa restou a decepção em seu fim de semana 200 na F1. Colheu as consequências de um erro da equipe na classificação e foi além com o problema na embreagem que enfrentou na largada. Vide o desempenho de Bottas, vinha para pódio. A questão é essa sina de zicado se mescla ao desempenho. Por mais que enfrente azares, os resultados de Bottas o credenciam como o líder do time. É Bottas quem permite à Williams ir brigar com a Ferrari pelo terceiro lugar no campeonato – da mesma forma que Alonso em relação a Räikkönen. 78 a 30, por mais que não represente a realidade do quanto os pilotos deram ao longo do ano, pesam.

Agora, o jogo se inverte, e a F1 vai para a casa de Rosberg. Uma nova vitória de Hamilton, além de fincar a conquista de território, também inverte as posições na classificação. De certa forma, então, Nico passa a herdar a pressão que fazia Lewis tacar Salompas nos ombros até a bandeirada de hoje, a de ganhar em casa para, sobretudo, manter a liderança no Mundial. How the things change, uma vez disse Agatha Christie.