Blog do Victor Martins
F1

Riscos e negócios

NATAL | As pessoas que se aventuram em ter vários negócios de diferentes naturezas podem se considerar, além de comumente boas gestoras, impetuosas e desafiadoras. São gentes que lidam com o risco e o tratam como predicado inerente a quem quer ser bem sucedido. Tony Fernandes se encaixa neste quesito. Dono da AirAsia, o malaio […]


NATAL |
As pessoas que se aventuram em ter vários negócios de diferentes naturezas podem se considerar, além de comumente boas gestoras, impetuosas e desafiadoras. São gentes que lidam com o risco e o tratam como predicado inerente a quem quer ser bem sucedido. Tony Fernandes se encaixa neste quesito. Dono da AirAsia, o malaio buscou no esporte novas formas de levantar dinheiro e ampliar suas atuações do mundo dos negócios. Quase que simultaneamente, comprou o Queen’s Park Rangers e montou do zero uma equipe na F1.

Em ambos, sabia do quanto poderia se dar mal. O QPR vinha naufragando na Liga Inglesa, sempre sofrendo para permanecer na Premier League e dando prejuízo; na principal categoria do automobilismo, começar uma estrutura sem ter base alguma tem sido uma loucura das mais insanas. Para tal, ousou e usou a Lotus. Brigou bastante com aqueles que se achavam com o direito do nome, fez lá seu barulho, buscou metas e, mal ou bem, manteve-se até a virada das regras na F1 para tentar o salto maior. No começo do ano, em meio ao lançamento do feioso CT05, foi indicando em entrevistas e nas suas atuantes redes sociais, que um novo carro de fundo de pelotão significaria o fim da aventura.

A Caterham já sabe que será a última colocada no campeonato de Construtores, sobretudo com os dois pontos que Jules Bianchi deu à Marussia em Mônaco. Dificilmente uma situação semelhante vai se repetir nesta temporada, até porque o carro verde é notoriamente mais lento que a mais próxima rival – que anda cada vez mais perto da Sauber. No futebol, no entanto, o QPR conseguiu a ascensão para a primeira divisão contra o Derby County.

Hoje de manhã, Fernandes usou pela última vez o Twitter – algo que já vinha anunciando desde abril, a saída. Dentre as mensagens de paz, plenitude e futuro, soltou que o projeto da ‘F1 não deu certo’. O que é bem claro: a Caterham vai deixar de ser a equipe que conhecemos desde 2010. A operação, segundo o jornalista americano Adam Cooper, deve passar por uma restruturação completa e/ou ser vendida. Ouvi de fonte ‘americana’ que Fernandes tem sido visto nos EUA frequentemente, sinal de que negocia por lá um bem-bolado. Mas não há relação alguma com a Haas. A Forza Rossa também não está, a princípio, no radar.

A provável saída da Caterham da F1 não tira o sono de Bernie Ecclestone. Que, pelo contrário, meio que estimula a debandada de que não tem dinheiro. Ao fim e ao cabo, torna-se estranho que a maior acionista da F1, a CVC, insista em manter como homem forte da categoria alguém que, no fundo, não preze para seu bom andamento e só dê valor a quem apresente um volume voluptuoso de cifras. Talvez por isso esteja tão cego a ponto de deixar seu negócio ter cada vez menos público e notoriedade, curvando-se a regras que vão minando as corridas e sendo inerte a ações básicas de um mundo que mudou por completo.

Ecclestone teria muito que aprender com Fernandes sobre riscos e negócios. Ou, pelo menos, lamentar a ida de alguém que tentou contribuir para seu espetáculo que vem recebendo menos aplausos. Se não paga a fatia financeira dos lucros corretamente às pequenas, Bernie vem pagando com injustiça e oferecendo a porta da rua. Logo, há também de pagar as penitências e os pecados.