Blog do Victor Martins
F1

A angústia de Alonso

SÃO PAULO | Quando Alonso aposentou Schumacher pela primeira vez com seu par de títulos, a temporada 2007 se desenhava como uma extensão de seu domínio. Ir para a McLaren era a melhor solução para sua carreira, tendo o melhor carro do grid na mão e um piloto novato, Hamilton, a domar. Mas as costas […]

SÃO PAULO | Quando Alonso aposentou Schumacher pela primeira vez com seu par de títulos, a temporada 2007 se desenhava como uma extensão de seu domínio. Ir para a McLaren era a melhor solução para sua carreira, tendo o melhor carro do grid na mão e um piloto novato, Hamilton, a domar. Mas as costas largas e os ótimos braços do inglês irritaram o espanhol a tal ponto que a guerra eclodiu, e ambos, de lados opostos, entregaram um título no colo de Räikkönen.

Não estava nos trilhos de Alonso procurar uma outra equipe depois de um ano de desaforos e sapos engolidos, e a volta à Renault, então coadjuvante, foi a solução paliativa para o salto que viria a dar só depois de dois anos, a Ferrari. Em 2008, é claro e sabido que seu momento máximo foi ser o beneficiário da armação em Cingapura — só não se tem certeza de sua participação ativa.

Já em Maranello, fez de Massa o que pretendia fazer com Hamilton, ser o primeiro destacado, mas não fez da Ferrari a primeira. Os italianos só fizeram um carro acertadinho em 2010, com o qual chegou à última prova, em Abu Dhabi, na condição de favorito ao título e empacou atrás da Renault, de Petrov, dura coincidência e vingança da vida, permitindo a Vettel ser o que é: tetracampeão e maior que ele.

E desde então, Alonso luta. Luta consigo mesmo, porque já não é de hoje que se sabe que a Ferrari não lhe apetece — o sinal claro foi a investida na Red Bull no ano passado para pegar a vaga de Webber —, e o tempo vai atuando contra: já contando com esta temporada, serão seis anos de seca, mais a daquela da McLaren e a da segunda passagem na Renault. É nível Cantareira.

No último fim de semana em Barcelona, o jornalista jovial Renan do Couto acompanhou uma das entrevistas de Alonso e eu tive oportunidade de receber o áudio. Ao ser perguntado sobre o que passava e o quanto a Ferrari estava atrás da Mercedes, Alonso deu um suspiro que falou por tudo que viesse a dizer depois, “precisamos reagir rápido”, “não podemos ficar com essa diferença”, “se você vem em sexto, sabe que Real Madrid, Barcelona ou Atlético vão ganhar, mas ainda joga”,  frases quase de auto-ajuda e que saíam por sair. Se tivesse realmente que dizer o que pretendia, o sangue espanhol lhe subiria à cabeça, e dá-lhe pito de Luca di Montezemolo. E se tivesse realmente que dizer o que pretendia, Alonso teria toda a razão, até porque seria um desabafo de algo que lhe consome há muito tempo.

A Ferrari perdeu a mão de como ser vitoriosa, a bem da verdade, desde que Schumacher construiu aquele súper time, e de um modo que estamos vendo a McLaren atravessar. Em ambos os casos, não foi só trocar Stefano Domenicali ou Martin Whitmarsh que os resultados começam a vir num estalar de dedos: Marco Mattiacci até viu o pódio do espanhol na China, mas já viu a bucha real em Barcelona; Ron Dennis começou o ano batendo no peito com os pódios de Magnussen e Button e, de líder do Mundial de Construtores, hoje a McLaren é a sexta colocada. Ainda mais numa F1 nova, Ferrari e McLaren deveriam ter construído carros minimamente bem feitos para serem as melhores do resto, mas conseguiram ver a diferença para a Mercedes mais do que duplicar no começo da temporada europeia e até a Red Bull livrar frente.

Já começam a pipocar os rumores de que Alonso pode voltar para a McLaren em 2015 para tentar um rumo final na carreira — a história na Mercedes implicaria na quebra de contrato de Rosberg, algo que dificilmente vai acontecer pelo que Nico vem apresentando nesta temporada; e Button já vem dando um jeitão de que essa coisa de F1 já deu no saco. Se assim for, Alonso só transferiria sua angústia. O projeto da Honda ainda é uma incógnita, por mais que se saiba do jeito que os japoneses trabalham. O conjunto da Mercedes é imbatível, e grande parte disto está em seu motorzão.

Assim, como bem disse Ivan Capelli em seu post, o histórico que Alonso escreveria na F1 seria muito ingrato para a capacidade que tem e, sobretudo, para o que se apresentou como um dos grandes de todos os tempos. Duro é que não pode reclamar do destino que traçou para sua carreira.