Blog do Victor Martins
F1

Bar Celona, 2

SÃO PAULO | No jornalismo das ‘hard news’, é comum que o profissional que esteja cobrindo um evento ao vivo comece a fazer o relato e/ou sua manchete com relativa antecedência a seu final para que, em questão de minutos ou segundos, esteja disponível ao leitor. É normal – e irritante – quando, então, o […]

SÃO PAULO | No jornalismo das ‘hard news’, é comum que o profissional que esteja cobrindo um evento ao vivo comece a fazer o relato e/ou sua manchete com relativa antecedência a seu final para que, em questão de minutos ou segundos, esteja disponível ao leitor. É normal – e irritante – quando, então, o curso das coisas mude no fim. E apesar de Rosberg ter se aproximado nas voltas derradeiras, a chamada da prova em Barcelona já foi possível de ser preparada a partir da quinta volta. Com Hamilton contornando a primeira curva na frente, só uma quebra ou um coelho da cartola do companheiro o fariam terminar sem a vitória e a consequente liderança no Mundial.

As vitórias que Hamilton aplicou em Rosberg foram alternadas em seus jeitos: nas provas 2 e 4, Malásia e China, colocou 18s de frente; nas 3 e 5, Bahrein e Espanha, viu o retrovisor todo prateado. Na enfadonha prova d’hoje, Lewis não abriu mais que 3 ou 4s de vantagem para Nico, que teve de partir para uma tática distinta para tentar atacá-lo no trecho final. Foram meras três voltas e nenhuma tentativa efetiva. “Ah, mas se tivesse mais uma volta, daria”, declarou o alemão. Não, Cláudia, não daria, não.

Cinco dias atrás, Ricciardo teve a afronta de Bottas na primeira parte, tentou superá-lo, não deu, chama a Red Bull que resolve. Antecipou a parada do australiano, que pôde andar livre, e assim que o finlandês parou, tchau, um abraço. Sim, também era previsível que terminasse em terceiro. Ricciardo só teria problema com Vettel, que hoje voltou a ser Vettel.

O moleque largou em 15º, não conseguiu passar muita gente na largada, foi o primeiro a parar nos boxes quando era 14º e começou a escalar o pelotão. Mas não só nos pits; passou meio mundo: Magnussen, Grosjean, Massa, Alonso, Räikkönen e Bottas. E chegou em quarto. Vettel é decidido, obviamente não é tetracampeão à toa, e ignora todas as forças físicas e técnicas que determinam posições pré-estabelecidas por eventuais impossibilidades de se ultrapassar.

Com o terceiro melhor carro da pista, Valttinho foi quinto. E, se assim, considerando também o quanto Vettel pôde se recuperar, Massa deveria ter sido sexto. Foi 13º. Felipe foi muito mal hoje. Com sete ou oito voltas com seus jogos novos de pneus, Massa já era bem mais lento que os demais. Teve um momento em que as Ferrari jantaram Grosjean com farinha; Felipe perdia 0s5 por volta em relação ao francês da Lotus e era 1 segundo mais lento que o companheiro, que vinha com pneus mais usados e bem. “A estratégia teria funcionado se eu tivesse um primeiro stint limpo”, alegou o brasileiro, que parou três vezes. Não. Vettel tava preso lá atrás e também teve a mesma tática.

Em cinco provas, 34 a 12 para Bottas na classificação – 73% da pontuação da Williams conseguida pelo finlandês. Resultado semelhante, só na Ferrari, com Alonso com 74% em cima de Räikkönen, que assumidamente vinha com problemas de adaptação.

Alonso sofreu. Principalmente com Räikkönen. Pensou que conseguiria a ultrapassagem nos pits, tomou en la tarraqueta, e passou na marra no fim da prova. Foi sexto e, apesar de ter falado que se divertiu e trololó, tava lá brigando com Kimi e viu uma bela bandeira azul para abrir passagem para Hamilton e Rosberg. Mai isso deve subir o sangue dele que deve dá vontade de arremessar o capacete na cabeça de Montezemolo. É difícil imaginar que Alonso vá conseguir ser campeão de novo na Ferrari. É por isso que já pipocam as conversas de McLaren, Mercedes, Red Bull.

Grosjean conseguiu os primeiros pontos da Lotus no ano, que parece cada vez mais arrependida de ter se debruçado a los millones de PDVSA. Maldonado, meu deus, que terror. Deu no pobre Ericsson, quase catapultou, tomou mais um ponto na carteira e virou verbo no particípio. Ser maldonadado é sofrer as consequências de um Pastor endiabrado.

Apagadas, as Force India completaram a zona de pontos, mas de novo Pérez tomou à frente, passando Hülkenberg na pista. A equipe já caiu para quarto no campeonato, 9 pontos atrás da Ferrari (66 a 57). A Red Bull foi a 84. A Mercedes tem um zilhão. E as McLaren, hein? Martin Whitmarsh refestela-se com um vinho e alisa o vodu com gosto.

Tá mais ou menos claro – muito mais para mais – que Hamilton deve seguir a tese teojoseana de não perder mais a liderança do Mundial e rumar para seu segundo título na carreira. Por mais que Rosberg fique emputecido de chegar em segundo, nada que faça tem tirado o parceiro de seu campo de visão. Estudá-lo não resolveu. Que parta para outra tática, a psicológica: fotos peladas de Nicole Scherzinger, piada com o cabelo sarará, sabotagem sorrateira no carro ao lado mediante suborno aos mecânicos, ‘boa noite Cinderela’ colocando droga na champanhe, sei lá. Do contrário, coitado, Nico é quem vai se abalar muito.

Próxima parada, Mônaco. Sdds Bahrein.