Blog do Victor Martins
F1

Bem que Sakhir, 2

SÃO PAULO | Como é bom queimar a língua e os dedos que vaticinavam que nada podia se esperar da corrida d’hoje no Bahrein. Se bem que, na verdade, ninguém cogitava que esta prova na noite das Arábias fosse tão espetacular. Eu me peguei pensando desde quando não se via algo de tamanha magnitude. Brasil […]

SÃO PAULO | Como é bom queimar a língua e os dedos que vaticinavam que nada podia se esperar da corrida d’hoje no Bahrein. Se bem que, na verdade, ninguém cogitava que esta prova na noite das Arábias fosse tão espetacular. Eu me peguei pensando desde quando não se via algo de tamanha magnitude. Brasil 2008? Brasil 2012? Teteia pura, soltou Evelyn Guimarães na redação. Chuchu beleza, definiu Gabriel Curty. As nossas reações ao que acontecia se resumem ao conceito de ‘pure racing’ que havíamos deixado de lado desde a segunda metade da temporada passada.

Bem, tá claro que a disputa pelo título fica entre Hamilton e Rosberg. O que os dois fizeram hoje foi digno de aplausos de pé. E o abraço e a comemoração dos dois mostra que a rivalidade há de ficar na pista, por enquanto. Nico, que deveria ter feito a primeira curva na frente por sua posição de largada, acabou perdendo para o companheiro. Mas não desistiu. Atacou Lewis antes da primeira troca nos pits, que indicaram uma mudança na estratégia de ambos: o inglês de pneus amarelos com a obrigação de abrir distância para o alemão, que foi de duros para, no fim da prova, fazer a reaproximação na parada seguinte com os macios.

Mas não contavam com o safety-car e a volta de Maldonado aos seus tempos de Pica-Pau de polainas. Aliás, a falta de critério em punições mundo afora no esporte é abissal. Tomar três pontos na carteira – um a mais que o convencional – e cinco posições no grid de largada na China é muito barato; Ricciardo, que não prejudicou ninguém ao ser prejudicado pela Red Bull na Malásia, levou o dobro no grid do Bahrein.

Voltando: o cenário era ideal para Rosberg, que teria os macios, a facilidade da redução da diferença a zero e a asa móvel para partir para a vitória. Logo que o SC se foi, Hamilton começou a reportar perda de potência. Como, não sei, afinal encaixou uma sequência de voltas rápidas. Só que depois, Nico foi para cima. Duas tentativas no fim da reta principal, dois xis; na curva 4, outras duas tentativas, e Hamilton devolveu.

É ainda prematuro, óbvio, mas o que Lewis guiou hoje começa a credenciá-lo ainda mais como favorito. Hamilton é sabidamente mais piloto e tal e está guiando o fino do fino. Seu problema é ter um companheiro cerebral e que há de conseguir equilibrar as ações e endurecer a parada. Nico tem 11 de vantagem com essa Mercedes que não vai dar muita chance pras demais, não. Melhor começo de uma equipe desde 2004, com três vitórias e duas dobradinhas; naquele ano, Schumacher ganhou as três primeiras, Barrichello foi segundo em duas e quarto noutra.

A prova dos outristas também foi um espetáculo. Bottas parecia o mais credenciado ao pódio por sua posição no grid, só que falhou miseravelmente na largada, onde Massa sambou na cara da sociedade. Aí, então, o brasileiro roubava o posto do companheiro. Só que as Force India estavam, oh!, fortes. Hülkenberg veio passando meio mundo no pelotão de trás e ia colando em Pérez, que passou Felipe com o desenrolar das ações. Os indianos têm um carro mais bem equilibrado que o da Williams, é fato, e logo Hülk seguiu a toada do parça. Com ou sem SC, a briga entre os quatro pelo último lugar no pódio seria excelente. É no fim surgiu Ricciardo, esse danadão, que escalou o grid, não deu a mínima para Vettel e tinha mais condições que Pérez, mas só não tinha mais voltas – a corrida, uma hora, acaba; e que pena.

Se tem alguém que merece o pódio, é Ricciardo. Por tudo que já lhe aconteceu no ano.

Hülk, de pneus duros, também foi bravo ao segurar Vettel, muito na força do motor Mercedes. E nessa brincadeira aí, a Force India é vice-líder do campeonato. Mamma mia, here I go again, diria Renan do Couto Sem Cisto. Maior acerto do mundo, o da Force India, de trazer Hülk de volta e pegar Pérez. Não ia longe se continuasse com Sutil e Di Resta. Nico é melhor que Sergio, mas os dois casaram bem. Viva a diversidade.

Vettel também teve certo trabalho com Massa, que forçou a ultrapassagem no fim e foi empurrado para fora da pista na retinha que leva à curva 4. Aquela parte ali já era pista, amigo. Felipe até chegou a se queixar do ímpeto de Sebastian, mas tava valendo tudo, amigo. Massa também fez o mesmo com Hülk. Hoje o estado era de graça e de plenitude.

E a Ferrari, hein? Alonso cruzou a linha de chegada em nono, comemorando. O jovem é rápido nas ironias e sarcasmos. Camarada deve estar puto demais com essa tartaruga rossa. Räikkönen foi décimo e tava meio perdido. “Kimindica o caminho?”, questionou. Só sei que a cara de Montezemolo, impagável, resume.

Interessante foi ver que cinco equipes ocuparam as dez posições da pontuação. A McLaren falhou miseravelmente. Em algum lugar do mundo, Martin Whitmarsh deve estar rindo loucamente, cutucando a agulha da bunda do bonequinho de Ron Dennis que ele tem. Vodu é pra jacu.

Tudo muito lindo, que nos faz torcer pelo replay da corrida na TV, mas a questão é que, infelizmente e por enquanto, o GP do Bahrein entra como exceção. Ou será que as corridas na Austrália e na Malásia é que saíram do eixo e ficaram fora da órbita mundial? A China costuma ter provas boas e vai clarear esta resposta. Hoje, o que vale é a frase de Niki Lauda: “Quem acha esse esporte chato é um idiota”.