Blog do Victor Martins
F1

Aqui se faz, aqui Sepang, 3

SÃO PAULO | A corrida na Malásia ter tido como fato principal a questão da ordem de equipe da Williams denota o que ela foi para nossas vidas. O que significa dizer, primeiro, que errei. Foi uma prova tão chata quanto a da Austrália. E também não choveu. Hamilton venceu com uma tranquilidade digna de […]

SÃO PAULO | A corrida na Malásia ter tido como fato principal a questão da ordem de equipe da Williams denota o que ela foi para nossas vidas. O que significa dizer, primeiro, que errei. Foi uma prova tão chata quanto a da Austrália. E também não choveu. Hamilton venceu com uma tranquilidade digna de quem se entope de suco de maracujá com camomila. E Rosberg não teve dificuldades para ser segundo e manter sua liderança no Mundial.

Vettel perdeu duas posições nas primeiras voltas – para Rosberg e Ricciardo –, mas logo recuperou a do companheiro. Desde então, o pódio foi definido. Daniel seria quarto não fosse a presepada nos boxes. Não ter trocado o pneu dianteiro esquerdo e tê-lo destarrachado fez o australiano ser empurrado de ré, perder um bico e um pneu, tomar uma punição de 10s e mais uma para a corrida do Bahrein, 10 posições no grid. Tem ele de tomar a combinação maracujá/camomila para dar uma acalmada. Não tem sido fácil, coitado.

Mais atrás, Alonso ganhou de Hülk, em estratégia diferente, a quarta colocação. Aliás, os dois têm brigado demais desde a segunda parte da temporada passada. Virou a briga mais legal da F1. Pilotaços. Alonso faz o que dá com essa Ferrari mezza-bocca e Hülk, bem… deem a ele um carro decente, como a campanha diz. O moleque tem de brigar por vitória e título. Button ficou em sexto. Foi o que sobrou a ele, que andou por andar. Quase ninguém notou.

Quer dizer, notou no fim, né, com a questão lá que a Williams resolveu arrumar – para a cabeça. Bom, ao fato inicial: Massa vinha com muito mais ação para passar Button. Teve lá sua tentativa e, na hora de armar o bote na reta principal, tomou o traçado externo em vez do interno – onde dava para ter ido. Em sequências belas de xis, Button acabou ficando à frente e Massa não mais teve chance. Foi quando se aproximou Bottas, que tinha a tal ação para passar o companheiro. Foi quando veio a mensagem de que Valtteri estava mais rápido. “Passe”, disseram ao finlandês.

Na segunda corrida pela Williams, Massa teve diante de si uma decisão na carreira. Que já havia sido tomada há quatro anos, quando ouviu a famosa e fatídica frase naquele GP da Alemanha. Desde então, se prometeu a não mais abrir quando não tivesse a menor necessidade. Evidentemente, hoje, não tinha a menor necessidade. De abrir e de ouvir aquilo. É de uma insensibilidade e, sem eufemismo, de uma burrice atroz. Era um sétimo e um oitavo lugar. E se Felipe abrisse ao companheiro, esquece, camarada: o respeito que resta ia para o saco e para a cova. Passe, o caralho, e Massa botou a bilola à mesa. “Que desbocado”. É meu jeito, dsclp.

Massa tem uma certa sina em ouvir coisas desse tipo. E já que não precisa engolir mais sapos desta natureza nessa longa estrada da vida, com essa atitude de dar de ombros e fazer a linha Katia cega, talvez parem. Bem como talvez a Williams não gostasse de escutar que o carro dela não é nem fodendo o segundo melhor do grid. Terminar a corrida a mais de 1min20s de Hamilton não é coisa para quem se diz só abaixo da Mercedes. E não tem a desculpa da pista molhada, coisa nenhuma.

Enfim, lá na Williams, o negócio não deveria nem ser a discussão que Bottas pretende ou que a equipe ainda pode alegar. Chega um determinado momento na vida que a pessoa acalma e evita entrar em certas discussões ou brigas que, mesmo estando com a razão, não valem a pena. É muito provável que os avisos dados pelos engenheiros respectivos tenham partido de Claire Williams, que é relativamente nova no comando da estrutura. Criou um caso e uma tensão que deixa uma certa marquinha sem que precisasse.

Logo Claire entende isso — se já não entendeu. É o preço do noviciado.

Magnussen e Kvyat foram de novo aos pontos, Kobayashi teve belíssimas brigas ali com Lotus e a Ferrari de Räikkönen, que desandou, e Bianchi e o danês estrearam o sistema de pontos da CET-FIA – ambas, para mim, injustas. Qualquer toquinho, agora, é um prato cheio para estes comissários que poderiam estar em casa dormindo ou dando um passeio qualquer.

Como nós nesta manhã.

Rosberg vai a 43 pontos e tem Hamilton mais atrás, 25. É bom que abram uma gordurinha boa nestas próximas duas corridas aí que Vettel não tá morto, não, para o resto do campeonato. E lá na Williams, tem uma receita boa para dar uma baixada na galera: maracujá com camomila.