Blog do Victor Martins
F1

O legado Melbourne, 3

SÃO PAULO (olha a hora…) | E deu Rosberg, com absurda facilidade, na prova não muito empolgante que abriu o ano da F1 em Melbourne. Para quem gosta de agito e emoção, é um pouco preocupante — estamos no início; o desconto ainda vale. Mas é possível dizer que as partes mais importantes da corrida […]

SÃO PAULO (olha a hora…) | E deu Rosberg, com absurda facilidade, na prova não muito empolgante que abriu o ano da F1 em Melbourne. Para quem gosta de agito e emoção, é um pouco preocupante — estamos no início; o desconto ainda vale. Mas é possível dizer que as partes mais importantes da corrida se deram na largada e nas primeiras voltas.

Os atos: 1) o passão de Rosberg sobre Hamilton — nem se conta Ricciardo — nos primeiros 500 m; 2) o acidente de Kobayashi e Massa; 3) os abandonos de Hamilton e Vettel.

No resto da prova, o que valeu foi Bottas — sua escalada no pelotão, o toque no muro que furou seu pneu e provocou a entrada do safety-car e sua remontada. Assim, nada que fizesse o nego que aguardou com tanta expectativa se satisfazer explicitamente.

Rosberg abriu uma vida para Ricciardo, que só se viu ameaçado por Magnussen nas voltas finais, sem muita pressão. Button apareceu em quarto se dando bem no momento em que o SC foi acionado, sendo o primeiro a se beneficiar em pista parando nos pits e depois na troca convencional. Ficou à frente de Alonso, que teve de ganhar nos boxes a posição de Hülkenberg. Este só não terminou atrás do espanhol porque Bottas sentou seu nome.

A Mercedes é a Red Bull do passado. A McLaren vem com o papel de Mercedes. A Ferrari segue sendo a Ferrari, bem como Hülkenberg e a Force India — ou seja, continuaremos na missão de ‘deem um carro decente para este cara’. A grande ascensão é, de fato, a da Williams, que parece ser pelo menos a Lotus de outrora.

Seria interessante ver o que Massa faria na prova ou aonde Bottas chegaria não fosse seu errinho naquela primeira parte onde voava para cima de todos. Nesta impressão acima, briga tranquilamente com Magnussen e Button. Mas, como diz o poeta moderno, infelizmente não deu.

O acidente em si: já era possível ver que algum problema havia acontecido com Kobayashi durante a tentativa de freada. Há um toque ainda numa Ferrari, a de Räikkönen, que desvia de leve a rota e acerta Massa em cheio. Mesmo sem o desvio, provavelmente o brasileiro seria o alvo. É coisa de manter a sina desgraçada e negra de Felipe em Melbourne — algo que Hülk, que nunca havia completado uma volta lá, superou. Óbvio que a culpa é de Mito, mas se encontraram uma falha técnica, um problema no freio, é minimizada.

Agora, se tem um sistema punitivo lindo e novo na F1, a Caterham é quem tem de ser punida. Um freio não funcionar logo numa largada, justamente numa curva tão fechada quanto a 1 de Melbourne, mereceria pelo menos uma reprimenda à equipe.

E Ricciardo, porra, coitado. A Red Bull também, voticontá, me usa um fluxômetro não homologado pela FIA. Quem vê também pensa que entendo pacas de fluxômetro ou tinha qualquer ideia que havia este artigo no regulamento técnico, ui, o limite é 100 kg/h, daí chegam no fim de semana e diminuem a frequência pela metade, de 10 para 5 Hz, nossa, gente. É coisa que aprendi com a Marisa no colegial lá no São Bento e não faço mais ideia do que signifique. Mas a Red Bull foi avisada que o fluxo durante a prova estava excedendo o tal limite, deu de ombros, se ferrou e ferrou Riccardinho.

Assim que saiu o resultado, deve ter sido a primeira vez no ano em que o pobre não sorriu. Há boatos que ele sorri até dormindo.

E esse Magnussen lindo e garboso, honrando nossa nação, acabando em segundo. Eu já dizia aqui que se tratava de um talento diferenciado. “Mas só foi a primeira corrida, daí se ele for mal depois, vai dizer o quê, idiota?” Ora, cale-se e me deixe viver. Primeiro pódio da Dinamarca na história da F1 e melhor resultado de um estreante desde Villeneuve em 1996 naquela linda prova na mesma Melbourne. A rainha Margô deve estar irradiante.

No mais, a Toro Rosso surpreendeu com um boníssimo ritmo de corrida. Vergne e Kvyat mandaram bem. Bons pilotos, jovens, têm de mostrar serviço e tal. A Marussia, pelo jeito, não vai muito além. Os dois carros deram presepada na tentativa de largada e na dita cuja. A Lotus foi muito além do que imaginava: Maldonado e Grosjean abandonaram passando metade da prova. As duas equipes foram pegas na regra do fiascômetro, que também consta no regulamento técnico, artigo 1.7.1, como soltou Pedro Henrique Marum.

Torno a dizer que o campeonato é feito para as características de Rosberg. Hamilton, sabedor de que esta pode ser sua última chance de conquistar o bi, vai ter de ralar para se mostrar o melhor piloto, que é, adaptado ao que pede a F1 de cuidados e poupanças. E torcer para que os males técnicos acometam o companheiro. É esta a grande diferença para os anos anteriores: dentro da melhor equipe da temporada, há uma competição real entre os pilotos, diferente da Red Bull.