Blog do Victor Martins
F1

Fim de feira, 3

SÃO PAULO | Teve um ano aí como o de hoje que a patuleia esperava por chuva e mais chuva para dar uma animada no negócio, e a previsão indicava que a alegria seria imensa de todos. O dia amanheceu nublado, choveu antes da prova, deu tempo de secar, o radar mostrava aquela gleba de […]

SÃO PAULO | Teve um ano aí como o de hoje que a patuleia esperava por chuva e mais chuva para dar uma animada no negócio, e a previsão indicava que a alegria seria imensa de todos. O dia amanheceu nublado, choveu antes da prova, deu tempo de secar, o radar mostrava aquela gleba de pixels azuis e verdes se aproximando do centro, e no fim não caiu uma gota. Bandeirada dada, pódio em execução, começou a chover.

Foi o mesmo hoje. As câmeras lá cheias de pingos, o horizonte mais nebuloso que aquela indústria que solta aquela fumaça densa de poluição que faz daquela região de São Paulo uma semi-Cubatão, o radar apitando, as equipes se preparando, não molhou nada. Aí só ouço o passar dos carros na rua com aquele barulho típico do solo úmido.

Dois parágrafos de cascata para dizer que o GP do Brasil poderia ser muito mais. A corrida, na ótica do vencedor, só teve uma única volta de competitividade: aquela que Rosberg liderou por ter largado melhor que Vettel. Mas a Mercedes, na calada da noite, deve ter trocado os V8 pelos V6 que vai usar no ano que vem, uma experiência única. Só esqueceram o turbo. Rosberg e Hamilton foram jantados pela patota toda, Webber, Alonso e até Massa. Button e a McLaren que casam perfeitamente para as condições vistas ganharam as posições nos pits. Nico foi quinto beneficiado pelos azares alheios. Lewis terminou em nono depois de ser punido por não enxergar e enxotar Bottas. Os pontos foram o bastante para a garantia do segundo lugar entre os Construtores. 3 vitórias, 9 pódios, 8 poles: diante do que foi Vettel/Red Bull, a Mercedes sai de cabeça erguida, apesar da rateada nesta segunda metade d’ano.

Alonso, como sempre, tira um pouco mais do carro do que pode. Lançou-se para cima das Mercedes, limpou a área, mas viu em Webber um cara combativo em sua despedida. Markola passou a primeira vez e teve de lidar com o rival/amigo ao longo porque a Red Bull tava trabalhada na preguiça e na zuêra nos pits. Webber e Alonso ao lado de Vettel, sinceramente, era o pódio mais merecido para este fim de ano: o cara que se despede da F1 mais o rapaz que fez das tripas coração para ser vice com o carro que tinha ao lado do reinante todo poderoso, como diria o Mateus Solano na novela.

Um volte a Button: quarto lugar, melhor resultado no ano. E a McLaren, que ainda viu Pérez se despedindo em sétimo, termina o ano virgem de pódios. Pior desempenho em 33 anos. Uma nhaca total. A mudança de regulamento cai bem para Woking, que costuma não ter duas temporadas de puro malogro e mau trabalho. Mas a verdade é que a equipe tem colecionado resultados medianos numa análise baseada em números. É bom lembrar que a equipe começou e terminou 2012 ganhando e tendo o melhor carro nos dois momentos. Mal chegou a disputar o título, oscilante que foi no meio-termo.

Massa acabou em sétimo, mais do que frustrado: puto. A punição que toscou se deu em decorrência de uma regra tosca. OK, ela existia, foi falada. Havia lá a tal linha, que tinha uma separação determinante. Digamos que tenham sido formadas A e B: em A, o carro poderia passar totalmente dentro; em B, não. Só que nenhuma lei física seria obedecida nesta situação: pela velocidade que o carro passa dentro em A, ele não tem como sair totalmente em B. Ou se colocava uma divisória clara entre a entrada do box e a reta principal ou nem se assuntava a respeito daquilo. Felipe vinha ali em quarto controlando Hamilton e poderia chegar no pódio pelo acordo feito com Alonso, que deixaria o brasileiro passar. A FIA é trabalhada na idiotice, tá lôco.

E quanto a Felipe, gente da maior qualidade, pessoa do bem que mereceu toda a festa e consideração da Ferrari e tal: a mudança para a Williams lhe cai bem demais.

Hülkenberg ficou em oitavo. Camarada que não teve lá tanto brilho no fim de semana, mas que é brilhante no geral. Vai pra Force India – ou melhor, volta –, muito pouco para o que é e o que pode mostrar. O time dálit, aliás, vai mostrar quem é na F1 justamente no ano que vem, na radicalidade da alteração do regulamento. Neste ano, o conservadorismo dos pneus ao longo do ano deu uma baixada no desempenho de Sutil e Di Resta, mas no geral, para quem foi Jordan em seus piores momentos e Spyker, a FI está estabelecida como pelo menos equipe do meio pelotão. É uma grande incógnita, realmente, para o futuro. Se tiver Pérez/Carlos Slim ali, um bom dinheiro será injetado para recursos mil.

Ricciardo somou seu último ponto pela Toro Rosso que também andou para trás na corrida, indicando estar acertadinha para as condições molhadas. Daniel chega para sentar no cockpit de Webber no melhor momento possível: as modificações que vão também afetar a condução dos carros coloca todo mundo no mesmo patamar de aprendizagem – que, claro, vai ser aperfeiçoado conforme o talento de cada um. Riccardinho é de uma boa safra e tem umas tiradas legais. É um novo sangue na Red Bull que estava amanteigada pelo tchau do australiano mais velho.

Di Resta, Gutiérrez e Sutil, 11º a 13º e situações similares: a dúvida do amanhã. Paul já tá vendo a vida na Indy ou no DTM; pouco se fala na sequência de Esteban na Sauber, que dirá na F1; e apesar de Adrian falar que tá assinadinho e tal, não parece tão certo assim seu futuro na Force India – a não ser que esteja de malinha, cuia e Dona Sutileza para a Sauber.

Kovalainen foi 14º. Uma lástima total. Valsecchi, há pouco via Twitter: “Eu disse à Lotus que meu coração e minha motivação seriam maiores que a experiência de Kova. Eu lamento a escolha que eles fizeram”. Resume bem. E resume também uma situação que também foi vista em 2009 com Fisichella substituindo Massa: simplesmente pegar um piloto que tá acostumado com um carro X e pôr no Y de paraquedas é um erro. Hülk, no fim das contas, fez bem em não cair na Lotus nestas duas provas sem Räikkönen. Heikki vai lá ser verde e amarelo na vida no ano que vem, e tá bom demais.

Maldonado, 15º, sai da Williams por alguma porta que não seja da frente para ir para a Lotus – dizem que o anúncio deve sair na segunda-feira. Vergne, 16º, acaba o ano de forma blazé. E no rebolo das piores, a Marussia enfim venceu a Caterham para abocanhar os milhões polpudos do décimo lugar. Fosse justa, chamava Glock de volta para 2014.

Bom, a verdade é que a F1 fez hora extra neste 2013 e o que mais movimentou o negócio todo foram os anúncios, as especulações, a silly season, o Snowdinho Teixeira e tal. Interlagos estava em compasso de fim de feira, meio plúmbea como o tempo que a caracterizou. Um ano que foi macambúzio pelo terreno ocupado por Vettel e que se encaixa na história da categoria.