SÃO PAULO | Admito que considerei inicialmente exageradas as opiniões de que Alonso estava com cara amarrada no encontro dos três primeiros colocados na salinha antes do pódio de ontem em Spa-Francorchamps. Dando um desconto àquele momento, seria natural que um segundo colocado não ficasse feliz com um resultado que o afaste ainda mais do líder e vencedor da prova, Vettel. Mas o decorrer das cenas realmente foi demonstrando que havia um desconforto, sim – e estar descontente é diferente de estar desgostoso.
Não dar um sorriso sequer em uma prova em que havia sido o nome e que ao menos esboçava alguma evolução em relação às últimas performances é, de fato, estranho. Por outro lado, não é tão estranho quando se pega a ficha do que aconteceu desde o fim de semana do GP da Hungria: a ida do empresário ao motorhome da Red Bull, o puxão de orelha público do presidente Luca di Montezemolo, a obrigação de ter de se desculpar e falar que foi um mal entendido atribuindo até a questões linguísticas, a ciência de que há um plausível cenário em que Räikkönen pode aparecer em Maranello em 2014.
Some-se a cara de zero amigos de Alonso com os colegas de trabalho que nem lhe deram muita bola pelo segundo lugar, e temos um verossímil cenário de que o espanhol não se sente em casa ou não tem mais o grupo de Maranello nas mãos. Além de ser mais um motivo de que Vettel tem o tetra no bolso, coloca mais um ponto de dúvidas sobre sua permanência na Ferrari. A MTV3 finlandesa apareceu neste fim de semana com uma possibilidade de troca de lugares entre Fernando e Kimi para o ano que vem, em que o primeiro levaria o Santander para a ex-Renault — onde conquistou seus dois títulos e o recebeu de braços abertos depois da beligerante temporada de 2007 na McLaren — e ajudaria a salvá-la da bancarrota.
Montezemolo já ressaltou diversas vezes, e não foi diferente com Alonso, de que os interesses da Ferrari sempre vão estar acima de qualquer piloto. O time pagou para se desfazer de Räikkönen em 2009 para ter este mesmo Alonso. A italianada é louca e venal o suficiente para desfazer a troca.