Blog do Victor Martins
F1

Spartacus, 2

SÃO PAULO | O mínimo que se pode expressar pelo GP da Bélgica de hoje é uma sequência de onomatopeias repetidas em ‘fué’. Um desastre para quem vinha com a expectativa lá no alto, empolgado pelo treino de classificação que valeu pelos minutos contados para o fim das férias. Sem a chuva, deu mais do […]

SÃO PAULO | O mínimo que se pode expressar pelo GP da Bélgica de hoje é uma sequência de onomatopeias repetidas em ‘fué’. Um desastre para quem vinha com a expectativa lá no alto, empolgado pelo treino de classificação que valeu pelos minutos contados para o fim das férias. Sem a chuva, deu mais do que a lógica, com esse Vettel que vai quebrando recordes, atingindo números grandes e colocando desde já a pá de cal naqueles que esperavam uma aproximação dos demais na briga pelo título.

Não adianta: Vettel não perde o tetra. Porque, há de se repetir, nada aponta para que a Red Bull comece a quebrar daqui pra frente ou que o alemão saia da zona de pontos ali do pódio. Por mais que tenha um fim de semana ruim, seus adversários fortes são sempre três: Alonso, Räikkönen e Hamilton. De vez em quando aparece Rosberg para enchouriçar. E vai chegar um momento que as próprias rivais vão jogar a toalha e concentrar os esforços no ano que vem.

Para ser um primoroso piloto, Vettel tem um grande macete: as primeiras voltas de uma corrida. Notem sempre que Sebastian sempre guia o fino no começo de uma corrida. Quando está em primeiro, encaixa uma sequência de voltas que lhe permita abrir um segundo de folga e evitar que o segundo colocado ataque assim que o DRS é liberado. Na largada em Spa, Vettel contornou La Source ainda atrás de Hamilton, mas já estava em sua caixa de câmbio no fim da Eau Rouge para conseguir facilmente a ultrapassagem no retão lá em cima. Daí, abriu confortáveis cinco segundos que manteve até a primeira parada dos demais. E no fim da prova, com um carro muito melhor acertado, foi se divertir e encaixar uma sequência de giros mais rápidos. Isso é Vettel, e qualquer tentativa de porém que se coloque, atribuindo a Adrian Newey todo seu sucesso, é de um desrespeito e uma desfeita enormes.

Geralmente, o lado emocional impede que se dê o braço a torcer. Mais pra frente, os detratores de Vettel ou aqueles que insistem que ele não está pelo menos em igualdade de talento e capacidade com Alonso hão de ver o que este jovem conquistou. Mas não com este cabelo de Gugu Liberato, por favor.

Alonso saiu de nono para segundo com metade do seu trabalho feito na primeira curva. Di Resta e Webber largaram com a ré, as Lotus se engalfinharam e Hülkenberg foi jantado facilmente. Daí passou Button e Rosberg, chegando a terceiro e comboiando Hamilton. Quando colou no inglês, logo após a primeira parada, este tentou uma manobra até que inteligente: abriu demais na La Source para que o espanhol o ultrapassasse e, com asa aberto e o vácuo pego, devolvesse no fim do retão. Mas o plano caiu por terra com a boa defesa feita por Alonso. Daí nunca mais houve uma briga entre ambos, e Alonso garantiu sua posição – que, claramente, não lhe deixou feliz; a cara de Chiliquenta reprimida no pódio denunciou.

Mais atrás, Rosberg manteve-se bem à frente de Webber, que no fim de semana só fez uma coisa interessante: dedar à TV de seu país que a Red Bull já fechou com Ricciardo. “É bom para ele e bom para a Austrália”, comentou. Com sua última metade de temporada, Mark deve ser aquela tia velha que sai contando todas as fofocas. Se chegar nele, é bem capaz que diga sobre o amigo Alonso, Räikkönen, Massa e tudo mais. É o Canguru Cagueta.

Button terminou em sexto na melhor aparição da McLaren no ano. A equipe e o próprio piloto já vinham dizendo que havia tido uma melhora significativa no carro, e houve até quem apostasse que poderia haver pódio da equipe. Calma. Teve até uma hora que o pessoal do rádio chegou e perguntou: “Jenson, o sr. gostaria do pneu duro ou do médio?”, e Button respondeu sei-lá-o-quê, dane-se, já que o que impressionou foi a forma garbosa com que se falou com o piloto-lorde. “Sr. Jenon, o sr. deseja um café curto?”, quase se ouviu depois. “Mr. Jenson, o sr. tem ideia do que o sr. Webber fez com sua senhoura, Mademoiselle Jessica? Fique de olho, Mr. Jenson”. E é impossível que a McLaren não exerça os direitos de opção sobre este fino senhor.

Massa ficou em sétimo, e enquanto a TV chutava que seu Kers não acendia no volante, que não funcionava, que não usava Duracell, que não sei o quê, logo veio Felipe dizer que seu grande problema foi a largada – onde caiu de décimo para 12º. É muita papagaiada pacheca. O resultado é ruim, novamente, para o que Massa quer da vida, e se for com o que diz o ‘The Guardian’, é só Monza e nada mais. A corda está no pescoço.

Grosjean foi o oitavo depois de estrear o ‘pi’ via rádio para tapar um palavrão dito quando foi espremido por Pérez. Aliás, estamos sem manchetes, né? Grosjean e Pérez foram investigados pelos comissários, ainda que tivesse sido mais uma imbecilidade do zelo pueril criado pela FIA. Sergio foi punido por achacar o pobre Pica-Pau de Polainas. E o outro loucão, Maldonado, tomou 10 segundos depois de acertar de leve uma Force India, a de Sutil, e, no segundo seguinte, destruir a de Di Resta. E ainda tem quem invente que Pastor esteja bem cotado na Ferrari, deus meu…

Sutil, que fez duas lindas ultrapassagens sobre Gutiérrez na entrada da Eau Rouge, foi o nono, à frente de Ricciardo, que mereceu um pontinho com a evoluída Toro Rosso. Foi bom para Daniel terminar à frente de Vergne, que vinha melhor que o australiano no fim de semana. É porque Jean-Éric, depois que soube que não tinha mais chances de pegar a vaga de Webber, passou a ser meio despeitado e linguarudo. Invejosa. E Kimi desistiu com problema no freio. Fim da sequência de 38 corridas sem abandonar e das 27 pontuando. Não tava muito aí pros números. Nunca tá aí pra nada.

Com isso, Alonso voltou a ser vice-líder, longos 46 pontos atrás de Vettel. Na próxima prova em Monza, é até provável que esta distância diminua porque é o tipo de circuito em que a Red Bull não se dá bem, e a Ferrari vai estar em casa. Vão ali falar em esperança, em algum sopro no campeonato e tal, mas não se iludam.

Já basta a ilusão que tivemos de ontem para hoje e que, pela ausência da chuva, frustrou quem esperava uma prova minimamente emocionante.