Blog do Victor Martins
A várzea de rodas

A várzea de rodas, 14

SÃO PAULO | Cá estou, acompanhando pela TV, algumas agruras que estão acontecendo, principalmente na Stock Car e o circuito de Brasília que é absolutamente inútil para qualquer prática de automobilismo, tirando o rali, e quem quiser entender melhor vai lá no Grande Prêmio. “Ah, você vai bater na Stock Car, que ela tem a […]

SÃO PAULO | Cá estou, acompanhando pela TV, algumas agruras que estão acontecendo, principalmente na Stock Car e o circuito de Brasília que é absolutamente inútil para qualquer prática de automobilismo, tirando o rali, e quem quiser entender melhor vai lá no Grande Prêmio. “Ah, você vai bater na Stock Car, que ela tem a ver com isso?” Tem, tem e muito. Tem porque uma categoria que bate no peito, estufada e linda como se acha, a melhor do Brasil, da América Latina, quiçá do universo que considera os asteroides e corpos celestiais que passam raspando em nosso planeta, tem fiscais, diretores e aspones muito bem contratados e suficientemente inteligentes para analisar e entender que não há absolutamente nenhuma condição de se correr ali. Que se chegasse ali depois das reformas, porcas e ridículas, e se averiguasse, com um mínimo treino, e verificasse que há um bueiro que se solta, que o cimento se desfaz, que a pista é um pasto e um canteiro de terra vermelha, linda, própria para o plantio.

Qual é o problema dessa gente que comanda a Stock Car de tomar uma decisão de cancelar a etapa, antes ou mesmo durante o fim de semana? Um papo entre nós, que ninguém nos leia: o campeonato aí até agora não arrumou um patrocinador principal depois que a Caixa e o Dudu, que preferiu ler, saíram. Eram 16 milhões de dilmas num período de três anos. Dias antes do começo da temporada, a empresa que oferecesse até um 1/3 ou 1/4 disso, levava. Nem isso conseguiu. Claro: TV fechada em sua maioria e esse subtratamento que ela mesma se dá explicam a ausência de interesse das grandes marcas deste mundo brasilis.

Mas vamos ao patamar acima, a CBA. O que cazzo faz essa entidade? Que cazzo faz esse presidente Cleyton Pinteiro? Eu sinceramente não sei. Alguém que vive o automobilismo brasileiro sabe me apontar uma benfeitoria que este senhor trouxe nos últimos quatro anos para ser comandante do esporte nacional? Será que ele sabe que houve uma reforma em Brasília? Será que ele sabe que aconteceu isso, uma destruição da área de escape das curvas 1 e 4 que impediam que os carros corressem apropriadamente sem que sugassem uma tampa enferrujada de boca-de-lobo ou que esfacelassem a parte acimentada? O que Pinteiro sabe de automobilismo? Ele sabe algo?

Então é assim: o governo libera uma verba para reformas suínas, e aí chamam uma empresa que não entende do negócio, e se aceita, assim, do mesmo jeito que fizeram a porcaria da reforma da chicane ali no Café em Interlagos com a pachorra de conseguir errar a zebra. E por que a federação do DF não faz nada? Ah, segundo ouvi aqui e ali, a federação do DF foi desfiliada. “Como assim?” É, desfiliada. Se a entidade local tivesse algum comando sobre isso, provavelmente não teve. A entidade de Napoleão Augusto Ribeiro e Dione Rodrigues de Souza estava sob suspeita por uma “eleição totalmente irregular”.

O negócio é sujo demais. É vergonhoso, não evolui, nem mesmo fica no patamar de descaso e descalabro. É um poço, lameado, descuidado, que também envolve o não autódromo novo do Rio de Janeiro, que por lei deveria sair enquanto Jacarepaguá fosse varrido do mapa, mas Pinteiro, a federação do Rio, a vida, só acompanham pelo noticiário, porque é lindo que esteja no noticiário, o noticiário é lindo, viva o noticiário, e porque nada podem fazer se o terreno tem campo minado e bombas e explosivos e mata protegida pela mesma lei, mas o noticiário ajuda.

Todos estes picas que não fazem pica nenhuma são responsáveis pela morte absoluta de um automobilismo, e os que antes se reuniram e bateram no peito para formar comissões e grupelhos e hoje nada fazem são igualmente coniventes pela precariedade da qual fazem parte. De longe, Felipe Massa se faz uma voz, depois que viu sua categoria morrer num país sem categoria: “Olha a reforma feita pelo autódromo de Brasília! Vergonha! Isso mostra o quanto temos de melhorar o automobilismo no Brasil. Viu, governo do Distrito Federal? Viu, CBA?”

A CBA não viu e nunca vê. É cega, surda, muda, deficiente, e cínica, torpe, néscia e revestida. Morta com seu aparelhamento — que não é barato — devidamente ligado.