Blog do Victor Martins
F1

Bar, hein, 2

SÃO PAULO | Tenho notado que aqui e ali há um zica do pântano sempre atrapalhando os prognósticos. Na semana passada na China, Hamilton era favorito e Alonso desmantelou tudo em três voltas; agora, o espanhol é quem parecia com as maiores chances de vitória e, oh!, a engasopada do DRS tirou o combalido piloto […]


SÃO PAULO
| Tenho notado que aqui e ali há um zica do pântano sempre atrapalhando os prognósticos. Na semana passada na China, Hamilton era favorito e Alonso desmantelou tudo em três voltas; agora, o espanhol é quem parecia com as maiores chances de vitória e, oh!, a engasopada do DRS tirou o combalido piloto da disputa, relegando-o ao oitavo posto. E se Massa, na sua tática-coringa parecia ter boas chances, pfff!, ma che fiasco!…

Aos fatos: Rosberg começou a corrida dando claros sinais de que a Mercedes é meramente um dragster: um carro de tiro rápido. Ou, numa comparação mais humana, é um Usain Bolt: quase imbatível nos 100m e inútil numa maratona. Impôs-se em um primeiro momento quando Vettel tentou, mas no segundo, não havia o que fazer. A boiada prata deixou passar Alonso, Di Resta, Massa, e assim foi, e todo momento que a TV registrava Rosberg, lá estava ele tomando ultrapassagem pela direita, pela esquerda, por cima, embaixo, puxa e vai. Apanhou de todo mundo. Quase uma putinha, o camarada que foi pole e terminou em nono. E Ross Brawn lá, com aquela cara de sabão de pedra. Tá lôco.

Uma vez livre de Nico, Sebastian navegou por mares calmos no deserto do Bahrein. Porque Alonso demorou um tempo ainda para se livrar de Rosberg, denotando ali que não tinha lá o melhor dos carros como imaginado e sendo sufocado por Di Resta, que parece ter acordado depois da sova que levou de Sutil no começo do ano. Mais atrás, Massa acompanhava o embalo com seus pneus laranjas mesmo com uma avaria por um leve toque com o próprio Adrian, que viu ali sua corrida na prática acabar com um furo no pneu. Mais atrás vinham Webber, Hamilton, Button & Pérez e Grosjean.

Os ponteiros pararam, e Massa deveria seguir por um tempo mais para fazer valer sua tática. Mas logo a Ferrari chamou o brasileiro para colocar mais pneus duros, e ali suscitava a dúvida do que estava pensando a equipe italiana. “Ah, mas esperava o quê? Começaram a sacanaear”. “Achava que fariam algo bom para Felipe?”. Claro, como imaginar que a Ferrari fosse fazer algo bom para Massa, que foi aos boxes tanto quanto a gente vai ao banheiro depois que bebe litros de cerveja, com dois furos nos pneus e a evidente constatação de que seus pneus desgastam mais que os dos outros – isto é: Felipe não sabe tratar dos pneus, e não é de hoje que o piloto tem problemas com gomas. Enquanto Lotus e Force India, por exemplo, rodaram à beça até mesmo com os médios, os macios da vez, o 15º lugar explica que Massa não compreendeu ainda como é que deve ser o uso e consumo dos Pirelli. Não à toa que começa tanto bem as provas e cai consideravelmente. “Mas esperar o que da Ferrari e…?” OK, cale-se. A Ferrari coloca um dechavador de borracha assim que promove as trocas. Tá bom assim?

Massa também teve má sorte, é bem verdade. Aliás, se procurar o Aurélio digital hoje, tá lá: s.m., sinal de malogro, azar; sinônimos: zica, ziquizira, catiça. Felipe conseguiu chegar dois lugares atrás de Sutil. Pior corrida desde a volta das férias do ano passado. A pausa é bem vinda para uma análise no QG em Maranello. Profunda.

Vettel sumia no mundo e Di Resta vinha em segundo, mas desde o começo preocupado com o ritmo de Räikkönen, que nas trocas e destrocas vinha se aproximando. Kimi tomou seu lugar no meio da corrida e, de repente, eis que Grosjean, que outrora brigava ali no meio do pelotão com Webber Duzentão, Hamimimilton, Ligeirinho Nervioso e Lord Bytton, apareceu em quarto, crescendo, crescendo e crescendo, e já era para a Force India a chance de chegar ao pódio. Que foi igualzinho ao do ano passado, e logo há de alguém aparecer com a linda estatosca de “qual foi a última vez que um GP teve pódios iguais consecutivos”. O que vale é que, se os indianos esperavam uma prova normal para ver seu desempenho, mostraram que, sim, são fortes para andar ali na frente. Ainda falta um passinho para ser grande, mas o caminho é belo. Pena, mesmo, Sutil ter tido ôto pobrema.

Quanto a Romain, a troca de chassi lhe fez bem. Ao menos, um ritmo decente e próximo de Kimi.

Webber e Hamilton travaram belíssima briga até as voltas finais, e quando o australiano parecia acabar com um quinto lugar – meio fraco, se comparado ao desempenho de Vettel –, eis que seu nome apareceu em sétimo, atrás ainda de Pérez.

Pérez foi o nome do negócio. Ouviu logo depois do GP da China que estava sendo polido, educado e garboso. Daí virou a chavinha, mode “I’m crazy but you like it, lôco, lôco, lôco”, e resolveu ir brigar com quem menos esperava: Button. Emparelhou, tocou de leve na traseira, depois na roda, e aí Jenson mandou sua civilidade britânica à merda para bradar, que porra é essa?, que ele tá fazendo? manda ele sossegar o rabo, por favor, tem alguém aí? tirem a tequila dele e façam antidoping, já!, e Button terminou em décimo bufando e dizendo que Sergio foi muito agressivo. A equipe deve dizer o mesmo, e se disser para Pérez, que ele responda: “Pero que ustedes quieren de la vida, coños de mierda?”

E ele passando Alonso e jogando o cara pra fora da pista? Hahahaha, sensacional. Não é qualquer um que faz isso com La Chilica, que deve ter, claro, dado chilique. Ficou em oitavo, e Fernandito rogou praga: “Os outros também vão ter azar”, olhando para aquele aparato que não abriu mais durante a prova. Não resolveu o tapa na asa que os mecânicos deram. Tapa na asa, aliás, é meio libidinoso. E Alonso não tem do que gozar hoje.

O resto foi meramente resto, lixão. A Sauber parece que nem foi ao Bahrein. A Williams não estreou no campeonato. A Toro Rosso voltou a ser a velha Toro Rosso. E a Caterham pelo menos voltou a andar na frente da Marussia, glória, glória, aleluia. Só um abandono, o de Vergne, num GP que, posso ser traído pela memória, foi o melhor disputado em Sakhir.

Já não há mais a marca de ineditismo de 2012 com a segunda vitória de Vettel, mas a temporada segue boa. Vettel foi a 77 pontos, 10 a mais que Räikkönen e sua constância. Hamilton, com 50, passou Alonso por três pontos. E o negócio há de ficar polarizado só nisso porque Massa e Webber, pelo jeito, não vão engatar. Nos Construtores, a Red Bull lidera a Lotus, 109 a 93. Ferrari tem 77 e Mercedes, 64. A Force India tá na frente da McLaren.

A F1 tem nova pausa de duas semanas e volta a seu habitat natural, a Europa. Claro que as equipes vão abusar das novidades para Barcelona, aletas, subaletas, buracos e supernovas em escapamentos, desenhos e pinturas. O negócio, até agora, é o seguinte: para classificação, a Mercedes tem um caminho lindo e perfeito; em termos de corrida, ou é Red Bull ou Ferrari, e a Lotus há de se aproveitar das presepadas das duas. O negócio tá bom.