Blog do Victor Martins
F1

Terra dos emires, 4

SÃO PAULO | O eixo Abu Dhabi-Dubai não deve ter dormido direito esta noite com a tremenda festança regada a bebidas. Aliás, é um pecado que Raikkonen tenha vencido justamente num país árabe, em que não se comemora no pódio com a tradicional champanhe. Ao menos, ganhou, e na calada do campeonato, quando não se […]

SÃO PAULO | O eixo Abu Dhabi-Dubai não deve ter dormido direito esta noite com a tremenda festança regada a bebidas. Aliás, é um pecado que Raikkonen tenha vencido justamente num país árabe, em que não se comemora no pódio com a tradicional champanhe. Ao menos, ganhou, e na calada do campeonato, quando não se esperava que a Lotus pudesse ser a sexta equipe a triunfar no ano e Kimi, o oitavo piloto.

Raikkonen faz uma temporada memorável. É o piloto mais regular, que só deixou de pontuar na China. Não à toa aparece com relativamente larga vantagem sobre Webber e Hamilton, que têm carros bem melhores. Bem provável que não sejamos justos com Kimi numa avaliação de sua carreira e do quanto representou para a F1, sem colocá-lo como um dos grandes. É que Raikkonen é diferente, e parece que entra em outro tipo de classe de pilotos. Talvez seja hors-concours nesta.

Pois Raikkonen começou a trilhar seu caminho à vitória na largada, quando jantou Webber e Maldonado com farofa árabe. Não ganharia se não fosse a quebra de Hamilton, mas uma vez líder, não deu chance mais a ninguém. E ainda deliciou o público com a sua série de patadas via rádio. Foi o único que não foi muito incomodado a prova toda, até porque “eu sei o que tenho que fazer”.

Alonso estava com uma cara de cloaca no pódio que parecia que tinha perdido seu bicho de pelúcia. E olha que fez, mais uma vez, um corridão: passou Button na largada, jantou Webber com uma tapioca árabe na primeira volta, aproveitou-se do desgaste de Maldonado e subiu mais um posto com o abandono de Hamilton. Ainda foi tentar azucrinar Kimi no fim, mas o segundo era realmente muito mais do que poderia esperar. Nos boxes, o dois apontado com os dedos era um incentivo à Ferrari para que se esmerasse mais na luta pelo título. É o que se espera de todo mundo ali em Maranello.

Talvez nem tanto de Massa, que fez uma corrida apagada. Notem que em etapas movimentadas, Felipe desaparece um pouco. Nas últimas, em que a coisa foi de morna à fria, o brasileiro teve seus melhores momentos no ano. Em Abu, não comboiou Alonso e não foi o escudeiro que se esperava — quando seria jantado por Webber, foi duro na queda, jogou o australiano para a área de escape e se assustou ao vê-lo voltando rapidamente a seu lado, rodando. Nisso, perdeu tempo suficiente para que Vettel o superasse. Revendo várias vezes o lance, ainda vejo um vacilo de Felipe, que deveria estar pensando na morte da bezerra. Mas que Webber esqueceu de tomar o Lexotan ontem, não resta dúvida.

Vettel foi espetacular, “incrível”, como definiram a ele via rádio. “Nunca parem de acreditar”, respondeu o terceiro colocado. Ainda não me conformo como podem menosprezar esse rapaz dizendo que ele só é o que é por ter um canhão na mão e que não faria nada com a Ferrari, num puro exercício de imaginação, sem nenhuma comprovação prática. Lembrem-se: piloto não é só aquele que guia na pista; é também o que dá melhor resposta do comportamento do carro, é o que tem mais cabeça em determinada situação, é o que se prepara bem. Vettel saiu de último, passou o comboio do inferno, e… levou uma fechada de Ricciardo, quebrando um elemento da asa dianteira. Foi para os pits quando deu o primeiro safety-car — na decolagem de Rosberg com Karthikeyan —, caiu para último de novo e foi subindo, subindo, subindo, até chegar em segundo. Parou de novo, outro SC — de Pérez Ligeirinho Loco, Grosjean Ímã de Problemas e Webber —, regrediu dois postos e foi lá pra cima de Button “atormentato” pra pegar o pódio. Que mais precisa fazer pra provar seu grande talento?

Maldonado, enfim, terminou uma corrida numa posição boa, quinto, com Mito logo atrás, em prova discreta. Massa ficou em sétimo e tomando pressão de Senna, que fez ótima aparição, considerando o de sempre — largar numa posição intermediária — e o toque com Hülkenberg na primeira curva. Foi o melhor desempenho da Williams enquanto equipe no ano. Bruno, que batalha justamente pelo lugar de Hülkenberg ou um na Caterham no ano que vem, tem de fazer o seu nas últimas duas provas, ao passo que seu empresário trabalha para costurar um bom acordo para 2013.

Aliás, a Caterham colocou em seu Twitter que tem “algo grande” para anunciar nas próximas horas, levantando especulações aqui e ali até de que poderia ser algo relativo a Bruno na noite de ontem. Mas logo Mike Gascoyne postou que estava a caminho de Paris. Alguma empresa francesa? Pic? Aguardemos.

No fim das contas, Vettel minimizou ao máximo a perda e até sai com a sensação de vitória — o beijo no troféu no pódio confirmou sua satisfação. A feição de Alonso é explicável, pois, porque não esperava que a reação do rival fosse de tal forma. São 10 pontos, dá para Vettel ser campeão no Texas, mas os resultados dos dois pilotos não indicam uma definição no novo circuito de Austin. A tendência é que a decisão venha para o Brasil com uma vantagem ligeiramente cômoda para o alemão.