Blog do Victor Martins
F1

Terra do Bukit Timah, 3

SÃO PAULO | Quando surgiu a informação no Twitter de que, às 10h48 de Brasília, na preparação para o Q3 em Cingapura, a audiência da Globo indicava 3.8 no Ibope, troquei de canal para ver o que o SBT passava para estar com 9.3. Eram desenhos, e confesso não saber que desenho, coisas meio toscas […]

SÃO PAULO | Quando surgiu a informação no Twitter de que, às 10h48 de Brasília, na preparação para o Q3 em Cingapura, a audiência da Globo indicava 3.8 no Ibope, troquei de canal para ver o que o SBT passava para estar com 9.3. Eram desenhos, e confesso não saber que desenho, coisas meio toscas para mim, acostumado com Tom & Jerry, Pica-Pau e Chaves. Tinha lá um robô, uma coisa meio futurista, arminhas, bem babaca, mas tem quem goste, a molecada de hoje gosta. A molecada de hoje é meio esquisita.

Mas vá lá, eram desenhos, e numa manhã de sábado, que costuma não ser lá grande coisa em termos de audiência, o SBT batia nos 10 pontos — quase 600 mil pessoas, segundo os cálculos feitos pelo instituto em São Paulo —, e a Record beirava os 5 pontos.

Ainda quando estava na Alemanha, li o que Nano Gomes escreveu a respeito do gosto do brasileiro pelo automobilismo, cada vez mais escasso. Diria o outro que o escriba foi pontual. De forma geral, o povo está perdendo o gosto pelas corridas. Não há mais aquela paixão por carros, aquele afã pela velocidade, e se por um lado aceita-se que a patuleia foi acostumada a torcer só por um piloto igual ao seu — da mesma forma enganada quando os resultados não vinham —, estas novas gerações que pouco brincaram de pipa, pião ou carrinho de rolimã têm outras prioridades na vida antes de ver um bando de barbados andando a 300 por hora em retas e curvas mundo afora.

Temos, então, dois pontos que já se desgrudam: não é que o brasileiro não assiste só porque brasileiro não vence. Brasileiro não assiste independente de quem quer que esteja lá sentado. O automobilismo está virando artigo de raridade. E quando muitas gentes dizem que as corridas vão começar a passar em canal a cabo, por exemplo, não é de se achar o maior absurdo do mundo ou que seja uma realidade muito distante. As TVs vivem de números de audiência, e por mais que a Globo ganhe rios de dinheiro com suas cotas de patrocínio atualmente, estas empresas que bancam a farra vão logo questionar se vale a pena pagar 60 milhões de dilmas anuais para 3.8 pontos no Ibope.

Daí junta o molho dos maus tratos do automobilismo local, com esta CBA capenga e mendigante, que não faz um troço bom e decente, e voilà!, eis o palco perfeito para o abandono e o descaso. Se muitas vezes dizemos que nós estamos vivendo a História, temo em dizer que aos poucos acompanhamos a decomposição do automobilismo. Um dia, talvez, este esporte volte a ser grande por aqui.

Adendo: 27/9, às 13h: a coluna de Ricardo Feltrin, da Folha, traz os dados de como o Ibope da F1 caiu em 10 anos, 55% em números. E a conclusão a que Feltrin chega é que a galera que simplesmente via as corridas deixou de ver TV — e não migrou para outro canal. É similar ao que imaginava: que o gosto pelas corridas tem diminuído e os jovens simplesmente seguem o exemplo daqueles que desistiram.