Blog do Victor Martins
F1

Terra do Sinal de Botrange, 4

SÃO PAULO | É só dar um carro decente na mão de Button que, pronto, ele resolve. Pilotagem suprema, com uma parada só, e andando no ritmo de quem trocou pneus mais vezes. Neste campeonato oscilante, a McLaren engatou uma segunda vitória que já permite lhe colocá-la à frente das rivais nesta parte final do […]

SÃO PAULO | É só dar um carro decente na mão de Button que, pronto, ele resolve. Pilotagem suprema, com uma parada só, e andando no ritmo de quem trocou pneus mais vezes. Neste campeonato oscilante, a McLaren engatou uma segunda vitória que já permite lhe colocá-la à frente das rivais nesta parte final do campeonato. Não à toa que Alonso tem dito que seu abandono, raro, não foi tão devastador porque Hamilton também ficou no zero, vítimas de Grosjean que foram. O lorde teria de fazer milagre para alcançar a chiliquenta.

Grosjean tava pedindo, né? Camarada não consegue passar ileso uma primeira volta em 50% das vezes: exatamente em seis das 12 provas do ano aprontou alguma. Esta de Spa, pelamor: jogou o carro pra cima de Hamilton, que já não tava com a cabeça boa. Primeiro, a tia morreu quando ele estava viajando para a Bélgica. Depois, putito por ter tomado uma naba de Button, resolveu divulgar no Twitter os dados de telemetria da McLaren. Quase que Whitmarsh e cia. o suspendem sem precisar dos comissários da FIA.

Bom, aí Grosjean completa o strike levando Alonso e Pérez. Pobre Monisha Kaltenborn nos pits da Sauber, que levou as mãos aos céus e pediu shanti ashtangi ao ver o carro de Kobayashi também ser atingido. Mito voltou com o carro em cacareco, mas nada pôde fazer. Mas entre nós: vai largar mal assim lá em Fuji, fio.

Depois, Hamilton ameaçou dar uns catiripapos em Grosjean, enquanto Alonso se retorcia de dor e tomava na cara fumaça de extintor. O pastelão tinha de ter Maldonado ali no meio, que queimou a largada e foi tocado, voltou, estranhou-se com Glock e abandonou, o que lhe rendeu mais duas punições. Maldonado tem mais castigos que a classe inteira da escola de Carrossel.

Então sem o segundo, o quarto, o quinto, o sexto e o sétimo no grid, o único adversário real que Button tinha era Raikkonen, apontado como o mais perigoso pelo seu retrospecto na pista belga. Mas ao virar presa de Hülkenberg na relargada da corrida, Kimi logo mostrou que não tinha carro à altura.

A corrida de segundo pra cima foi bem agitada, com o grupo de Hülk e Raikkonen completado por um empolgado Schumacher, as duas Toro Rosso fazendo bonito com Ricciardo e Vergne, Di Resta caindo pelas tabelas sem poder usar o KERS, Massa, as Red Bull, que brigaram entre si — com vantagem para Vettel —, e Senna. Foi a vontade de escalar o grid que fez Seb ir passando todo mundo e parar na hora certa para chegar à segunda colocação. Kimi teve de resmungar, de novo, com um terceiro posto.

Massa ficou em quinto num bom ritmo de corrida do meio para o fim. Mas que ninguém se engane: não iria além de um nono se o curso normal da prova tivesse seguido. O resultado é importante, dá força, é quase um biotônico Fontoura, mas é preciso relativizá-lo. O que chamou mais atenção foi a declaração dele depois de que, se oferecessem a ele o quinto lugar, “eu assinaria na hora”. Ali, como bem disse o curvado Thiago Arantes em seu blog, foi um atestado de coadjuvante. Ele passa a dar razão ao jornalista sem recurso que pergunta: “Você quer/espera vencer?”, “Não, hoje tô bem a fim de chegar em quinto”, coisa que Piquet fazia, à Piquet. Tem quem ache que seria impossível Felipe dizer que ganharia saindo em 14º. OK.

E Senna, que vinha até num ritmo aceitável, foi tragado por conta da tática da Williams de uma parada só. Esse esquema só deu certo para a McLaren; a Mercedes, assim que viu que não conseguiria muita coisa para Schumacher, teve de chamá-lo de volta. Uma corrida que parecia plenamente pontuável ao brasileiro deixou-lhe em 11º.

No geral, o estrago para Alonso foi razoável em relação a Vettel e nenhum para Hamilton, que, sim, parece ser a maior ameaça ao espanhol por conta do rápido carro que a McLaren apresenta. Mas a Red Bull parece ser melhor de corrida que a Ferrari, e Sebastian pode ir tirando aos poucos a diferença de 24 pontos. Button está longe, coitado, e precisaria engatar uma sequência de umas quatro vitórias para se aproximar. Sabendo que é impossível, o que resta é acompanhar aquele que vai se transformar no grande coringa do Mundial.